Xenofobia em forma de meme e o fim do sonho americano
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É editor digital de Política do O POVO e apresentador do programa Jogo Político, interessado no mundo do poder, seus bastidores e reflexos sobre a sociedade. Entende a política como algo que precisa ser incorporado e discutido por todos. Já foi repórter de Política e também editor da rádio O POVO CBN.
Xenofobia em forma de meme e o fim do sonho americano
A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil resolveu, recentemente, ironizar os imigrantes que vivem em território norte-americano de forma irregular. Em uma postagem nas redes sociais, usaram uma cena do filme "E.T. – O Extraterrestre", de 1982 , e escreveram: “Até o E.T. sabia a hora de voltar para casa”.
Uma piada que pode até parecer inofensiva à primeira vista, mas é entremeada de maldade e sarcasmo. Xenofobia transformada em meme. Um conteúdo, no mínimo, repulsivo feito por uma representação diplomática oficial, que deveria prezar pelo bom senso, pelo respeito, mas que opta pelo sentido oposto.
Situação que revela, mais uma vez, a total falta de empatia com quem arrisca a vida para cruzar fronteiras. Deboche puro em vez de solidariedade. Pessoas desumanizadas, tratadas como algo descartável. Mais um retrato lamentável do que é o governo Donald Trump 2.0.
E se é pra usar o cinema como referência, é importante destacar outros filmes também. Em "O Terminal", de 2004, Tom Hanks interpreta um imigrante que fica preso em um aeroporto dos Estados Unidos. Seu país entra em guerra, e ele fica sem nacionalidade, sem direito de entrar, e sem poder voltar. Ele queria ficar exatamente onde? Nos Estados Unidos.
Em "Brooklyn", de 2015, uma jovem irlandesa chega aos EUA para tentar uma vida melhor. No fim, ela escolhe ficar, porque enfrenta menos preconceito longe da própria terra natal. No clássico "Uma História Americana", de 1986, uma família de ratinhos judeus foge de perseguições na Rússia. E sonha com um lugar onde não há gatos, nem medo, nem fome. Esse lugar, claro, são os Estados Unidos.
Esse sonho migratório não é ficção. É a base real da formação dos EUA. Desde o século XIX, ondas de imigrantes europeus, asiáticos, latino-americanos e africanos fizeram o país crescer não só economicamente, mas também cultural e humanamente.
Agora, voltando ao filme "E.T.", vale lembrar que o simpático alienígena só consegue voltar para casa porque uma criança o esconde e o ajuda. Afinal, o governo americano via o ser inofensivo como ameaça, queria capturá-lo para fazer experimentos científicos, por exemplo.
A postagem da Embaixada sugere que quem está irregular nos EUA deveria simplesmente “voltar para casa”. Mas a realidade é mais complexa. Muitos imigrantes são exatamente o que sempre foram ao longo das últimas décadas: mão-de-obra fundamental, base da economia e parte do sonho americano que a própria narrativa oficial tanto vende ao mundo, inclusive por meio do cinema.
Esse sonho virou pesadelo protagonizado por "vilões" que parecem se inspirar naquelas figuras nazifacistas já julgadas e condenadas pela história. Uma “Lista de Schindler” às avessas. Para finalizar esse repúdio em forma de artigo, uma dica: se for usar o cinema como lição de política migratória, é preciso assistir o filme por inteiro, entender o contexto e, principalmente, saber diferenciar humor de desrespeito.
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