Rasga-Mortalha: HQ cearense retrata o cangaço com violência e lirismo
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Jansen Lucas é coordenador de criação no O POVO, publicitário, designer e artista visual. Dedica-se a escrever sobre cultura com foco em produções de quadrinhos, cinema e literatura, explorando as conexões entre arte, narrativa e mídia em seus trabalhos
Rasga-Mortalha: HQ cearense retrata o cangaço com violência e lirismo
Lançado pela editora Avoante com arte de Jon Bosco e roteiro de Adams Pinto, quadrinho explora a jornada de um cangaceiro e uma jovem inocente
Foto: DIVULGAÇÃO/AVOANTE EDITORA
A Avoante Editora - em parceria com a loja de quadrinhos Reboot Comics Store - lança uma campanha de financiamento coletivo para conseguir publicar seu novo quadrinho: "Rasga-Mortalha".
No sertão profundo dos anos 1930, onde o cangaço ressoa como lenda, violência e resistência, nasce "Rasga-Mortalha", novo quadrinho da editora cearense Avoante, em parceria com a Reboot Comic Store.
Com roteiro de Adams Pinto e arte de Jon Bosco, a obra mergulha nas tensões entre cangaceiros e volantes, mas também nos silêncios que restam entre um disparo e outro de uma arma. A narrativa alterna ação, drama e uma dose precisa de humanidade, tocando com sensibilidade as entranhas desse Brasil profundo.
O protagonista, Rasga-Mortalha, carrega o peso de um passado marcado pela dor, como tantos nordestinos da época, e encontra no cangaço não apenas abrigo, mas uma espécie de vingança travestida de justiça.
Foto: DIVULGAÇÃO/AVOANTE EDITORA
A Avoante Editora - em parceria com a loja de quadrinhos Reboot Comics Store - lança uma campanha de financiamento coletivo para conseguir publicar seu novo quadrinho: "Rasga-Mortalha".
Temido pistoleiro, conhecido por não perdoar soldados volantes, ele vê sua rota de violência ser interrompida por Ana, uma menina determinada a cumprir um dos últimos desejos da avó moribunda.
Esse encontro improvável entre o matador e a criança abre caminho para uma jornada inesperada. Em meio a perseguições e emboscadas, Rasga-Mortalha é forçado a encarar o que deixou para trás, e a repensar o que ainda pode vir pela frente.
Mas não há tempo para diálogos profundos ou grandes construções emocionais: a relação entre Ana e o cangaceiro se dá de forma direta, urgente, como quem não pode desperdiçar palavras enquanto carrega a morte nos calcanhares.
Essa escolha narrativa não é falha, mas sim coerente.
O estilo conciso da história respeita a lógica do ambiente em que está inserida: não há espaço para contemplação quando se é alvo constante das forças do Estado que buscam por sua morte.
Em vez disso, é nas ações, nos gestos e nos silêncios entre as trocas de tiros que a sensibilidade emerge.
Foto: DIVULGAÇÃO/AVOANTE EDITORA
A Avoante Editora - em parceria com a loja de quadrinhos Reboot Comics Store - lança uma campanha de financiamento coletivo para conseguir publicar seu novo quadrinho: "Rasga-Mortalha".
A arte de Jon Bosco é um destaque à parte. O sertão, aqui, não é pano de fundo, é personagem. Com traços expressivos e cenários que respiram calor e solidão, o quadrinista transforma a paisagem árida em elo narrativo. Os detalhes nos rostos, nas armas, nas roupas de couro e nos horizontes rachados pelo sol conferem à obra uma autenticidade necessária.
"Rasga-Mortalha" não foge de um dilema clássico das histórias de cangaço, o de humanizar o fora da lei. Mas faz isso sem romantização excessiva. O pistoleiro, mesmo com o sangue nas mãos e um passado sombrio, não se exime de cuidar da criança que cruza seu caminho.
É nesse gesto que o quadrinho encontra sua força, ao revelar que, mesmo no mais temido dos homens, há espaço para o cuidado e afeto a muito tempo esquecidos.
Trata-se, no fim, de um conto delicado, rápido e visceral. Um fragmento de um Brasil real e imaginado, onde o cangaço, símbolo de resistência, de luta e de contradições, ainda pulsa como ferida e como fábula.
Financiado por meio de campanha coletiva na plataforma Catarse, "Rasga-Mortalha" é mais que um exercício de estilo ou gênero: é uma evocação do Nordeste histórico, onde o cangaço se torna ponto de partida para reflexões sobre justiça, memória e redenção.
Entre balas, promessas e rastros de sangue, a HQ traça uma trilha onde a ficção gráfica e a memória popular caminham lado a lado, como se fossem parte da mesma poeira levantada no chão rachado do sertão. Reforçando, mais uma vez, a força dos quadrinhos independentes.
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