Os últimos meses mostraram um prefeito Sarto (PDT) disposto a dar uma virada em sua gestão, alvo de críticas até de aliados, como foi o caso do senador Cid Gomes (PDT). Uma das primeiras medidas do pedetista, que deve disputar reeleição daqui a menos de um ano e meio, foi levar um experiente parlamentar para a liderança do governo na Câmara Municipal: o vereador Carlos Mesquita (PDT).

De fato, ninguém conhece mais a história daquela Casa e suas muitas dificuldades do que Mesquita, ex-presidente do Legislativo, líder do ex-prefeito Juraci Magalhães durante anos seguidos e com cadeira quase cativa na CMFor há mais de três décadas. A expectativa de Sarto é que o correligionário consiga desatar de forma célere alguns nós e ajude a consolidar uma base estremecida após a aprovação da polêmica Taxa do Lixo, assunto que aprofundarei mais à frente.

Entretanto, se por um lado o chefe do Executivo tem em posto estratégico um nome, como se costuma dizer, "passado na casca do alho", de "coro grosso", por outro se associa a alguém que esteve atrelado a um período de decadência da política local, em virtude de escândalos que desgastaram a administração de Juraci, principalmente na reta final de seu mandato, como os desvios de verbas da merenda escolar.

Até que ponto isso pode respingar na imagem de Sarto? Como a população está enxergando essa dobradinha? Vai depender, claro, do desempenho da dupla e da memória guardada em relação à era Magalhães, marcada também, vale ressaltar, por grandes obras na Capital. Simbolicamente, haverá efeitos, para o bem e para o mal. E por falar em simbolismos, uma curiosidade: em seu primeiro dia como líder do governo, Mesquita usou um terno dado de presente pelo mais que aliado, o amigo Juraci Magalhães.

Além de Mesquita, Sarto resgatou do passado outro ícone do governo Juraci: a Taxa do Lixo, cujos boletos já estão sendo emitidos. Assim como hoje, a cobrança causou grande confusão nos idos dos anos 2000, a questão foi parar na Justiça, e a Prefeitura se viu obrigada a recuar e desistir da ideia. No contexto atual, o prefeito alega que foi "obrigado" pelo Novo Marco Legal do Saneamento Básico a criar o tributo, argumento já bastante rebatido pela oposição. De todo modo, é mais uma situação de um tempo que os moradores alencarinos fazem questão de esquecer, mas que a gestão traz à tona com toda a força e cujos efeitos negativos são inevitáveis. A não ser que Sarto consiga fazer uma verdadeira revolução na limpeza pública e no manejo dos resíduos sólidos. Algo bem difícil de se concretizar diante do curto intervalo de tempo até a data das eleições.

Uma das mais recentes cartadas de Sarto também tem ares "retrô". Para uma das áreas mais delicadas da gestão, a saúde, o prefeito decidiu resgatar um antigo responsável pela pasta, o ex-secretário Galeno Taumaturgo. Médico que trabalhou na administração de quem? Adivinha? Isso mesmo, Juraci Magalhães.

Para completar, Sarto inseriu na gestão um dos quadros do Partido Liberal - Raimundo Gomes de Matos comanda a Funci -, antigo PR, último partido de... Juraci Magalhães. Com a chega do ex-presidente Jair Bolsonaro, a legenda ganhou contornos ainda mais conservadores. Se para o saudoso Belchior, "o passado é uma roupa que não nos serve mais", José Sarto o veste com orgulho e o usa como arma para os desafios que se avizinham. Dará certo? Aí não cabe futurologia. Só o tempo dirá. n