Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é mediadora de leituras, jornalista e professora. Realiza ações no âmbito da leitura, desde 2016, em Fortaleza e na Região Metropolitana. É especialista em Literatura e Semiótica pela Uece. Autora dos livros Pitaya e das obras experimentais Vitamina D, Querida Anne e Retalhos. Aos domingos, quinzenalmente, é possível ler as crônicas da Bel no Vida&Arte, caderno do O POVO
A palavra que eu mais escutei na quarta-feira, 11, meu aniversário: saúde! E era o desejo total e absoluto do fundo do meu coração. Depois de três semanas de doenças variadas - indo da crise de enxaqueca à crise de sinusite -, eu só queria desfrutar de um dia de saúde.
Saúde é igual a salário. Quando está aqui, ninguém liga muito. Entra no rol de coisas tão básicas que passam sem muita empolgação. Mas, no primeiro minuto de falta, começa o debulhar de reclamações: "aff, que eu passo o dia espirrando", "aff, que não tenho paz nessa vida", "aff, que eu não dormi direito", "aff, que dor na minha cabeça".
Entre um corticóide e um antialérgico, fico pensando que adoecer é uma situação muito inconveniente. Lá vai remédio, lá vai dinheiro, lá vai estresse, lá vai energia para resolver um problema que eu não solicitei. E a minha saúde é um bem precioso e negligenciado em igual medida.
Toda vez que fico doente, juro para mim mesma que vou mudar. É um discurso tão bonito, mas estou um tanto descredibilizada de mim mesma. "Vou fazer tudo direitinho, vou tomar as vitaminas, encher a garrafa d'água, vou renovar a matrícula da academia", digo, mais para a minha consciência do que para a realização pessoal.
Quando as atividades básicas são comprometidas - do tipo sentir o gosto de um bolo de chocolate de aniversário ou caminhar dois quarteirões sem querer desfalecer -, eu percebo o quanto as coisas miudinhas são gostosas. O cotidiano é uma delícia quando bem aproveitado.
Enquanto estava estatelada na cama, sem forças pra buscar até um copo d'água ou pedir uma janta no aplicativo, pensei "que legal seria poder levantar e lavar a louça". É muita cara de pau. Eu detesto limpar a pia e fico enrolando até o último minuto da noite para realizar essa tarefa ingrata.
Eu sei que Fortaleza toda está submersa em uma grande síndrome gripal. Nas escolas, meus amigos professores não regem aulas, mas, sim, uma sinfonia persistente de "cof, cof". Nos hospitais, a situação se repete. E tome consulta on-line para receber a mesma prescrição genérica: "um predsim, beber muito líquido e uma boa sorte".
A falta de saúde não é uma exclusividade. Sou apenas mais um ser humano com voz fanha e nariz meio entupido. A sensação de normalidade é boa até na doença. Não é como se o mundo estivesse conspirando contra mim por eu ser especial.
O aniversário me deixou reflexiva. Normal, também. Depois do "inferno astral" vem uma espécie de "choramingo astral". Completar 36 anos é importante, pois já comecei uma contagem regressiva para os 40 anos. A única coisa que eu peço é saúde, mesmo. Para o ano que inicia e para os próximos. Saúde pra mim e saúde para cada pessoa que me abraçou com votos bonitos para o meu novo ciclo.
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