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Bolsonaro, Lula e as ruas
Foto de Ítalo Coriolano
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É editor digital de Política do O POVO e apresentador do programa Jogo Político, interessado no mundo do poder, seus bastidores e reflexos sobre a sociedade. Entende a política como algo que precisa ser incorporado e discutido por todos. Já foi repórter de Política e também editor da rádio O POVO CBN.

Bolsonaro, Lula e as ruas

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O último domingo, dia 29 de junho, foi marcado por mais um ato liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A manifestação, que reuniu pouco mais de 12 mil pessoas, segundo levantamento da Universidade de São Paulo (USP) - não preenchendo nem três quarteirões da Avenida Paulista -, ganhou destaque não pelos discursos ou ataques proferidos contra adversários, mas exatamente pela baixa participação de apoiadores. A direita tentou colocar a culpa em diversos fatores para o fracasso da nova empreitada política do bolsonarismo: jogo do Flamengo no Mundial de Clubes da Fifa, final de mês, Uber caro, numa tentativa de não enxergar a realidade.

Realidade dura de aceitar para quem, até bem pouco tempo, detinha a hegemonia das ruas: as pessoas estão cansadas, não estão vendo mais sentido em sair de casa para atividades que não resultam em mudanças práticas. Talvez estejam começando a perceber que o que move o grupo não são demandas coletivas, a melhoria do País ou algo que o valha, mas interesses individuais diretamente ligados à busca do poder pelo poder ou até questões relacionadas aos processos judiciais referentes à tentativa de golpe de Estado no Brasil. Aos poucos, a ficha vai caindo e a população vai percebendo que estão apenas sendo usadas como massa de manobra.

Claro que a esquerda foi rápida em ironizar o esvaziamento da nova ação do campo conservador, como se também não tivesse passado muita vergonha recentemente em seus protestos, com "dois gatos pingados" ouvindo as mesmas ladainhas de lideranças que não conseguem se reinventar e só sobrevivem politicamente em razão da polarização que aglutina forças não por projetos e ideias, mas em função do ódio e do medo.

O fôlego da chamada ala progressista se dá, atualmente, não pela capacidade de mobilização em eventos públicos, mas por estratégias voltadas para as redes sociais, em razão de toda a polêmica envolvendo o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a isenção na tabela do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Fazendo uso, inclusive, da estética da direita, com vídeos feitos com Inteligência Artificial (IA) que apostam no mote ricos versus pobres e que, até certo ponto, vêm obtendo sucesso, com milhões de visualizações. Até que ponto isso vai se transformar em capital político para as mudanças desejadas ainda é preciso esperar, mas não deixa de ser uma sacudida do marasmo comunicacional até então praticado pelos aliados do governismo.

Quanto à saturação em ambos os lados do atual quadro ideológico brasileiro, que pode se refletir muito em breve nas urnas, abre-se uma oportunidade única para outros nomes surfarem e crescerem. É desses momentos de crise que viradas e transformações acontecem, num sinal de maturidade e evolução do quadro social brasileiro. Se faz urgente uma qualificação representativa que pavimente melhores caminhos para o País, e o gatilho para que isso aconteça é a consciência de que o temos hoje é ruim pra caramba. Sim, há esperança!

 

Foto do Ítalo Coriolano

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