Professor de História na rede pública Estadual de Ensino do Ceará. Doutor em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Patrimônio e Memória (GEPPM-UFC) e vice-líder e pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa História, Gênero e América Latina (GEHGAL-UVA)
Ainda nem começou o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva – convenhamos, já é como se ele estivesse governando! – e a proposta de emendar a Constituição para que alguns gastos estejam fora da regra do teto causou rebuliço no mercado financeiro.
O tão falado teto de gastos foi criado em 2016 durante a gestão de Michel Temer e determina que as despesas de um ano devem ser as do ano anterior mais a inflação. Porém, a proposta de orçamento para o ano de 2023 enviada pelo governo que se encerra não incluiu os valores suficientes para o pagamento de R$ 600 a cada família beneficiada.
Ou seja, não previa o pagamento do benefício com esse patamar, mesmo sendo uma de suas principais promessas de campanha. Se o atual presidente tivesse vencido as eleições das duas, uma: ou haveria a discussão de uma PEC como essa ou a promessa não seria cumprida.
No entanto, bastou a equipe de transição do governo eleito anunciar suas intenções de expandir investimentos e ampliar os gastos, criando a possibilidade de aumentar o valor do benefício do Auxílio Brasil para R$ 600, para que fosse gerada uma ruidosa turbulência e um estresse generalizado no mercado. Fica uma dúvida: quem é esse tal de mercado?
Nervoso, preocupado e temeroso esse ente abstrato é, na verdade, um conjunto de pessoas que, com interesses semelhantes ou divergentes, produzem e trocam bens. Mas atenção, classe média e autoproclamados CEO’s de MEI, lamento informar que o mercado não é, como alguns cinicamente insistem em dizer, aquele cidadão que a partir de sua microempresa gera empregos na sua comunidade.
Portanto, dizer que o mercado reagiu mal às falas do presidente eleito é um eufemismo para falar do humor azedo das pessoas ricas e super ricas que tem receio de diminuir, por menor que seja, a distância que as separa dos pobres e miseráveis deste país.
Afinal, o mindset dessa gente está relacionado ao ranço escravista e ao ódio de classe que impera no Brasil desde a invasão colonial portuguesa, e isso explica magistralmente o pavor do mercado escravocrata do século XIX diante da abolição, que acreditava piamente se libertassem os escravizados o Brasil viraria o Egito; da ojeriza do mercado econômico e financeiro da segunda metade do século XX frente à “desastrosa” aprovação do décimo terceiro salário; do pânico da elite brasileira do século XXI, estampado em capa de revista, de precisar lavar sua própria privada em caso de aprovação das regras trabalhistas para o serviço doméstico; em 2022 a lamúria gira em torno da “licença” para Bolsa Família elevar a dívida pública.
Diante do fenômeno da dissonância cognitiva coletiva sugiro que a high society cada vez mais down faça uma call para o mindset coach ou quem sabe invista em positive thinking.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.