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O "dia do fico" de Henrique Mandetta e a briga com Bolsonaro
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

O "dia do fico" de Henrique Mandetta e a briga com Bolsonaro

Em coletiva de imprensa, o ministro recomendou não dar atenção ao barulho, que considera secundário na batalha contra um inimigo com nome e sobrenome. Referia-se à Covid-19
Tipo Análise
Presidente Jair Bolsonaro e o agora ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (Foto: Isac Nóbrega/PR/Agência Brasil)
Foto: Isac Nóbrega/PR/Agência Brasil Presidente Jair Bolsonaro e o agora ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta

Ministro da Saúde e principal autoridade do País no combate ao novo coronavírus, Henrique Mandetta disse que fica no cargo, ao menos por ora.

Em coletiva de imprensa, e sem citar Jair Bolsonaro uma única vez, o ministro recomendou não dar atenção ao barulho, que considera secundário na batalha contra um inimigo com nome e sobrenome. Referia-se à Covid-19.

Mandetta então assegurou: “Nós vamos continuar. Médico não abandona paciente”.

Mais cedo, sua demissão havia sido dada como certa por parte da imprensa, segundo a qual Bolsonaro se resolvera finalmente a demitir o titular da pasta porque discordava da condução das ações de enfrentamento à infecção.

O presidente, no entanto, teria sido dissuadido pela ala militar do Planalto. Após mais de duas horas de reunião com seus auxiliares, Bolsonaro saiu sem falar com jornalistas.

Mandetta dirigiu-se à coletiva, onde foi aplaudido por servidores do MS. Lá, emitiu inúmeros recados políticos. Entre eles, o de que todos que o acompanham no MS só sairão juntos.

Recebeu também o apoio de entidades médicas e de deputados federais da Frente Parlamentar da Saúde para que siga à frente do posto.

E, perto do fim, lembrou de uma leitura que tinha feito no fim de semana: “O mito da caverna”, alegoria de Platão que contrasta conhecimento e ignorância ao encenar personagens que vivem aprisionados, sem acesso à luz direta do sol e à realidade.

Era um dos recados do ministro ao clã Bolsonaro e seus aliados diretos, que o escolheram como alvo de fritura.

Nessa queda de braço com um presidente da República que se nega a agir com bom-senso em meio a uma pandemia e acatar normas mínimas de segurança e protocolos internacionais, Mandetta sai fortalecido.

Não é indemissível, mas sua exoneração, a cada dia que passa, custará ainda mais a Bolsonaro, cuja caneta, como ele mesmo gosta de lembrar, pode muito, mas não pode tudo.

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