Logo O POVO+
Contra a banalização da imagem
Foto de Jáder Santana
clique para exibir bio do colunista

Jáder Santana é jornalista e Jáder Santana é jornalista e doutorando em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Contra a banalização da imagem

Uma homenagem ao fotógrafo Fábio Lima em suas três décadas de exploração das potências da imagem e de respeito ao ofício.
Tipo Opinião
Com a imagem, o fotógrafo Fábio Lima ganhou primeiro lugar em premiação feita pelo Ministério Público do Estado do Ceará (2020) (Foto: Fábio Lima/O POVO)
Foto: Fábio Lima/O POVO Com a imagem, o fotógrafo Fábio Lima ganhou primeiro lugar em premiação feita pelo Ministério Público do Estado do Ceará (2020)

.

Dediquei minha última coluna a uma tentativa de reflexão, no calor do momento, sobre o poder da imagem e da metáfora. O texto foi motivado pela divulgação do absurdo vídeo de um deputado federal em performance de salvamento nas enchentes do Rio Grande do Sul. Recorri a Susan Sontag e a seus comentários sobre as criações, distorções e perversões operadas pela imagem fotográfica a partir da realidade.

O texto de hoje não se afasta desse tópico e da pensadora que o referenciou, mas os observa a partir de seu avesso. É que, em tempos de perigosas distorções e metáforas geradoras de mitos, em épocas de saturação da imagem e banalização do sofrimento, torna-se ainda mais precioso o trabalho de profissionais da fotografia, de repórteres e artistas.

Prêmio Gandhi 2018: Novos policiais militares, durante solenidade. Aula inaugural de formação de novos policiais militares na Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp). (Foto: FÁBIO LIMA/O POVO)
Foto: FÁBIO LIMA/O POVO Prêmio Gandhi 2018: Novos policiais militares, durante solenidade. Aula inaugural de formação de novos policiais militares na Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp).

Este mês de maio celebra as três décadas de trajetória de um dos grandes do fotojornalismo brasileiro, um colega que, ciente do poder da imagem, da seriedade de seu ofício, segue se aferrando, na contramão do que é moda, a convicções cada vez mais desaprendidas e a compromissos hoje facilmente permutados.

Porque são essas as impressões e juízos que se formam e se confirmam quando se conhece o fotógrafo Fábio Lima, quando se tem pela frente as imagens que constrói, as metáforas que atravessam sua mídia e se transformam, aos olhos do leitor dedicado, em histórias muitas vezes mais vivas do que o mais vivo dos textos escritos.

Nossa sorte é que foi para as ruas de Fortaleza que Fábio escolheu direcionar seu olhar em vinte e sete dos seus trinta anos de carreira. Como fotógrafo de O POVO desde 1997, capturou imagens e contou histórias de fogo e sangue, de tribunas e palcos, de lama e asfalto. Transformou realidade em conto, gente em metáfora. Desconstruir mitos que a fotografia hoje insiste em construir.

Dia do trabalho, aterro sanitário de Pacajus (CE). Imagem premiada pelo Ministério Público do Trabalho em 2016(Foto: Fábio Lima/O POVO)
Foto: Fábio Lima/O POVO Dia do trabalho, aterro sanitário de Pacajus (CE). Imagem premiada pelo Ministério Público do Trabalho em 2016

Sontag falou da responsabilidade moral do fotógrafo em seu processo de construção subjetiva da imagem. Fábio desconstrói mais que constrói nessa que parece ser a função medular de seu ofício, de sua moral. Joga e nos convida a jogar com os elementos que escolhe mostrar, fragmentos muitas vezes dissonantes, manipulando nossa atenção para o que, diante de nossos olhos embotados, dessensibilizados, mostra-se muito além do trivial.

Em meus anos de O POVO, quando quase todas as manhãs recebia a visita de Fábio em minha bancada, via com atenção e espanto as imagens que ele costuma fazer no trajeto entre casa e trabalho. Espanto ainda maior quando me mostrava suas capturas "secretas", as nunca publicadas — seja pelo impacto violento que causavam, seja pela desatenção do editor.

Via e vejo Fortaleza em suas fotografias. Não a cidade dos sonhos, a metáfora ideal da boa política. A realidade que Fábio nos mostra é a que o cinismo de nossos olhos desatentos não permite ver. Veja mais: @fabiolimajornalismo

 

Foto do Jáder Santana

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?