Professor de História na rede pública Estadual de Ensino do Ceará. Doutor em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Patrimônio e Memória (GEPPM-UFC) e vice-líder e pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa História, Gênero e América Latina (GEHGAL-UVA)
Certas declarações de dirigentes do país levam a crer que há um modo desconcertante de narrar a crise econômica nacional e a defesa da manutenção dos privilégios, ecoando um forte apego às fórmulas dramatizadoras do discurso.
O estado de saúde da economia depende de não haver inflação, de não aumentar a taxa de juros, de não elevar o consumo etc. Se os números da economia recuam, dizem que ela “desacelerou”, ou teve um “crescimento negativo”.
Se há inflação elevada, em vez de corrigir, alimentam a ideia de comparar com o mesmo período em anos anteriores para mostrar que se está ruim, muito pior poderia estar.
Aliás, foi com astúcia narrativa que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, declarou na segunda-feira (15), que embora a inflação no Brasil esteja “bastante alta” ele ainda vê sinais de estabilização.
Porém, no mesmo dia o Banco Central divulgou que a prévia do PIB indica alta de 0,57% no 2º trimestre, mostrando “desaceleração da economia” já que no 1º trimestre houve alta de 1,11%.
Enquanto a manobra linguística e o esforço visual de alguns tentam criar uma historinha mais envolvente, o drama da vida real aparece como calamidade estampada na cara da maioria da população, acuada pelo acesso desigual na distribuição dos ganhos econômicos.
E nada dos governos empreenderem projetos que permitam pôr as pessoas no centro das prioridades e preocupações, em vez indicadores financeiros ou macroeconômicos.
Salário mínimo
Não bastasse o fosso abissal que separa ricos e pobres neste país, o STF aguarda aprovação, pelo Congresso, da proposta de reajuste salarial para todos os servidores e magistrados da Justiça, pegando carona na pauta de reajuste salarial dos trabalhadores do serviço publico federal, que está sem reajuste há cinco anos.
Se isso acontecer, os vencimentos dos integrantes da Corte podem ultrapassar R$ 46 mil. Para os demais trabalhadores, a previsão orçamentária aponta que o valor do novo salário mínimo em 2023 não deve ultrapassar a cifra de R$ 1.302.
Isso significa dizer que a previsão de aumento do salário indica que não haverá aumento real, mas apenas uma pequena reposição inflacionária no bolso das brasileiras e dos brasileiros que dependem deste miúdo salário. O clássico tem, mas tá faltando!
Nas portas giratórias do jogo linguístico, encerro fazendo minhas as palavras de Guimarães Rosa em Sagarana: “pra uns, as vacas morrem...pra outros até boi pega a parir”.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.