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Bolsonaro e a demissão de Teich: o pior ainda está por vir
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Bolsonaro e a demissão de Teich: o pior ainda está por vir

Tipo Análise
HÁ MENOS DE um mês, Teich assumia cargo de ministro do Governo Bolsonaro após saída de Mandetta  (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil HÁ MENOS DE um mês, Teich assumia cargo de ministro do Governo Bolsonaro após saída de Mandetta

A bem da verdade, Nelson Teich já assumiu o cargo com toda a pinta de ex-ministro da Saúde.

Sem qualquer traquejo político, e uma trajetória profissional bem-sucedida na iniciativa privada, talvez lhe passasse pela cabeça que poderia ser o “Paulo Guedes da Saúde”. Mal sabia o que o aguardava num momento em que até o Posto Ipiranga ficou sem combustível.

Ou, se sabia, resolveu pagar para ver. E pagou. Saiu do cargo como entrou: sem deixar marcas.

Um dos momentos mais constrangedores nesses 500 dias de gestão Bolsonaro foi vê-lo informar-se ao vivo, com jornalistas, sobre a inclusão de novas atividades no rol de essenciais via decreto presidencial.

A expressão de incredulidade e apatia fisgada no ar pela transmissão ao vivo das TVs deu a justa medida da nossa encalacrada: o ministro estava perdido. E só.

Naquele instante, Teich deveria ter-se erguido da cadeira, passado na sala do chefe e pedido o chapéu. Mas resolveu continuar. Apenas para se tornar alvo da artilharia de Bolsonaro, agora na quinta-feira, durante a “live” semanal.

O sucessor de Luiz Henrique Mandetta era natimorto e sua demissão, favas contadas. Não é isso que interessa. É o que vem a partir de agora, que, contrariamente ao que prometia o palhaço-candidato durante a campanha, sempre pode piorar.

Bolsonaro já deu mostra de que “100% de alinhamento”, conforme prometido por Teich, não é suficiente. É preciso mais.

Mas mais o quê?, há de se perguntar o leitor.

E é aqui que começam os problemas. A saída do ministro da Saúde foi a senha para a guerra que o chefe do Executivo abriu contra os governadores.

A cloroquina é apenas munição. É parte da estratégia.

Afinal, se há remédio (mesmo ineficaz) contra a doença, não há motivo para isolamento.

Sem isolamento, todos podemos voltar ao trabalho, ainda que ao custo de alguns milhares de mortos, e daí?

Essa é a lógica. O presidente não está preocupado com o CPF, mas com o CNPJ das empresas.

Prometido para este sábado, o pronunciamento do chefe da nação em cadeia nacional tem tudo para elevar ainda mais a temperatura política, radicalizando no confronto contra os gestores estaduais e municipais ao forçar uma flexibilização das medidas de restrição.

É para isso Bolsonaro precisa de um ministro. Para transformar os seus desvarios em política de estado.

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