É editor digital de Política do O POVO e apresentador do programa Jogo Político, interessado no mundo do poder, seus bastidores e reflexos sobre a sociedade. Entende a política como algo que precisa ser incorporado e discutido por todos. Já foi repórter de Política e também editor da rádio O POVO CBN.
A música de Caetano Veloso se mantém atual e esfrega na nossa cara o quanto falhamos enquanto nação. Seja em Brasília, seja aqui no nosso quintal, poderosos insistem em fazer múltiplas esculhambações, movidos por interesses egoístas e antirepublicanos
Foto: Divulgação ASCOM Célio Studart
Imagens de animais sendo projetada nos edifícios do congresso nacional
Caetano Veloso já cantava em 1984 - num período conturbado de transição democrática - toda a sua indiganação contra uma sociedade "boçal" que não respeita as leis, vira e mexe recorre a "ridículos tiranos" e seus "podres poderes" que derramam sangue por todo o País, naturalizando o que há de mais absurdo.
Quarenta e um anos depois, a música se mantém mais do que atual, esfregando na nossa cara o quanto falhamos enquanto nação. Seja em Brasília, seja aqui no nosso quintal, poderosos insistem em fazer múltiplas esculhambações, movidos por interesses egoístas e antirepublicanos.
Dos gabinetes do Congresso Nacional, surgiu a imoral PEC da Blindagem - felizmente enterrada pelo Senado -, que previa aval do Legislativo para a abertura de processos contra parlamentares. Haja madeira derrubada da Amazônia para tanta cara de pau, em um novo movimento de autoproteção para um grupo mais do que beneficiado por privilégios de toda a espécie.
A reação foi imediata: revolta nas redes e, poucos dias depois, nas ruas, com protestos espalhados pelas principais cidades do Brasil. Nossa letargia cedeu lugar a uma indignação coletiva que fez nossos representantes tremerem, com pedidos de desculpas, choramingos e recuos se avolumando em vídeos publicados na Internet. Inclusive de políticos filiados a partidos ditos progressistas, como PT, PDT e PSB.
Incongruência observada, em outro âmbito, aqui no Ceará, onde um governo petista, por meio da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), autorizou uma verdadeira devastação ambiental: a derrubada de 32 hectares da Floresta do Aeroporto, antes mesmo da avaliação final do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Uma imensa clareira aberta numa cidade já tão carente de áreas verdes.
As imagens e relatos de moradores sobre primatas, iguanas e outros animais silvestres adentrando os espaços urbanos - alguns morrendo eletrocutados ou atropelados - é de cortar o coração. Sem nenhuma sensibilidade, desmatam tudo e os bichos que se virem, num consórcio perverso entre nossas lideranças políticas e econômicas. Falam em "compensação", com plantio de árvores em outros espaços. Francamente, quem é que acredita numa balela dessas? Enquanto surgem promessas e desculpas, a temperatura no entorno sobem impressionantes 6°C.
Levando em consideração essa duas situações vergonhosas e lamentáveis, fica ao menos uma lição importante: não importa se o grupo político é de esquerda ou direita, a população precisa estar sempre vigilante, tanto em relação ao que acontece lá para as bandas do Planalto Central, como aqui no lado de casa.
Representantes que não são cobrados pelo que fazem ou deixam de fazer acabam numa posição muito confortável: rodeados de regalias e puxa-sacos, perdem a conexão com a realidade e ignoram aquilo que é a essência das suas atividades: o povo. Povo sofrido, por vezes desmotivado, decepcionado, mas que quando resolve dar uma resposta, é implacável, seja nas ruas, seja nas urnas.
Depois não adianta vir lamentar: "Ah, mas o que foi que houve? Buá, buá". Houve muita coisa errada, pode ter certeza, a começar pela desconfiguração de sujeitos políticos que se transformam quando alcançam o poder. O assim, “cada paisano e cada capataz, com a sua burrice fará jorrar sangue demais, nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos Gerais”.
É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.