Logo O POVO+
Ainda temos que lutar pelo mínimo
Foto de Iara Costa
clique para exibir bio do colunista

Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil

Iara Costa esportes

Ainda temos que lutar pelo mínimo

Mulheres ainda não são tão bem aceitas no futebol e prova disso são os ataques sofridos por jogadoras e profissionais do meio em 2022
Única jogadora do Campeonato Municipal Sub-13 do Botafogo, Giovanna Waksman relatou que sofre violência física e verbal nas partidas por ser mulher.  (Foto: Vitor Silva/Botafogo)
Foto: Vitor Silva/Botafogo Única jogadora do Campeonato Municipal Sub-13 do Botafogo, Giovanna Waksman relatou que sofre violência física e verbal nas partidas por ser mulher.

Os últimos acontecimentos e discussões que pautaram o Brasil na última semana deixam uma mensagem bem clara para nós, mulheres: ainda temos muito pelo que lutar. Sempre celebramos cada mínima conquista que alcançamos no âmbito esportivo neste espaço, mas não podemos fechar os olhos para o fato de que ainda não somos 100% — ou talvez nem 50% — aceitas fazendo o mínimo no futebol. Mulheres já foram proibidas de jogar e ainda são são tão bem vistas quando apitam uma partida ou a comentam e narram. 

E esse foi um ponto que, assim como outros, foi reforçado na semana que passou em nosso país. Com 13 anos, a única menina a participar do Campeonato Municipal Sub-13 do Rio de Janeiro, que é misto, relatou na imprensa que tem sofrido violências físicas e verbais no torneio. Não estamos falando de xingamentos ou faltas tradicionais de uma partida de futebol. Giovanna Waksman, jogadora do Botafogo, contou que é constantemente diminuída e atacada por ser mulher, por jogar bem como joga e não ter medo de driblar um garoto.

"Gritam mandando me matar, dizendo para não deixar eu jogar, que futebol é para homem. E coisas muito piores também. A maioria (dos gritos) vem de mulheres, as mães dos meninos. Um absurdo. O fato de eu ser menina pesa porque os pais (dos atletas adversários) não aceitam quando vou melhor do que eles. Mas os meninos não têm isso (de xingar). Eles obedecem o que os pais mandam eles fazerem. Eu jogo, vou para cima deles e eles me batem", pontuou ela em contato com o Globo Esporte RJ.

Alguns podem pontuar com exagero, mas cada mulher que ocupa um mínimo espaço no futebol sabe que isso é quase regra e não exceção. Não há paz para aquelas que tentam ser o que querem e não o que os outros querem que ela seja. Virtualmente ou não, sempre vai existir aquele grupo de perseguidores. E sejam eles grandes ou pequenos, não há como negar que eles, uma hora ou outra, incomodam.

No caso de Giovanna, não são mais potentes que a vontade dela de jogar e que bom, pois seria frustrante para o futebol feminino brasileiro que um talento tão promissor deixasse de lado seus sonhos por causa dos que a perseguem. Mas quantos sonhos já não podemos ter matado nos últimos anos com tantos desestímulos? Quantas boas jogadoras e jornalistas já não desistiram de viver disso porque optaram por viver longe de tanto ódio? 

Não falo isso pra bater exatamente na mesma tecla, mas para deixar nós, mulheres, em alerta: temos direitos conquistados, mas temos sempre que reforçar que aquilo é nosso, ou cada vez mais será naturalizado que ali não é nosso lugar, até o momento em que aquilo irá nos consumir.

Temos que celebrar termos Brasileirão Feminino na TV, mas sempre vigiar sobre como o campeonato e as atletas estão sendo cuidadas. Não é má gratidão fazer isso, mas sim um cuidado. Muitas de nós não sabemos o que é viver numa época em que se era proibido jogar futebol por ser do sexo feminino e não queremos voltar a isso, por isso devemos vigiar sempre para onde as escolhas dos outros, e também as nossas, estão nos levando.

Caso contrário, os perseguidores irão nos levar aos poucos para trás, para o regresso, até o dia em que perceberemos que fomos arrastada para longe, e que nossas filhas e netas terão que percorrer o mesmo caminho que percorremos antes, como um ciclo vicioso.

Foto do Iara Costa

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?