Heitor Freire entregou ao STF documentos sobre a rede bolsonarista no Ceará
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Heitor Freire entregou ao STF documentos sobre a rede bolsonarista no Ceará
O deputado federal Heitor Freire (PSL-CE), que depôs ao Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fake news, também entregou conteúdo material sobre o funcionamento da associação criminosa, segundo a classificou o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso na Corte.
O deputado admitiu ter contribuído com as investigações “para identificação de perfis, apresentando depoimento e documentos relacionados principalmente ao Ceará”. Ele não esclareceu quais provas teria apresentado e a quem se referem. As declarações foram feitas nas redes sociais nesta quinta-feira.
No depoimento, tomado em juízo como parte do inquérito, Freire cita a existência de ramificações dessa organização em alguns estados do país. Ele não menciona o Ceará, onde preside o PSL, ex-partido de Jair Bolsonaro.
A apuração conduzida no âmbito do STF identificou 11 perfis responsáveis pela disseminação de mentiras e ataques a ministros, além de empresários que os financiam.
Em ação executada na última quarta-feira, Moraes determinou quebra de sigilo bancário e fiscal de parte dos envolvidos e bloqueou acesso deles a contas nas plataformas usadas para propagar os supostos ataques.
O parlamentar cearense foi um dos três deputados ouvidos pelo Supremo – os demais foram Alexandre Frota e Joice Hasselmann, ambos ex-bolsonaristas.
Heitor Freire ressalva, porém, que, embora tenha ajudado no procedimento de investigação, jamais apontou o presidente Jair Bolsonaro, “empresários ou perfis comerciais sérios” como suspeitos. O pesselista atribui a acusação às “fake news” envolvendo o seu nome.
Em seu depoimento, o deputado do PSL detalhou o esquema apontado como o motor por trás da rede de disseminação de ofensas contra magistrados.
No despacho, Moraes chama esse grupo de “gabinete do ódio”, termo repetido por Freire.
Abaixo, o trecho do depoimento de Heitor Freire ao Supremo.
Deputado Heitor Freire (fls. 5848-5850):
É do conhecimento do depoente que Matheus Sales, Mateus Matos Diniz e Tercio Arnaud Tomaz, todos assessores especiais da Presidência da República, são os integrantes principais do chamado “Gabinete do Ódio”, que se especializou em produzir e distribuir Fake News contra diversas autoridades, personalidades e até integrantes do Supremo Tribunal Federal. Esse “gabinete” coordena nacional e regionalmente a propagação dessas mensagens falsas ou agressivas, contando para isso com a atuação interligada de uma grande quantidade de páginas nas redes sociais, que replicam quase instantaneamente as mensagens de interesse do “gabinete”. Essa organização conta com vários colaboradores nos diferentes Estados, a grande maioria sendo assessores de parlamentares federais e estaduais.
(...)
Esses assessores parlamentares administram diversas páginas nas redes sociais, incluindo grupos de Whatsapp, e por meio dessas páginas divulgam postagens ofensivas, quase sempre orientados pelo aludido grupo de assessores da Presidência.
(...)
Dentre esses ataques coordenados, o depoente salienta a postagem quase simultânea em diversas páginas do Facebook de um vídeo ofensivo ao Supremo Tribunal Federal, comparando-o a uma hiena que deveria ser fustigada por leões.
(...)
Esse esquema é repetido em diversos outros Estados, podendo o depoente referir-se expressamente a Paraíba, Bahia, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul. Possivelmente essas filiais existam em todos os estados.
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