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A importância do pouco para quem já não teve nada
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Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil

Iara Costa esportes

A importância do pouco para quem já não teve nada

Sem esquecer de olhar para frente, seleção feminina deve lembrar sempre de quando esteve mais atrás, implorando por algo mínimo como apoio
Tipo Opinião
Seleção brasileira feminina embarcou a caminho da Austrália para a Copa do Mundo Feminina com roupas da marca Animale.  (Foto: Thaís Magalhães/CBF)
Foto: Thaís Magalhães/CBF Seleção brasileira feminina embarcou a caminho da Austrália para a Copa do Mundo Feminina com roupas da marca Animale.

A informação de que a seleção brasileira feminina teria, pela primeira vez, um traje de viagem feito por uma marca feminina, a Animale, foi amplamente divulgada às vésperas da Copa do Mundo. À primeira impressão, a notícia aos meus olhos parecia muito singela para tanto destaque nos noticiários, observação que eu até fiz com amigas mais próximas.

“Ter uma roupa mais refinada para ir ao maior evento futebolístico do mundo é o mínimo. Por qual motivo estão destacando tanto isso?”, questionei a um colega de trabalho ao ver informação tendo espaço até mesmo no jornal televisivo mais assistido do país.

Mas ontem, quando a seleção embarcava rumo à Austrália, uma frase me fez mudar a percepção sobre o assunto. Dentro do avião, a zagueira Antônia brincava com a pessoa que gravava o embarque: “CBF, se um dia fui pobre, não lembro”, disse aos risos. A risada em nenhum momento foi em tom debochado e desrespeitoso, mas com certeza trouxe lembranças àqueles que acompanhavam a modalidade nos tempos mais sombrios.

O “mínimo” que eu considero é uma grande coisa para quem já teve o nada como única opção e, claro, deve ser reverenciado. A seleção que hoje chega à Austrália com um avião personalizado e esses tais trajes chiques a caminho da Copa do Mundo já teve que clamar por algo mínimo, como apoio neste mesmo evento em 2007.

Na época, eu tinha apenas 12 anos de idade. Não era a criança mais antenada em futebol feminino, mas sonhava em ser zagueira e recordo de como aquela imagem tocou em mim. “Como assim as jogadoras da seleção foram para uma final e estão tendo que pedir apoio?”, pensava. Era inconcebível, em minha cabeça infantil, que fosse preciso implorar pelo mínimo. Em minha defesa, eu vivia no auge da minha ingenuidade de criança. Hoje, reconheço o quanto aquilo era doloroso. E por não mais vivermos esse tipo de dor é que devemos celebrar.

Ainda há muito o que avançar, óbvio. Não podemos olhar para trás e esquecer que ainda há muito a se caminhar para chegarmos em um patamar ideal. Mas podemos e devemos valorizar cada passo dado. Parafraseando o cantor Emicida, para quem já mordeu cachorro por comida, até que "estamos chegando longe". E a meta é sempre andar para cada vez mais longe da miséria que um dia nos atingiu.

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