Logo O POVO+
Cantata de Natal em Icapuí
Comentar
Foto de Izabel Gurgel
clique para exibir bio do colunista

Jornalista, leitora, professora. Criou e faz curadoria das séries A Cozinha do Tempo e Cidade Portátil, dentre outras atividades.

Cantata de Natal em Icapuí

A primeira vez da Cantata de Natal, a Árvore de Jesus, foi em 2017. A estrutura de madeira em forma de árvore natalina foi montada nos anos seguintes, 2018 e 2019. Retomada em 2023 na rua da Casa de Cultura, agora volta para a praça
Tipo Crônica
Comentar
Ilustração de Carlus Campos para a crônica 'Cantata de Natal em Icapuí' de Izabel Gurgel (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Ilustração de Carlus Campos para a crônica 'Cantata de Natal em Icapuí' de Izabel Gurgel

Vai ter Cantata de Natal na praça central de Icapuí na noite de 25 de dezembro. Os ensaios acontecem na Casa de Cultura Cores da Vida. Ensaios e casa aos cuidados dos irmãos Josilene e Dedé de Zé de Liliza, cujo nome, como o Natal, celebra um nascimento e uma filiação. Francisco José de Freitas é o Dedé, filho de Zé, por sua vez filho de Liliza. A Casa de Cultura é invenção do carpinteiro naval, cada canto criado e construído por ele. Incorporada ao chão e céu icapuienses, até parece que sempre esteva lá, mas tem só três anos. Inaugurada a 5 de novembro de 2023, é um novo mar na cidade.

A primeira vez da Cantata de Natal, a Árvore de Jesus, foi em 2017. A estrutura de madeira em forma de árvore natalina foi montada nos anos seguintes, 2018 e 2019. Retomada em 2023 na rua da Casa de Cultura, agora volta para a praça. Conta-se, canta-se o nascimento do Menino Deus. Tem pastoril, a visitação ao recém-nascido. Tem encenação da natividade, com a busca de Maria e José por um pouso. Em 2024, Josi fez a dona da estalagem que mostra a estrebaria ao casal. Bento, o nome do bebê que fez Jesus. Procura-se um novo bebê para 2025.

Ativar práticas da alegria, como o Pastoril, é do tutano da Casa. Cutuco Josi sobre autos de Natal. Ela cita de memória um que conheceu criança, 'na rua de trás da casa da minha mãe'. Cita Mirian de Lula, que fazia teatro com Dedé no salão paroquial. Depois da nossa conversa por telefone, Josi envia por zap: "O Pastoril muito falado era do pai da Mirian, que se chamava Lula... O nome era Pastoril Cruzeirista. Mirian brincou nos pastoris até seus 19 anos. Aos 20 anos, casou-se e parou de brincar... Mirian já brincou sendo Pastorinha, Mestra, Contra-Mestra e Diana. Ela falou o nome de algumas Pastorinhas: Teté de Antônio de Jorge, Nina, Alba. Também era falado o Pastoril de João Sabino...". João Sabino é o nome estampado no salão da Casa, onde acontece o Forró de João Sabino, homenagem ao pescador e salineiro que, usando radiola, fazia da moradia um salão de dança.

Josi continua: "Mirian recorda também do Pastoril de João Paulino, o Pastoril Serranista. Foi ela que ensinou todas as músicas, passos e danças. E o Pastoril de Nenê Pedro Amanso, que ficava no local que se chamava Furna da Onça, porque as casas eram do lado do sol, muito quentes. Furna da Onça também era o nome do bar, naquela rua, da Socorro de Iracema, falecida". No centro de Icapuí, a área é conhecida também como pé-da-serra.

A Casa de Cultura Cores da Vida tem um sub-título: Memorial José, Leny e amigos. José e Leny são pai e mãe de Josi, Dedé e Fátima, que faleceu. E amigos é a bem dizer um litoral, do sempre vasto e diverso mar, a ir e vir. Não sem mortes, dilacerações. Daí a boniteza maior da Casa, desejada e feita para ser um lugar de nascer, a cada dia, todo dia.

Seu Dedé é um ourives. A Casa de Cultura em Icapuí é uma joia do Ceará.

 

Foto do Izabel Gurgel

A soma da Literatura, das histórias cotidianas e a paixão pela escrita. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?