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No Ceará tem disso sim! A história do café no Estado
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Mestre de torras e barista do Atelier 1913, é uma entusiasta do café e investiga as inúmeras possibilidades do grão, em especial sua produção e consumo no Ceará.

Isabelly Giffony gastronomia

No Ceará tem disso sim! A história do café no Estado

Tipo Opinião
Anos 90, Gerardo Farias, do Sítio São Roque de Mulungu, apresentando cafés na Suécia para exportação
 (Foto: arquivo pessoal)
Foto: arquivo pessoal Anos 90, Gerardo Farias, do Sítio São Roque de Mulungu, apresentando cafés na Suécia para exportação

Você sabia que ficam no Nordeste as regiões produtoras de café mais antigas do Brasil? As primeiras mudas entraram no nosso Estado cerca de 20 anos antes do chegarem ao Vale do Paraíba, em São Paulo, região produtora que consagrou o café brasileiro no século XIX como principal produto da economia do País.

O desenvolvimento da cultura cafeeira se entrelaça com a própria história do Brasil, dado o seu significado histórico, social e econômico. O café chegou ao Brasil em 1727, por meio do sargento Francisco de Mello Palheta, que trouxe da Guiana Francesa mudas e sementes da planta para a cidade de Belém do Pará e, daí, seguiu se espalhando por várias regiões do País. Chegou ao Ceará ainda no século XVIII, na Serra da Meruoca e, a partir de então, foi difundido para outras localidades, ainda em fase de adaptação.

Foi no Maciço de Baturité, região serrana localizada no sertão central cearense, lugar formado por quatro biomas - caatinga, mata atlântica, cerrado e mata amazônica, que a cafeicultura no Estado destacou-se e fez história como uma importante região produtora de café há quase dois séculos.

As primeiras mudas de café arábica chegaram ao Maciço de Baturité em 1822, vindas de Pernambuco. Vale ressaltar que a variedade de café arábica cultivada até os dias atuais, conhecida como typica, é uma variedade primitiva do café, ou seja, uma das primeiras a serem encontradas no mundo. Atualmente o Maciço de Baturité é uma das três regiões a produzir essa variedade em meio à maior área de proteção ambiental do estado do Ceará, com mais de 32 mil hectares de fauna e flora abundantes. Devido à rentabilidade econômica e à elevada produtividade, a região tem se renovado e tornou-se a maior produtora de café do Estado.

Muita água, digo café, já rolou nesses quase 200 anos. Os casarões históricos, muitos dos quais hoje recebem visitantes através da Rota Verde do Café, são memórias vivas de todas as fases em que a cafeicultura marcou a região. Conhecer essa história nos aproxima de parte importante da cultura alimentar do nosso estado. Pensando nisso, criamos a seguinte linha do tempo com os principais marcos, positivos e negativos, do cultivo do café no Maciço.

LINHA DO TEMPO DO CAFÉ NO CEARÁ

1822: as primeiras mudas chegam ao Maciço de Baturité e são plantadas no Sítio Bagaço, em Guaramiranga;

1862: primeiros registros do cultivo sombreado do café, associado á outras plantas como a ingazeira e o camunzé

1882: inauguração da Estação Ferroviária de Baturité, a primeira ferrovia do ceará, que ligaria a serra de Baturité á capital com 120 km de extensão. Hoje é um Museu e parte da rota verde do café;

1880-1885: ano em que foi registrada uma das maiores safras do Maciço, cerca de 9.514.914 kg de café

1946: o café está na lista das exportações do Ceará e chega a superar o algodão

1900: ano que marca o declínio na produção do café, devido a escassez de terras para a cafeicultura, o envelhecimento dos cafezais, a escassez de recursos financeiros, atrasos tecnológicos e as grandes secas. Até aqui, o café era cultivado á pleno sol;

1956: Surgiu o Sindicato das Indústrias de Torrefação e Moagem de Café no Estado do Ceará

1960: grande parte do parque cafeeiro cearense foi destruído, em decorrência do Programa de Erradicação de Cafezais estabelecido pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC) para reduzir a produção nacional

1970: Programa de Renovação e Revigoramento de Cafezais promoveu o replantio dos cafeeiros no Ceará, no entanto a proposta de plantio á pleno sol tornou impossível o cultivo e em poucos anos já não havia praticamente mais um pé de café plantado no sistema de pleno sol na região

1990: Criação da Área de Proteção Ambiental do Maciço de Baturité

1996: criação da Associação do Produtores Ecológicos do Maciço de Baturité - APEMB, a primeira associação de produtores do Maciço que reuniu mais de 100 associados;

1997: ano em que o Maciço voltou a exportar café, em parceria da APEMB e da Fundação CEPEMA, foram 300 sacas, cerca de 30 toneladas de café orgânico certificado, exportadas para a Suécia;

1997: os cafés exportados receberam a primeira certificação, o selo verde da KRAV/Suécia;

1998: os cafés receberam o Selo verde: Instituto Biodinâmico – IBD de São Paulo

2000: O café cultivado passa a ser voltado para o mercado interno;

2003: foi lançado o “café ecológico” pela COMCAFE;

2013: lançamento do Programa Café Verde”, intermediado pelo SEBRAE;

2015: Lançamento da Rota Verde do Café, iniciativa do SEBRAE para o desenvolvimento sustentável da Região do Maciço de Baturité, interligando a importancia histórica do cultivo do café sombreado na região e unindo empresários através do turismo, agronegócio e economia criativa

2016: fundação da Afloracafé, associação de produtores de cafés especiais do Maciço de Baturité, um novo fôlego para a produção de cafés no estado

2017: através de uma parceria entre SEBRAE e FIEC, os cafeicultores da região passaram por uma consultoria com um dos principais nomes do mercado, Ensei Neto;

2019: cafeicultores do Maciço de Baturité formam a nova diretoria do Sindicato das Indústrias de Torrefação e Moagem de Café - Sindicafé, e seguem na busca de melhorias para o cultivo do café na região


Fica clara a qualidade e a especificidade do café produzido no Maciço, uma variedade única de café cultivada sob a sombra de resquícios de Mata Atlântica - nosso café sempre impressionou e agradou. Agora, mais do que nunca, a proximidade entre o produtor e a sua xícara nos permite reviver muitas das histórias do café e ressalta a importância da valorização dos produtos e produtores locais.

Foto do Isabelly Giffony

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