Dez vezes em que Bolsonaro mentiu sobre a Covid-19
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Dez vezes em que Bolsonaro mentiu sobre a Covid-19
Desde o primeiro caso confirmado da Covid-19 no Brasil, no dia 26 de fevereiro, o presidente da República Jair Bolsonaro já disse que a doença se tratava de uma “gripezinha” e “resfriadinho”.
A declaração não é apenas exagero. É mentirosa. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a pandemia do novo coronavírus já matou mais de 30 mil pessoas em inúmeros países.
A infecção nem de longe se reduz a uma gripe simples, de tratamento fácil e recuperação tranquila. Como assegurou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ela pode levar ao colapso da rede pública e privada de hospitais.
Mas houve outras mentiras ou distorções de fatos relacionados à patologia, que já deixou mais de 200 mortos no país.
Neste 1º de abril, apontei ao menos dez vezes em que Bolsonaro falseou informações, deliberadamente ou não.
Dia da Mentira
1. O presidente afirmou ontem, durante pronunciamento, que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, aconselhou a volta ao trabalho: não é verdade. Em discurso, o diretor da entidade reconheceu a dificuldade de segmentos economicamente vulneráveis da população em meio à crise, mas reforçou o isolamento social como medida protetiva.
2. Pelas redes sociais, o presidente divulgou nesta quarta-feira, 1º, vídeo que mostra um centro de abastecimento em Belo Horizonte vazio, enquanto um homem critica os governadores, responsabilizando-os pela falta de alimentos: também mentira. O equipamento está cheio, e o vídeo foi feito no fim de semana, depois do expediente.
3. Em pronunciamento há cerca de duas semanas, o presidente comparou a Covid-9 a uma gripezinha: mentira. O próprio Ministério da Saúde já reconheceu que a doença pode levar ao colapso da rede hospitalar. Em todo o mundo, há mais de 30 mil mortos pela pandemia.
4. O presidente também informou publicamente que os gestores estaduais e municipais já haviam recuado da quarentena, num sinal de que reconheciam as perdas econômicas: mentira. Os governadores, mesmo os aliados de Bolsonaro, renovaram os decretos de isolamento.
5. Bolsonaro negou que tivesse participado de protesto no dia 15/3, quando já havia a recomendação de isolamento social para evitar o contágio por coronavírus: mentira. O chefe de Estado não apenas participou, como também convocou a manifestação pelas redes e grupos de Whatsapp.
6. Sobre o mesmo assunto, o presidente assegurou que não havia distribuído vídeo convocando os atos anti-Congresso daquele domingo (15/3): mentira. O presidente compartilhou o material, como provou o jornal “Estado de S. Paulo”.
7. No meio da crise por Covid-19, o chefe do Executivo assegurou que tinha provas de que o segundo turno das eleições de 2018 foi fraudado e que ele havia vencido ainda no primeiro turno: mentira. O presidente não tem provas.
8. Em pronunciamento à nação, o presidente garantiu que havia cura para a infecção: a mentira. O medicamento citado, a cloroquina, ainda está sob análise. Não há estudos científicos publicados que comprovem a sua eficácia.
9. Bolsonaro relatou em pronunciamento ontem que sempre esteve preocupado com o resgate de brasileiros que estavam na China: mentira. Em 31 de janeiro, o presidente declarou: “Se não estiver tudo redondinho no Brasil, não vamos buscar ninguém. Se depender do presidente, não vamos buscar ninguém”. A postura só mudou quando um grupo de brasileiros fez apelo ao presidente por vídeo e mensagem. Dias depois, foram trazidos de volta ao país.
10. Bolsonaro diz recorrentemente que a imprensa espalha “pânico” sobre a Covid-19: mentira. Os meios de comunicação informam sobre a gravidade da doença e formas de prevenção.
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