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A espetacularização do desrespeito aos profissionais de futebol
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Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil

Iara Costa esportes

A espetacularização do desrespeito aos profissionais de futebol

Jogo da Série A3 do Brasileirão Feminino foi interrompido por helicóptero e situação virou piada para haters da modalidade, ainda que atos de desrespeito como esse também ocorram em partidas de divisões inferiores no masculino
Partida da Série A3 do Brasileirão Feminino foi interrompida por helicóptero que pousou para pegar passageira.  (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução Partida da Série A3 do Brasileirão Feminino foi interrompida por helicóptero que pousou para pegar passageira.

Era pra ser mais um jogo sem grandes holofotes da Série A3 do Brasileirão Feminino, entre Doce Mel e Uda-AL, quando um helicóptero surgiu no estádio Waldomiro Borges, em Jequié, na Bahia nesse sábado, 7. O veículo assustou as jogadoras e a equipe de arbitragem ao baixar voo e pousar atrás da meta defendida pela equipe visitante, conforme registrado na súmula. Em seguida, uma passageira adentrou e ele voltou a levantar voo, partindo para onde quer que fosse.

Toda a cena não durou mais do que dois minutos, mas estava — e ainda está — na minha mente desde então. Primeiro, pelo fato de um veículo de grande porte ter utilizado um campo de futebol como heliponto. Segundo, por fazer isso colocando em risco quem estava apenas trabalhando, como é o caso das atletas e da equipe de arbitragem. E terceiro porque, até o momento, não houve nenhuma grande repercussão sobre qualquer desses pontos citados.

De quem era esse helicóptero? Quem deu autorização para que ele utilizasse um estádio durante o andamento de uma partida de futebol como uma parada para buscar um passageiro — como se fosse um Uber com paradas? São muitas as dúvidas e todas elas esbarram na falta de respeito com os profissionais de futebol.

Eu cito profissionais de futebol porque uma partida ser interrompida por um helicóptero em uma situação que claramente não era um pouso de emergência é uma situação vexatória não só para as jogadoras, mas para todas as pessoas que estavam empenhadas em trabalhar ali naquele dia. É como se não houvesse respeito nenhum por ninguém que estava ali em seu exercício profissional, sendo ele homem e mulher.

A situação até virou piada para os haters de rede social do futebol feminino, mas eu faço a seguinte reflexão: será que isso não ocorreria em um jogo de futebol masculino de divisões inferiores? A resposta é bem nítida de que ocorreria quando você resgata na memória que essas situações "inusitadas" já ocorreram em jogos da Série C e D do Brasileiro. Infelizmente, ela só foi naturalizada no caso deste final de semana nas redes sociais por se tratar de mais um motivo para jogar hate em mulher.

Mas enquanto se fica nessa briguinha, quem vai perdendo é o futebol frente a pessoas que acham que podem causar esse nível de intromissão em uma partida de futebol sem ser punido por isso. E quem perde sempre com isso, claro, é o espetáculo. 

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