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Carlo Ancelotti e futebol brasileiro sempre estiveram lado a lado
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Integrante do Grupo O POVO há 5 anos, com passagem pela redação do Esportes O POVO e atualmente como repórter setorista do Ceará Sporting Club. Nesta coluna se volta à paixão pelo futebol europeu, ampliando o espectro do já estabelecido Clássico-Rei local.

Carlo Ancelotti e futebol brasileiro sempre estiveram lado a lado

Novo técnico da seleção brasileira, o italiano viveu histórias, venceu e potencializou brasileiros ao decorrer da sua jornada
Carlo Ancelotti e jogadores brasileiros: tudo a ver (Foto: LLUIS GENE / AFP)
Foto: LLUIS GENE / AFP Carlo Ancelotti e jogadores brasileiros: tudo a ver

Don Carlo Ancelotti é o novo treinador da seleção brasileira. A notícia foi confirmada por Ednaldo Rodrigues, então presidente da CBF, e pelo próprio italiano em coletiva de imprensa pré-jogo entre Real Madrid e Mallorca. Uma escolha nada comum para os técnicos europeus que têm mercado em grandes clubes das principais ligas. Mas é algo que não surpreende tanto se observarmos a ligação que Ancelotti teve em toda a sua carreira com o Brasil e os brasileiros.

Carlo tem uma história com o Brasil desde a sua época como jogador. Num período em que o futebol italiano tinha o limite de apenas três estrangeiros por equipe, a Roma, do volante Ancelotti, apostou na contratação de Paulo Roberto Falcão, ídolo do Internacional. Na Lupa, Falcão fez uma grande amizade com Carlo, e os dois conquistaram o Scudetto na temporada 1982/83, sendo um dos três títulos da liga nacional que a Roma tem em sua história.

Após a saída de Falcão da Roma, Ancelotti se transferiu para o Milan alguns anos depois e se aposentou na temporada 1991/92, aos 33 anos. E é neste momento de sua história que a seleção brasileira aparece pela primeira vez, realizando um jogo amistoso contra os Rossoneri para a despedida de Carlo dos gramados. O time de Carlos Alberto Parreira venceu por 1 a 0, com gol de Careca, no estádio Giuseppe Meazza.

O Brasil foi escalado no 4-4-2 com: Taffarel; Jorginho, Mozer, Aldair e Branco; Mauro Silva, Dunga, Valdo e Luís Henrique; Valdeir (Careca) e Bebeto. Seis titulares do tetra. O Milan, de Fabio Capello, jogou no 4-4-2 com: Antonioli; Tassotti, Costacurta, Bares e, Maldini; Ancelotti (Aldo Serena), Rijkaard (Cornacchini), Fuser e Gullit (Donadoni); Van Basten (Massaro) e Simone.

Apesar do momento festivo, o próximo encontro entre a seleção brasileira e Ancelotti não foi nada feliz para ele e para os italianos. Na sua primeira experiência em comissão técnica, Carleto era auxiliar de Arrigo Sacchi, treinador da Itália, e esteve na final da Copa de 1994, no tetra vencido pelo Brasil.

Indo para a carreira como treinador de fato, Carlo começou no Reggiana, clube de sua cidade natal, e, posteriormente, teve a oportunidade de comandar o Parma de Buffon, Crespo, Chiesa, Thuram e Amaralzinho — sim, o ex-volante de Palmeiras e Corinthians — e depois rumou para a também estrelada Juventus, com Davids, Del Piero, Zidane e Conte.

Mas foi após sua saída da Vecchia Signora que Ancelotti se tornou um treinador campeão de fato. Carlo assinou com o Milan, formando um time repleto de brasileiros e, no segundo ano, conquistou a sua primeira Champions League; na época, era o quarto profissional na história a ter vencido o torneio europeu como atleta e treinador. Depois, levantou o Scudetto italiano da temporada 2003/04 e venceu mais uma vez a UCL em 2006/07.

Ancelotti formou uma era em oito anos no Milan. O clube italiano ficou conhecido como o "Milan dei Brasiliane", nome em alusão ao início dos anos 90, quando Gullit, Van Basten e Rijkaard fizeram o "Milan dos Holandeses". Passaram pelo comando de Don Carlo e se tornaram ídolos os brasileiros: Cafu, Dida, Kaká, Serginho, Leonardo, Ronaldo, Emerson, Ronaldinho Gaúcho e Alexandre Pato. Rivaldo, Ricardo Oliveira e Digão — irmão de Kaká — também passaram pelo Rossoneri, mas sem brilho.

Após problemas financeiros, o Milan começou um processo de desestruturação e perdeu Ancelotti no comando técnico. Após a saída, Carlo rodou o mundo como treinador, acumulando títulos: pelo Chelsea (venceu a Premier League e a Copa da Inglaterra), PSG (iniciou o projeto milionário e conquistou a Ligue 1), sua primeira passagem pelo Real Madrid (ganhou a Copa del Rey e mais uma Champions), o Bayern de Munique (campeão da Bundesliga), Napoli e Everton — estes dois foram os únicos clubes em que Ancelotti não levantou taças.

Nessa jornada, Ancelotti conviveu e potencializou vários brasileiros. O volante Ramires no Chelsea; Nenê, que teve sua melhor temporada na carreira pelo PSG de Carlo; o também volante Alan, outro que encontrou seu ápice no Napoli e no Everton sob o comando do italiano. Porém, o maior feito recente de Ancelotti foi com Vinícius Júnior em sua segunda passagem pelo Madrid.

Vini foi um investimento altíssimo feito pelo Real Madrid ainda quando estava na base do Flamengo. Motivado pela não contratação de Neymar, Florentino Pérez fez de tudo para buscar a próxima grande promessa brasileira, pagando € 45 milhões. Esse valor veio acompanhado de grande pressão. A pouca utilização por Zidane — técnico do Madrid na época —, as atuações nada convincentes e as críticas desproporcionais da imprensa espanhola começavam a pintar um cenário de fracasso para Vinícius.

Foi com a chegada de Ancelotti que tudo mudou. O italiano desenvolveu um estilo de jogo que potencializou o ponta, mesmo com Benzema ainda sendo o principal atacante. No primeiro ano com Carlo, Vini evoluiu de seis gols e quatro assistências para 22 gols e 16 assistências. A liberdade e o jogo direto que Ancelotti proporcionou ao camisa 7 do Madrid renderam números impressionantes e títulos: duas Champions League, dois Campeonatos Espanhóis, uma Copa del Rey e o prêmio de Melhor Jogador do Mundo pela Fifa.

No momento atual da seleção, observamos vários jogadores que performam melhor em seus clubes do que com a Amarelinha. Vinícius Júnior é um deles, ao lado de Rodrygo, Raphinha e outros. No pouco tempo que terá para trabalhar, Don Carlo terá de extrair o melhor desses atletas, como fez com tantos outros em clubes. Já foi noticiado que Ancelotti quer o retorno de Casemiro, volante fundamental em seu período no Real Madrid. Talvez a base sólida que o italiano sabe construir e sua capacidade de potencializar jogadores possam ser a solução imediata para a seleção.

Foto do Horácio Neto

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