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Reclamação de Cris Rozeira expõe contradição da CBF com o futebol feminino
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Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil

Iara Costa esportes

Reclamação de Cris Rozeira expõe contradição da CBF com o futebol feminino

Faltam pouco mais de dois anos antes da Copa do Mundo Feminina de 2027 e os Brasileirões da modalidade, nas mais distintas divisões, ainda passam por erros de torneios amadores
Cris Rozeira, do Flamengo, criticou a CBF após jogo contra o Fluminense. (Foto: Paula Reis/Flamengo)
Foto: Paula Reis/Flamengo Cris Rozeira, do Flamengo, criticou a CBF após jogo contra o Fluminense.

É de conhecimento popular a zona que é a CBF. Entra ano, sai ano. Começa campeonato e acaba campeonato. Os presidentes vão e vêm — ainda que todos sejam cupinchas uns dos outros. Algumas práticas na maior instituição de futebol do Brasil seguem ocorrendo, como algo impregnado e quase que inerente ao que ela é, infelizmente.

Uma das maiores e mais nocivas práticas da CBF é a falta de organização com seus principais produtos. Mesmo arrecadando cada vez mais dinheiro com os Brasileirões — e incluo o masculino e o feminino —, a entidade não consegue cuidar minimamente de fazer boas tabelas, melhorar a arbitragem ou mesmo coisas básicas, como logística de viagens e partidas. A resposta para isso? Torneios cada vez mais desorganizados e baldeados.

Esse texto todo também serve para o futebol masculino, mas vou me reservar a "jogar em casa" e expor apenas como é contraditório a CBF seguir com um tratamento baixo ao futebol feminino às vésperas de uma Copa do Mundo da modalidade a ser disputada no Brasil. Esse tópico foi apontado algumas semanas atrás pela experiente Cris Rozeira, hoje no Flamengo, após o clássico diante do Fluminense, onde ambas as equipes terminaram a partida na bronca com a arbitragem. 

A atacante salientou, na oportunidade, que faz muito tempo que o torneio está desorganizado e deu uma bronca mais que merecida na instituição. "Se a gente está organizando as competições pra que a gente vá sediar uma Copa do Mundo no nosso país para que a gente mostre o que tá sendo feito pro mundo, precisa melhorar em todos os âmbitos. Um pouco mais de cuidado, carinho, como tá sendo feita a competição, com a organização, pois o público quer ver espetáculo. Mas tá difícil, tá ruim pra todo mundo", destacou ela. 

O futebol cearense recentemente foi refém dessa desorganização, aliás. O Ceará, eliminado em casa diante do Rolim de Moura pela Copa do Brasil Feminina, havia feito uma viagem de quase 16 horas antes da partida, quando foi jogar diante do Ypiranga pelo Brasileirão A3 no Amapá. Houve falha em alguns setores na eliminação, mas não dá para se descartar a influência de uma desgastante viagem quase às vésperas do jogo decisivo.

Esses erros parecem coisa de principiante, mas não são. É uma instituição cinquentenária que deveria prezar por melhorar o seu produto — principalmente quando este terá destaque daqui a dois anos, quando a bola rolar para o Mundial. É o contrário do que tem sido feito, que é se reduzir a discursos repetitivos do atual presidente Samir Xaud, que mais parecem ter sido feitos pela inteligência artificial. 

Enquanto os campeonatos continuarem a ser tocados dessa forma, bem como toda a modalidade, é ela quem vai pagar o pato ao acender das luzes. Se queremos sediar o torneio com maior dignidade para quem vive da modalidade, é hora de a CBF deixar de contradições e assumir posturas de responsabilidade. Caso contrário, a promessa de espetáculo vai ser finalizada apenas como um discurso vazio.

Foto do Iara Costa

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