Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
A se confirmarem as informações previamente divulgadas sobre a gravação da reunião ministerial do dia 22 de abril, a agenda não se tratou de mero encontro de chefes de pasta, mas de um complô contra as instituições no qual o presidente da República, autoridade máxima do país, teve papel destacado.
Já se sabe desde há muito que Jair Bolsonaro tem notável apetite quando o assunto é a gula dos próprios filhos, a quem, se pudesse, daria filé mignon, sim, e daí?
Ora, o vídeo, exibido ontem a uma audiência restrita, parece demonstrar que o presidente está disposto a oferecer bem mais do que um pedaço de carne para engordar a prole.
Para os de casa e os da família, Bolsonaro quer nacos importantes da máquina pública, como o comando da Polícia Federal, a fim de embaraçar investigações e salvaguardar sabe-se lá o quê.
E isso, se está no vídeo exatamente como garantiram que está, enseja mais que uma reprimenda pública ou notas desenxabidas dos poderes Legislativo e Judiciário.
É caso de afastamento imediato, apresentado pela Procuradoria-Geral da República e processado na Câmara dos Deputados.
A dúvida, então, é se a íntegra da mídia confirmará o teor das denúncias. Em hipótese positiva, não há que se discutir. Bolsonaro comete crime ao interferir na gestão da PF, de modo a beneficiar-se e aos seus, expediente em total desacordo com a lisura e a ética públicas.
Mas, não havendo amparo no vídeo às acusações do agora ex-ministro Sergio Moro, o presidente ganha sobrevida para atravessar a tempestade perfeita que se formou no horizonte e quem sabe chegar robustecido até 2022.
Ao jogar contra Bolsonaro, o ex-juiz da Lava Jato apostou suas fichas numa única peça: o vídeo. É uma partida de um lance só. Os contendores estão agora frente a frente, à espera do próximo passo, cujo desenlace depende de uma segunda dupla de personagens: Augusto Aras, o PGR, e Celso de Mello, o relator na Corte.
Decano do Supremo, Mello abriu prazo de 48 horas para que as partes se manifestem sobre o levantamento do sigilo, total ou parcial.
Apenas depois disso será possível dizer como a reunião de 22 de abril será lembrada no futuro: se tão somente como um momento em que ministros trocaram pedidos de prisão de governadores e membros da Corte, numa sucessão de constrangimentos.
Ou se como o dia que o presidente produziu provas em série contra si mesmo, aplicando o que talvez seja apropriado chamar de “autogolpe”.
Assista a análise de Guálter George:
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