O "dia do fico" de Henrique Mandetta e a briga com Bolsonaro
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
O "dia do fico" de Henrique Mandetta e a briga com Bolsonaro
Em coletiva de imprensa, o ministro recomendou não dar atenção ao barulho, que considera secundário na batalha contra um inimigo com nome e sobrenome. Referia-se à Covid-19
Em coletiva de imprensa, e sem citar Jair Bolsonaro uma única vez, o ministro recomendou não dar atenção ao barulho, que considera secundário na batalha contra um inimigo com nome e sobrenome. Referia-se à Covid-19.
Mandetta então assegurou: “Nós vamos continuar. Médico não abandona paciente”.
Mais cedo, sua demissão havia sido dada como certa por parte da imprensa, segundo a qual Bolsonaro se resolvera finalmente a demitir o titular da pasta porque discordava da condução das ações de enfrentamento à infecção.
O presidente, no entanto, teria sido dissuadido pela ala militar do Planalto. Após mais de duas horas de reunião com seus auxiliares, Bolsonaro saiu sem falar com jornalistas.
Mandetta dirigiu-se à coletiva, onde foi aplaudido por servidores do MS. Lá, emitiu inúmeros recados políticos. Entre eles, o de que todos que o acompanham no MS só sairão juntos.
Recebeu também o apoio de entidades médicas e de deputados federais da Frente Parlamentar da Saúde para que siga à frente do posto.
E, perto do fim, lembrou de uma leitura que tinha feito no fim de semana: “O mito da caverna”, alegoria de Platão que contrasta conhecimento e ignorância ao encenar personagens que vivem aprisionados, sem acesso à luz direta do sol e à realidade.
Era um dos recados do ministro ao clã Bolsonaro e seus aliados diretos, que o escolheram como alvo de fritura.
Nessa queda de braço com um presidente da República que se nega a agir com bom-senso em meio a uma pandemia e acatar normas mínimas de segurança e protocolos internacionais, Mandetta sai fortalecido.
Não é indemissível, mas sua exoneração, a cada dia que passa, custará ainda mais a Bolsonaro, cuja caneta, como ele mesmo gosta de lembrar, pode muito, mas não pode tudo.
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