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Desculpa, unha
Foto de Isabel Costa
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Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é mediadora de leituras, jornalista e professora. Realiza ações no âmbito da leitura, desde 2016, em Fortaleza e na Região Metropolitana. É especialista em Literatura e Semiótica pela Uece. Autora dos livros Pitaya e das obras experimentais Vitamina D, Querida Anne e Retalhos. Aos domingos, quinzenalmente, é possível ler as crônicas da Bel no Vida&Arte, caderno do O POVO

Desculpa, unha

Tipo Crônica
Revista Buchicho - Esmaltes 2
Na foto: Esmalte da marca Risqué
Fotos: Ethi Arcanjo, em 13/09/2012 (Foto: ETHI ARCANJO)
Foto: ETHI ARCANJO Revista Buchicho - Esmaltes 2 Na foto: Esmalte da marca Risqué Fotos: Ethi Arcanjo, em 13/09/2012

Esse texto é um pedido de desculpas público. Quando começou 2025, eu prometi que cuidaria mais das minhas unhas. As três regras básicas seriam: sempre grandes, sempre feitas na manicure e sempre coloridas. Claro que eu falhei no plano. Resolução de ano novo serve pra ser quebrada.

Mas eu não deveria ter maltratado tanto as minhas unhas. Caí no conto do vigário e fiz uma esmaltação em gel. A manicure, muito sorrateira, prometeu um acabamento sempre perfeito e uma durabilidade assombrosa. "Você vai passar uma quinzena sem andar no salão…", ela projetou. Acontece que, no terceiro dia, as minhas unhas já estavam horríveis.

Gente, que coisa mais pavorosa é aquele esmalte lustroso pela metade, saindo nos cantos, deixando o aspecto de desleixo. Unha é uma coisinha pequena, mas com um potencial gigantesco para incomodar. Eu não conseguia pensar em mais nada, não conseguia dormir direito, não me alimentava, não podia sequer respirar em paz. A todo instante, sentia aqueles cantinhos carcomidos e a cutícula evidente.

E por qual razão não tirei o esmalte? Bom, como a bênção é feita para durar, são usados alguns tipos específicos de produtos que tornam a esmaltação imune à acetona. Imagina a agonia de ter uma coisa grudada na sua unha sem conseguir eliminar?

Mas, como tudo nessa vida, passou. Não há mal que seja eterno. Não tem bem que dure pra sempre. Fui à manicure e, com um motor, ela praticamente extraiu as camadas de esmalte. Saí de lá com as unhas frágeis, quase um papel ofício, e a promessa de que jamais voltaria a passar gel nas minhas lindas unhas.

Óbvio que eu descumpri a promessa. Na primeira oportunidade, fiz novamente uma esmaltação em gel. Como é mesmo aquele ditado? Errar uma vez é humano, errar duas vezes é… Conforme esperado, minhas unhas entraram no mesmo estado deplorável. Fiquei maluca. Obcecada, até. Não conseguia pensar em outra coisa que não fosse aquela camada de esmalte bordô pela metade.

De tão alucinada, parei em um lugar chamado "Beleza Express". Um novo "empreendimento" dentro de um shopping center - "feito para pessoas que não tem tempo a perder", grita o slogan.

O mundo não merece o mundo. Queremos tudo não mais para hoje, mas para ontem. Tudo é fast, rápido, instantâneo. E até a beleza é "express". Mas, enfim, solicitei que a manicure retirasse a camada de esmaltação em gel e deixasse a cutícula em ordem. Com uma paciência absurda, ela foi tirando pedacinho por pedacinho do esmalte. Uma gota de diluidor seguida por uma passada de lixa. E, assim, por duas longas horas, eu me despedi do esmalte.

Sim, duas horas, o processo não teve nada de "express". Ao fim, passei um tom roxo na unha, bem vivo. E saí toda serelepe pensando que a vida pode ser mais bonita.

 

Foto do Isabel Costa

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