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Mulheres nas Olimpíadas e os espaços que nos são dados
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Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil

Iara Costa esportes

Mulheres nas Olimpíadas e os espaços que nos são dados

O percentual de 49% de participação feminina em Tóquio-2020 deve ser celebrado, mas machismo enfrentado nas cobranças desnecessárias precisa ser questionado
Tipo Opinião
Seleção feminina foi eliminada das Olimpíadas após disputa de pênaltis contra o Canadá.  (Foto: Sam Robles/CBF)
Foto: Sam Robles/CBF Seleção feminina foi eliminada das Olimpíadas após disputa de pênaltis contra o Canadá.

Não há como negar: a Olimpíada do Tóquio, que se encerra neste final de semana, foi bastante inclusiva, já que tivemos um percentual de 49% de participação feminina. Do lado do Brasil, nas mais diferentes faixas etárias, muitas dessas meninas e mulheres irão voltar para casa com medalha no pescoço. Aos 13 anos, Rayssa Leal traz prata em uma modalidade nova, e Rebeca Andrade, aos 22 anos, chega em casa com duas medalhas inéditas para a ginástica. 

Não há como negar que ocupamos mais espaços a cada dia, e fazemos isso com maestria. Há muito o que celebrar e, numa realidade ainda pandêmica — embora muitos tentem ignorar a persistente existência do coronavírus e suas variantes —, as conquistas devem ser comemoradas, mas ainda há pontos a serem observados dos Jogos Olímpicos. Não, não irei falar da desclassificação do time feminino de futebol em uma disputa que poderia ter sido vencida ou de atletas que "decepcionaram", mas sob a pressão que é imposta em cima dessas mulheres. 

Costumo dizer que o futebol masculino brasileiro possui quase 100 anos a mais que o feminino. Nessa lógica, esse tempo justifica, até certo ponto, diferenças de investimento e qualidade técnica, no mínimo. O nivelamento é necessário, mas compreendo que isso não irá ocorrer amanhã ou daqui a dois anos. Tendo ciência disso, por qual motivo, então, preciso achar normal que se justifique que o futebol feminino deve viver o mesmo nível de comparação com o futebol masculino quando fracassa?

Não estou dizendo que não precisa haver cobrança. Como falei acima, o time desclassificado tinha total condição de passar de fase na competição e isso deve ser questionado. Mas como achar normal cobrar a seleção feminina na mesma proporção que cobramos a masculina se, até dia desses, as atletas que eram convocadas sequer tinham time ou mesmo passado por um trabalho de base? 

O futebol feminino brasileiro já foi atração de circo e, muitas vezes, eu ainda sinto que atualmente é assim que muitos espectadores acompanham a modalidade. Os espaços nos são dados, mas de uma maneira traiçoeira, já que muitos esperam uma falha para rir, caçoar ou jogar tomates como faziam com a palhaços. A diferença é que essa ridicularização e desvalorização ocorre em rede social nos tempos atuais. O espectador, muitas vezes, não questiona em qual condição muitas atletas são postas ali. 

Muito também se falou sobre saúde mental nestas Olimpíadas. Como esperar que uma atleta tenha sua saúde mental intacta se, mesmo com pouco investimento, elas são cobradas por um mesmo nível evolutivo do masculino?

Seis vezes melhor do mundo, Marta aconselhou após a partida: “Deixem as meninas continuarem evoluindo, dando seu melhor, com a cabeça boa. Desde o primeiro momento que eu cheguei na seleção que a gente carrega isso de ter que mostrar, ter que fazer isso ou aquilo, então, uma Olimpíada a mais na nossa conta não vai fazer muita diferença, mas na cabeça dessas meninas que é a primeira Olimpíada vai fazer muita".

Se quisermos um dia alcançar maiores níveis na modalidade, precisamos escutar o conselho da rainha do futebol. 

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