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CBF insiste em dias e horários esdrúxulos para jogos do Feminino no Brasil
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Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil

Iara Costa esportes

CBF insiste em dias e horários esdrúxulos para jogos do Feminino no Brasil

Público não tem a menor condição de se atrair por uma modalidade cujas partidas ocorrem quase sempre às 15 horas em um país tropical ou às 21 horas de um dia na semana
Tipo Opinião
Finais do Brasileirão Feminino A2 foram agendadas para ocorrer em horários e dias com pouca aderência de torcedores.  (Foto: Arthur Barreto/Botafogo)
Foto: Arthur Barreto/Botafogo Finais do Brasileirão Feminino A2 foram agendadas para ocorrer em horários e dias com pouca aderência de torcedores.

A cada semana, a impressão para qualquer fã é que a CBF se esforça, cada vez mais, para demonstrar que não se importa — ou talvez até nutra uma certa raiva — com o futebol feminino. Somente um desdém e até certo nível de rancor justifica que a confederação marque a primeira final do Brasileirão Feminino A2, entre Botafogo e Santos, para uma terça-feira — nesta, no caso —, às 21 horas. 

Tal combinação de dia e horário nunca é utilizada em finais do futebol masculino e não é à toa. As partidas durante a semana quebram, de forma cansativa, a rotina do trabalhador. E o horário de 21 horas para uma decisão de futebol prejudica qualquer torcedor médio que tenha o mínimo de interesse em acompanhar um embate. Ainda que seja possível chegar de maneira calma no estádio, o retorno para casa é praticamente impossível por meio de transporte público, que, em sua maioria, funciona até meia-noite. 

Se nem o torcedor de futebol masculino, que possui maior aderência no País, costuma ir a jogos numa terça-feira às 21 horas, por qual motivo, então, é plausível que uma decisão ocorra nesse dia e horário? Nem a CBF deve saber. Mesmo assim, ela insiste em marcar partidas em dias e horários esdrúxulos para jogos do futebol feminino brasileiro, já que, quando não é um duelo que acaba tarde da noite, é às 15 horas, em cidades cujo clima chega a marcar 40° C.

Como a maior entidade do futebol brasileiro pretende, a esses modos, tornar a modalidade minimamente atraentes para novos públicos? Como ela espera o crescimento do futebol feminino, se não há o mínimo cuidado na experiência de quem joga e de quem assiste? Ou ela acha que, se não fizer nada, magicamente os estádios estarão cheios para os jogos da Copa do Mundo Feminina de 2027?

Até aqui, parece que é exatamente isso que a entidade crê que vai acontecer, já que nada é feito para aproximar torcedores dos times femininos. Parece, inclusive, que a CBF aposta na exaustão de quem acompanha a modalidade. Torcedores que tentam se fazer presentes esbarram em uma logística impossível, jogadoras que deveriam viver o auge de uma final encontram arquibancadas esvaziadas — não por falta de interesse, mas por falta de condições básicas para que esse interesse se transforme em presença.

E quem sai ganhando no final disso tudo? Apenas a inércia de uma entidade que, ao tratar o futebol feminino como incômodo, adia um nível de crescimento que já poderia ser realidade.

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