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O papel da imprensa na acusação contra Rogério Caboclo
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Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil

Iara Costa esportes

O papel da imprensa na acusação contra Rogério Caboclo

Comissão de Ética da CBF reconheceu assédio e aumentou pena do ex-presidente da Federação. Um dia após reportagem exibida sobre o assunto, afastamento do dirigente foi aumentada para 21 meses
Tipo Opinião

Os assédios pelos quais o presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, tem sido acusado já foram tema desta coluna duas ou três vezes. Embora o Brasileirão Feminino esteja caminhando para o final desta edição, reconheço que eu poderia falar sobre o assunto. Afinal, é final do campeonato com um excelente clássico. Eu também poderia falar sobre o Campeonato Cearense da modalidade, que terá início no dia 9 de outubro. Sei que posso abordar esses dois temas nas próximas semanas, entretanto. Persistir no assunto assédio na principal entidade de futebol do país é uma escolha que eu fiz antes mesmo de começar a trabalhar no O POVO.

Desde o ensino médio, eu já sabia que queria ser jornalista esportiva. Não apenas pela benção que é ganhar dinheiro trabalhando com o que amo, mas porque eu também queria mudar algumas coisas nesse meio, mesmo que lentamente. Um dos pontos que sempre me incomodava no jornalismo, não apenas abrangendo esportes, era a maneira com o qual certos casos eram acompanhados. No início, há um fervor pelo tema, mas logo que parte do público se cansa da história, ele se torna página virada pela diminuição da audiência. Isso sempre me incomodou.

Curiosa como sou, sempre gosto de saber qual é o começo, o meio e o fim de uma narrativa. Entendo que uma notícia perde o critério de noticiabilidade quando o público já não tem mais tanto interesse por ela, mas acredito que algumas valem a persistência. As acusações feitas a Rogério Caboclo são um grande exemplo disso e explico o porquê. Jornalismo não é só noticiar, mas também é denunciar, mostrar todos os lados de uma história e, em casos de denúncias, vigiar para que esta não seja em vão.

É nosso papel enquanto cidadãos e formadores de opinião lutar para que a verdade permaneça e é isso que vejo da repórter da Globo, Gabriela Moreira, fazer desde o início das acusações. Ela buscou ouvir todos os lados da história, mas não só isso. Ela também quis dar voz às pessoas — mulheres na verdade —, que seriam desfavorecidas na narrativa. Com um depoimento triste, mas forte, ela deixou o dizer da vítima ecoar na maior emissora de televisão do país no domingo passado e a repercussão veio de forma positiva no dia seguinte.

Também por solicitação da defesa da vítima, a Comissão de Ética da CBF reconheceu o assédio, que antes havia sido classificado apenas como "conduta inapropriada" e aumentou a punição do mandatário, agora afastado por 21 meses. Os méritos são dos advogados da vítima, mas não tenho dúvidas que a repercussão do caso pela imprensa também influenciou.

Foi exatamente por isso que me tornei jornalista. Não para punir ninguém, mas para fazer a diferença sempre que eu puder na vida de uma mulher que ama e quer estar nesse meio. Se antes tínhamos de aguentar os mais diversos abusos caladas, hoje sei que posso ser voz de muitas delas. Este espaço está aberto para isso e, se de algum modo ele ajudar qualquer pessoa que seja a buscar a verdade e a liberdade, sei que estarei cumprindo o papel que eu dei a mim mesma no dia em que decidi ser repórter esportiva.

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