
É jornalista, professora da rede pública, escritora de cartas e de livros não publicados.
É jornalista, professora da rede pública, escritora de cartas e de livros não publicados.
Eu desisti de poucas coisas ao longo dos anos. Fui criada para ir até o fim. Não importava quanto esforço precisava ser empregado. Lá estava eu: virando noites, tirando tempo de onde não tinha, equilibrando horários, sacrificando feriados e dias santos. Mas, depois de muito penar, eu entendi que desistir não é sinônimo de fraqueza. Quem abdica de um plano pode estar apenas preservando a própria paz.
A primeira grande desistência da minha vida foi a graduação em francês. Havia acabado de terminar a licenciatura em Português sem honrarias e sem diploma dourado. Queria provar para mim mesma que um ser humano com jornada de trabalho semanal de 40 horas poderia concluir um curso superior com louvores. Não consegui. Eu abandonei. Em uma manhã de março, peguei minha bolsa de livros e sai pela porta do bloco didático de letras jurando nunca mais colocar os pés ali como estudante. Bati os pés para tirar a poeira, cuspi no prato que comi. Os meses passaram e a universidade enviou um aviso: eu havia sido jubilada. Não lembro de sentir tanto alívio ao ler um e-mail.
Há ciclos que precisam de tempo, há ciclos que precisam de fim e há ciclos que nem devem ser iniciados. Agora, eu não sei se eu estou mais madura. Talvez mais consciente dos meus limites. Consigo colocar o tal ponto final sem tanto sofrer.
Ainda existem algumas desistências que carregam certo remorso, é claro. Em 2023, o meu cadastro para execução de atividades artísticas com o Serviço Social do Comércio, o Sesc, não foi aprovado. Quem me conhece pessoalmente sabe que atuei como artista da instituição por anos - seja fazendo saraus, mediações de leitura ou apresentação de livros. Vacilei em uma documentação, não olhei a lista e, ao fim do processo, fui desclassificada.
Isso me deu tempo para pensar em mim enquanto artista. Eu estava criando propostas inovadoras ou apenas reproduzindo ações? Eu estava me desafiando como mediadora de leituras? Eu estava feliz com esse vínculo? O ciclo acabou e tive tempo para pensar. Talvez, no futuro, possa ser reiniciado por uma Isabel Costa muito mais conhecedora dos processos e dos próprios projetos.
Mês passado, eu desisti de um grande plano. Algo que demandou esforço financeiro e psicológico. Algo que almejei durante anos, décadas talvez. Na hora de concretizar, eu recuei. Não parecia correto, não parecia feliz e a mudança causava certo embrulho no meu estômago. Era um desejo meu ou um desejo da Isabel Costa de 20 anos?
Sinto-me uma coach às avessas enquanto escrevo esse texto. Mas tenho preferido tomar sorvete de limão na volta para casa do que estar sempre atarefada com um emprego pavoroso. Eu desisti sem pensar nos julgamentos exteriores. Parei de ligar para o julgamento alheio, depois parei de ligar para o meu próprio julgamento e, por fim, comecei a ficar mais leve - subindo aos céus como uma santa ou um balão. Eu simplesmente disse "não vou fazer", economizando dezenas de sessões de terapia e evitando centenas de estresses.
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