Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é mediadora de leituras, jornalista e professora. Realiza ações no âmbito da leitura, desde 2016, em Fortaleza e na Região Metropolitana. É especialista em Literatura e Semiótica pela Uece. Autora dos livros Pitaya e das obras experimentais Vitamina D, Querida Anne e Retalhos. Aos domingos, quinzenalmente, é possível ler as crônicas da Bel no Vida&Arte, caderno do O POVO
Foto: FERNANDA BARROS
Imagem ilustrativa para crônica de Isabel Costa (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)
"Você ainda não conheceu todas as pessoas que vai amar na vida". Na primeira vez que li essa frase, no ápice dos meus 30 anos, considerei uma bobagem. Como assim não fui apresentada a todas as minhas pessoas se já sou amada ao extremo? Impossível. Inviável. Inexequível. Insólito. Besteira.
Entretanto, não poderia estar mais enganada. Quanto mais o tempo passou - e ele sempre passa tão imbatível que é -, fui encontrando pessoas dispostas a amar a organização, a confusão, a centralidade, a beleza e a bagunça que eu sou.
Em 2023, foi a vez de encontrar a Malu - que já me conhecia muito antes de eu suspeitar da existência dela no mundo. O nosso diálogo inicial é uma das coisas mais espontâneas e engraçadas que já me ocorreram. E é claro que vou expor aqui, óbvio:
"— Ai, não acredito, você é a Isabel Costa? Mas a Isabel mesmo? A Isabel que escreve crônica?". "— É, eu, sim". "— Um dia, eu vou ser igual a você…" "— Mulher, eu sou uma maluca, não deseja isso…"
Sai rindo e pensando que ali havia uma leitora. De alguma forma, a Malu parecia comigo em outra dimensão. Cabelo cacheado sem finalizar, all star vermelhinho, dançando sozinha, uma saia jeans de botão. Encontrar essa pessoa bonita no meio da pista foi como me transportar para outra época - na temporada de 2014 - quando as constelações eram mais elásticas e eu me permitia dançar mais.
Criamos um laço inexplicável alimentado simplesmente por ser amiga uma da outra. Sem conviver no trabalho, na faculdade ou na escola. Sem muitos amigos em comum. Morando em cidades diferentes. Amizade genuína não precisa de endereço. Nada. Nossa relação nasceu por já existir. Ela estava ali muito antes, na realidade.
Mas como você se torna amiga de alguém que viu uma vez e com quem não convive? Não sei, mas aconteceu. Alguns fatos da vida não carecem de explicação, mas de sentimento verdadeiro. Essa mania humana de querer explicar tudo demais, teorizar tudo, encontrar razão para o improvável… Só acaba nos colocando no divã. Há alguns momentos que apenas existem. E ponto.
A parte mais legal da nossa aliança é finalmente ter encontrado alguém com a mesma linguagem do amor que eu: presentes. Palavras de afirmação, tempo de qualidade, atos de serviço e toque físico são boas formas de demonstrar afeição. Mas, pra mim e pra Malu, nada supera aquela coisinha simples e bonita no meio do expediente.
E a lista cresce: uma água com gás, um café bom, um colar, uma planta, uma caixa de costura, um esmalte, um brownie, um bolo, uma cerveja de lata por R$ 25 no meio de uma balada super faturada - aqui é uma verdadeira prova de amor, convenhamos. Objetos vão e objetos vem, pois estamos sempre lembrando uma da outra.
Como o roteirista da minha vida gosta de brincar, anos depois do encontro inicial, Malu e eu passamos a trabalhar lado a lado. Tinha tudo pra dar errado! Nós somos parecidas demais. "Não vai funcionar uma relação assim. Vamos nos matar na primeira semana", pensei. Mais um engano para a lista de muitos enganos que aprendi a colecionar.
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