Logo O POVO+
São Longuinho, para onde vão obras de arte quando desaparecem?
Foto de Izabel Gurgel
clique para exibir bio do colunista

Jornalista, leitora, professora. Criou e faz curadoria das séries A Cozinha do Tempo e Cidade Portátil, dentre outras atividades.

São Longuinho, para onde vão obras de arte quando desaparecem?

Tipo Crônica

"Tenho a curiosidade de saber que fim levaram as fotos... até porque a maioria era muito grande para se ter em casa, imagino que elas tenham virado bolsas ou toldos de feira...rs". A fala é da fotógrafa Lia de Paula. Li no Instagram do pai dela, o também fotógrafo Silas de Paula, lembrando da exposição que ela fez na área externa do Mercado dos Pinhões em 2014. "Durou só um dia", Silas conta. "À noite todas as fotos foram levadas por alguém".

Tenho a curiosidade de saber, São Longuinho, que fim levou a vaca "Ventania", que Mario Sanders fez para uma edição da Cow Parade em Fortaleza. Pergunto por aqui porque aproveito e convido você, criatura leitora, a visitar "O céu como limite", exposição de desenhos, bordados e pinturas do artista em cartaz até agosto no Espaço Cultural Unifor. Um convite interessante, prometo, e interesseiro: trabalho com Mario na edição, no modo como os trabalhos poderiam chegar melhor até você. O título da mostra não é por conta do desaparecimento da vaca Ventania, ou de outras obras sob o céu da cidade, como você vai ver e, tomara, sair contado por aí.

Dou mais umas dúzias de pulo para São Longuinho e deixo aqui umas perguntas de há muito feitas, repetidas, reencenadas. Repito Saramago dizendo que o mundo vive dando resposta, o que demora é o tempo das perguntas. Talvez eu não saiba fazer bem as perguntas. Anoto aqui e você me ajuda a pensar melhor o modo de colocá-las.

Tenho a curiosidade de ver outra vez, suspensa sobre o altar mor da Catedral de Fortaleza, a cruz que Sérvulo Esmeraldo fez a partir de, salvo engano, interlocução com Dom Aloisio Lorscheider. Já me deram notícia do rastro. Está em um cruzeiro à frente de uma igreja matriz na rota Oeste do Ceará. Depois de Amontada e antes de Jericoacoara, citadas aqui para contar com as divindades das águas para fazer a embarcação voltar à praia de origem. Uma forma de oração, você sabe.

Tenho uma lista Sérvulo Esmeraldo, São Longuinho. Bem conhecida. Mas o que seria de nós sem a repetição? Pois bem, vou seguir no Centro, primeiro destino para onde levo gente amiga em viagem ou querendo estado de passeio e levo para ver como Sérvulo puxa conversa em vários cantos da cidade, com obras públicas ao ar livre. Ali na Duque de Caxias, justo na quina da sede do Dnocs, havia uma obra - fonte do artista. Geradora de arco-íris. Você pode vê-la em fotos. Ou consultando arquivos do recém-aberto Instituto Sérvulo Esmeraldo. Saio do Centro. Sigo Sérvulo. La femme - bateau, a mulher - barco, a gente sabe que volta para a Praia de Iracema. Ali onde os golfinhos vão passear. E a gente também, apreciando o risco do artista e a risca. Bonitos horizontes.

Agora fiquei pensando se Ventania sumiu sozinha ou foi com banquinho e tudo. Vou perguntar ao Mario. Explico: um desenhista mui preciso, Mario Sanders fez uma vaca malhada assim: Ventania é branca, com o corpo salpicado de banquinhos em preto, uma estampa voadora. É o assento - auxílio para tirar leite da vaca. Bati o olho e lembrei do banco Mocho, desenho de Sérgio Rodrigues com orifício para facilitar o leva e traz, porque banco, você sabe, é feito para sair do lugar. Daí a qualidade que dá nome ao conjunto do qual faz parte: móvel.

Foto do Izabel Gurgel

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?