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Horóscopo: previsão para seu signo hoje, segunda, 28 de julho
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Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é mediadora de leituras, jornalista e professora. Realiza ações no âmbito da leitura, desde 2016, em Fortaleza e na Região Metropolitana. É especialista em Literatura e Semiótica pela Uece. Autora dos livros Pitaya e das obras experimentais Vitamina D, Querida Anne e Retalhos. Aos domingos, quinzenalmente, é possível ler as crônicas da Bel no Vida&Arte, caderno do O POVO

Horóscopo: previsão para seu signo hoje, segunda, 28 de julho

Horóscopo: previsão para seu signo hoje, segunda, 28 de julho
Tipo Crônica
Na imagem, um carro no modelo Fiat Palio EX do ano de 1999 (Foto: Reprodução/PCCE)
Foto: Reprodução/PCCE Na imagem, um carro no modelo Fiat Palio EX do ano de 1999

Eu não sei dirigir e solenemente desisti de aprender. Ai, que saco, minha gente. Por falta de grana, só tirei carteira de motorista aos 32 anos. E é muito complicado consolidar uma habilidade nova quando o frescor da adolescência foi embora e a paciência está curta. Claro que, junto disso, existe a minha falta de dedicação, interesse, necessidade.

Também há o fator que, para dirigir, é necessário ter um carro. Algo básico e óbvio, mas altamente dispendioso. Não é caro comprar o carro, o difícil é sustentar a existência dele! É o pior objeto do mundo para possuir. Passei um ano com o ônix na garagem recém-construída e foi uma das experiências mais traumáticas da vida. Haja dinheiro e paciência para ir à oficina, mandar lavar, abastecer, pagar imposto, trocar pneu, trocar óleo…

Ele não era ruim e não dava mais trabalho do que qualquer outro carro. Mas, depois dos primeiros meses, percebi que o objeto virou um peso. Eu estava constantemente preocupada. Acordei, chamei meu irmão mais velho e saímos para vender o ônix. Tudo muito resolutivo e rápido. Carro pra lá, pix pra cá. É uma sensação de paz inebriante.

Dias depois, escutei da minha melhor amiga: "E quando você acordar de madrugada e quiser sair por aí sem destino?". Bom, se isso eventualmente acontecer, vai ser melhor que eu não tenha carro na garagem. Afinal, qual o sentido de deixar o meu sono para dirigir sem rumo?

E há outro ingrediente fantástico na minha vida que me desmotiva do comando do volante: pessoas ótimas dirigindo pra mim. É muito comodismo da minha parte ou, em bom linguajar cearense, é muita moleza mesmo, viu?

Em todos os lugares onde eu já trabalhei, encontrei excelentes profissionais do volante. No O POVO, quando costumava sair mais para as pautas, tinha o Pessoa, o Valdir, o Betinho, o Zé Maria, o Seu Alberto... Sem precisar me preocupar com sinalizações ou limite de velocidade, eu ia cantando, contando piadas, falando das entrevistas, frescando, explicando sobre o meu cotidiano na faculdade, reclamando do calor ou apenas olhando a paisagem.

Quando trabalhava na assessoria educacional, visitava escolas de comunidades rurais e outras zonas afastadas do centro. Pegava estradas carroçáveis por duas horas para chegar até locais onde a água vinha do poço profundo, existiam hortas colaborativas, os passarinhos invadiam as salas e os alunos pegavam pitaya do pé.

Era muito divertido estar em espaços nos quais a vida funciona em outra lógica. E eu sempre voltava para casa com um presente: uma dúzia de ovos, uma sacola cheia de caju e de batata doce, meio quilo de farinha, doce no pote.

Mas, para fazer a travessia, era necessário ter alguém para dirigir. A Kombi do Seu Zé, por exemplo, me levou para muitos lugares. Ele era um ser humano intragável e os freios não funcionavam. Que a minha mãe nunca saiba! Pois lá ia eu, com uma bolsa cheia de material didático, cruzando a estrada e o homem falando que o carro não respondia. Vi a morte tantas vezes que cansei de dizer "oi".

Em Fortaleza, por incrível que pareça, eu me movo bastante a pé. Cansei de esperar pelos ônibus. A frota da capital está minguada e a vida, corrida - então, vou caminhando com meu fone. À noite, chamo uber para corridas rápidas - sempre compartilhando localização e cercada de cuidados.

Talvez, muito talvez, em algum momento do futuro, eu tenha o ímpeto de dirigir ou até mesmo de pilotar. O amanhã é gigante. E a carteira de motorista segue na gaveta.

 

Foto do Isabel Costa

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