Professor de História na rede pública Estadual de Ensino do Ceará. Doutor em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Patrimônio e Memória (GEPPM-UFC) e vice-líder e pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa História, Gênero e América Latina (GEHGAL-UVA)
A campanha eleitoral deste ano começou em meados de agosto, após o prazo final para registro das candidaturas dar início à corrida em direção ao Palácio da Abolição.
Desde então, os planos de trabalho dos candidatos a governador do Ceará foram aparecendo gradativamente, e da leitura deles resolvi destacar as principais promessas no tema da economia.
A análise recairá sobre as propostas de governo apresentadas pelos três candidatos mais bem colocados nas pesquisas: Capitão Wagner (União Brasil), Elmano de Freitas (PT) e Roberto Cláudio (PDT).
Para começar, um consenso nos documentos publicados pelos três candidatos é a existência de diretrizes para o combate à pobreza, cada um dos quais traçando planos e estratégias distintas, por vezes bastante abstratas, sobre aumento da produtividade econômica, geração de emprego e renda, combate às desigualdades e recuperação dos setores produtivos.
No caso do plano de Capitão Wagner, as propostas foram distribuídas em quatro dimensões. Com apelo religioso e um verniz democrático que tenta convencer o (e)leitor de não haver uma posição ideológica fechada em relação ao tema, ele esperar executar cada uma das dimensões – governamental, social, econômica e infraestrutural – “se for da vontade de Deus e do nosso povo”, conforme expressa na primeira linha do texto que discorrerá sobre cada uma delas.
Ao longo de 11 páginas, o capitão enumera 44 ações imediatas para iniciar aquilo que chama de “um novo tempo” no Ceará.
No tópico relativo à dimensão econômica, o candidato propõe reestruturar os diversos setores produtivos do Estado e promete “a maior revolução já vista na Educação Profissional estadual do País”.
Assinala ainda que haverá investimentos – sem mencionar valores, nem apresentar fontes –, em Ciência, Tecnologia e Inovação, além da pretensa aplicação de “todos os recursos possíveis” para alavancar os setores diversos que fazem girar a roda da economia.
Em até duas páginas foram apresentadas, de modo vago e indeterminado, 13 metas de reestruturação econômica que gerariam “um número recorde de oportunidades.”
Já o plano de governo do candidato Elmano de Freitas apresenta o número de 18 “diretrizes mestras” prometendo um “Ceará revigorado”, supostamente “mais humano, sustentável e inovador” baseado na ideia telúrica de uma economia mais inclusiva e sustentável que aproveite possíveis vantagens competitivas do Ceará, aplicadas aos setores produtivos da “energia renovável, economia do mar, economia da saúde, economia criativa, moda, tecnologia da informação e comunicação, turismo e eventos, encadeamentos agroalimentares sustentáveis”.
Todavia, no único tópico destinado a explanar como seriam executadas tais ações, o (e)leitor se depara com um texto que discorre de maneira absolutamente imprecisa sobre estimular a economia, fomentar parcerias, consolidar programas, modernizar cadeias produtivas, ampliar políticas públicas, atrair empresas etc.
Os pontos mais objetivos (são apenas 2) se referem a realizar parcerias com instituições financeiras como BNDES, BNB, FINEP ou parcerias com instituições do Sistema S, sem fazer menção aos modos pelos quais tais parcerias seriam executadas.
A campanha pedetista, por sua vez, optou por apresentar um não-plano. No lugar, oferece a leitura de “diretrizes conceituais e metodológicas” que nortearão a “construção coletiva do Plano de Governo” em caso de eleição do candidato Roberto Cláudio.
Usando do artifício textual de demorada digressão sobre o caráter processual e coletivo do futuro plano de governo, as orientações gerais e temáticas das diretrizes de governabilidade mencionam 06 vezes a expressão “desenvolvimento econômico” e suas ações indutoras prometem, por exemplo, promover a regionalização do estado com base nos critérios de “vocações e potencialidades” ou ainda valorizar e estimular a produção local através da estratégia de tornar empresas de médio e pequeno porte fornecedoras das “compras governamentais”.
Como em todos os demais textos analisados, as proposições são vagas e imprecisas, e os 13 pontos que parecem mais específicos do programa econômico ainda assim fazem órbita no mundo das palavras soltas: “priorizar a geração de oportunidades, emprego e renda; apoiar a atração de investimentos e o desenvolvimento daatividade industrial; estímulo à capacidade empreendedora; impulsionar a economia criativa e a economia do conhecimento; promover o desenvolvimento da agricultura familiar e do agronegócio”.
Em resumo, as propostas econômicas dos três candidatos a governador do Ceará ainda são muito superficiais, carecem de posições mais objetivas em relação a fontes de financiamento e valores a serem destinados para cada setor, não especificam ações concretas para reverter o quadro de estagnação dos indicadores econômicos.
Isso preocupa bastante, porque fragiliza a credibilidade das propostas e causam gatilhos de insegurança nos eleitores que vivem longo período de crises e incertezas.
Como está a conta não fecha. E se, por acaso, os candidatos seguirem a sentença moral promessa é dívida, quem vencer a eleição terá de contingenciar frente tanta demanda represada. Do outro lado da mesa consagrada, estarão os penitentes eleitores na infindável esperança de que santo de casa obre milagres.
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