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Cobra Isaura, livros e rios
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Jornalista, leitora, professora. Criou e faz curadoria das séries A Cozinha do Tempo e Cidade Portátil, dentre outras atividades.

Cobra Isaura, livros e rios

A palavra imaginada, dita, escrita fazendo nascer seres, lugares, acontecimentos, concretos pensamentos feitos perfeitinhos como uma colher, um martelo, uma tesoura.
Tipo Crônica

Sei da presença da cobra Isaura em pelo menos três bibliotecas de Fortaleza. Isaura protagoniza histórias contadas, desenhadas, bordadas nas bibliotecas comunitárias Famílias Reunidas, no bairro Padre Andrade, Jardim Literário e Criança Feliz, no Jardim Iracema, também nomeado Floresta.

Morar mesmo, Isaura mora na Lagoa do Urubu, naquelas áreas. Sobre Isaura, comecei a ouvir histórias serpentinas, girando em espiral entre nós, no espaço que hoje abriga a Casinha de Cultura Patativa Ave Feliz - Memorial do Bordado, uma das joias da casa 302 da Gaudioso Carvalho. Já foi lá?

Tem um mapa bordado que é o sonho da criatura leitora. A palavra imaginada, dita, escrita fazendo nascer seres, lugares, acontecimentos, concretos pensamentos feitos perfeitinhos como uma colher, um martelo, uma tesoura. Já leu sobre isso? Eco! Dá vontade de morar no mapa bordado, tipo quando a gente mora em um livro.

Talvez esteja enganada, mas a lagoa e Isaura têm as maiores dimensões dentre tudo o que o mapa mostra dos bairros ali fronteiriços, e é só um resumo do que tem de bom no lugar de onde voltei com os olhos cheios de jardim de calçada. Da última visita, conspiramos sobre rodas para contar e ouvir histórias de assombração.

O grupo Pé de Sonho reúne mulheres também bordadeiras (cortam, costuram, fazem croché, etc) e iniciou uma coleção que acabou batizada de cobra criada. Inspirada em quem, advinha? Vi um caminho de mesa sobre um aparador e sobre eles um livro todo bordadinho de pai e mãe.

As folhas do livro nasceram para almofadas. Mas parece que tudo o que nasce e o que há é para terminar mesmo em livro. Quem falou isso? Livro é o melhor dos cofres. Portátil e só existe quando encontra alguém que o abra. Vai nascer mais livro por lá.

Sempre que digo ou escuto ou anoto caminho de mesa (adoro o nome), olha só o que eu penso: uma rua cheia de mesas cheias de livros, o bairro todo assim, uma cidade que você percorre de uma mesa à outra, passando de um livro para outro, de uma criatura leitora à outra. Banquetes. Uma cidade sem fome.

Acabou que não citei bordadeiras, designer, desenhista, cozinheira e toda a gente envolvida na feitura de cada coisa no Memorial do Bordado. Uma leitora me disse que gosta de encontrar tudo com nome ao ler nossos textos n'O Povo de domingo. Fica para a próxima. Dá pra conhecer quase todo mundo indo à citada casa 302.

Termino imaginando um caminho de mesa na calçada de um teatro. É fato, não só ficção. Hoje, 6 de julho, tem primeira edição Livro Livre em Icó, na calçada do Teatro da Ribeira dos Icós. Conta-se que uma baleia vive sob a planície urbanizada, a grande várzea do rio Salgado, que antes de encontrar o mar se torna Jaguaribe, nosso rio das onças.

A vida é um assombro.

Foto do Izabel Gurgel

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