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Helen de Wyndhorn: a fantasia premiada no Eisner
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Jansen Lucas é coordenador de criação no O POVO, publicitário, designer e artista visual. Dedica-se a escrever sobre cultura com foco em produções de quadrinhos, cinema e literatura, explorando as conexões entre arte, narrativa e mídia em seus trabalhos

Jansen Lucas arte e cultura

Helen de Wyndhorn: a fantasia premiada no Eisner

Lançado no Brasil pela editora Suma, o vencedor do prêmio "Prêmio Eisner" , a HQ "Helen de Wyndhorn" é um mergulho na fantasia viva

Quando Lilith Appleton conheceu Helen Cole, a garota tinha apenas 16 anos e carregava nas costas um luto recente: a morte trágica e misteriosa de seu pai, o célebre escritor de fantasia C.K. Cole.

A perda não apenas a deixou órfã, mas também à deriva, sem pontos de apoio familiares. É nesse momento que Lilith, que se tornaria sua tutora, acompanha Helen até a mansão de Wyndhorn. Ali, a jovem conhece, pela primeira vez, o avô paterno, Barnabas, um homem tão intrigante quanto ausente.

O encontro desencadeia mudanças profundas em sua vida, abrindo portas para um universo tão fascinante quanto enigmático.

Criada pela mesma equipe responsável por “Supergirl: Mulher do Amanhã” (2022), “Helen de Wyndhorn” é descrita pelos autores como uma mistura improvável entre “O Mágico de Oz” e “Conan, o Bárbaro”.

Capa Helen de Wyndhorn(Foto: Editora Suma)
Foto: Editora Suma Capa Helen de Wyndhorn

Com roteiro do premiado Tom King, arte da brasileira Bilquis Evely e cores de Matheus Lopes, a HQ nasce de um impulso autoral forte e bem definido. E essa força se refletiu no reconhecimento internacional: em 2025, Bilquis conquistou o Prêmio Eisner de “Melhor Artista/Arte-finalista”, o mais prestigiado da indústria, entregue durante a San Diego Comic-Con.

Embora mergulhe fundo no imaginário da fantasia épica, a obra não se resume a duelos, monstros e aventuras frenéticas.

Pelo contrário: “Helen de Wyndhorn” aposta em uma narrativa introspectiva, que valoriza o peso das conversas, o tempo das revelações e a construção minuciosa de personagens.

A relação entre Helen e o pai, por exemplo, é explorada apenas por meio de fragmentos e memórias. C.K. Cole jamais aparece em cena, mas sua presença é sentida em cada página, como uma sombra ou eco que molda a protagonista.

Apesar do protagonismo de Helen, o fio condutor da história é a perspectiva de Lilith Appleton, sua tutora e narradora. É através dos relatos que Helen compartilha com ela, durante as noites que volta para a mansão Wyndhorn, que o “outro mundo”, um reino paralelo, que pode ser tanto real quanto fruto da imaginação, começa a se desenhar.

Essa ambiguidade é um dos grandes trunfos da obra: o leitor se vê, o tempo todo, dividido em dúvida, tentando decifrar se está diante de memórias verdadeiras ou de fantasias elaboradas para lidar com a perda e o isolamento.

O cenário de Wyndhorn e seu “outro mundo” funcionam mais do que como um pano de fundo para batalhas ou missões. É lá que Helen desenvolve seu processo de amadurecimento e superação do luto da morte precoce do pai, e se reconecta com a própria história.

HQ Helen de Wyndhorn vencedora do premio Eisner de "Melhor Artista-Arte-finalista" em 2025(Foto: Editora Suma)
Foto: Editora Suma HQ Helen de Wyndhorn vencedora do premio Eisner de "Melhor Artista-Arte-finalista" em 2025

Ao lado do avô Barnabas, ela explora territórios repletos de criaturas, lendas e perigos, mas também descobre vínculos, afetos e um sentido de pertencimento. A construção desse universo é detalhada, rica em mitologia interna e cheia de vida — a ponto de provocar no leitor o desejo de permanecer ali, explorando cada canto.

Visualmente, “Helen de Wyndhorn” é um espetáculo. Bilquis Evely trabalha cada página com atenção a expressões, gestos e atmosferas, criando personagens que respiram, mesmo quando estão fora do foco principal.

A fluidez narrativa é marcada por composições que equilibram grandiosidade e intimismo, sempre com uma linguagem visual coerente e sofisticada.

O trabalho de Matheus Lopes nas cores é igualmente fundamental, sua paleta ora reforça o clima sombrio e introspectivo da trama, ora amplia a sensação de maravilhamento diante do “outro mundo”. É uma sinergia que transforma a leitura em experiência sensorial.

As referências a “O Mágico de Oz” e “Conan” são evidentes, mas a HQ vai além de comparações diretas. Há ecos de “As Crônicas de Nárnia”, “O Senhor dos Anéis” e “Dungeons & Dragons”, todos integrados de forma orgânica, sem a sensação de colagem ou fan service. King e Evely constroem algo próprio, um mundo que dialoga com a tradição da fantasia sem perder frescor e identidade.

Mais do que um presente para fãs do gênero, “Helen de Wyndhorn” é uma história sobre legado, luto e busca por pertencimento. É sobre como memórias, reais ou inventadas, podem se tornar portais para compreender a si mesmo.

Ao virar a última página, resta ao leitor a pergunta que ecoa como feitiço: e se o “outro mundo” for, afinal, mais real do que imaginamos?

Serviço

Helen de Wyndhor

  • Onde encontrar: www.companhiadasletras.com.br
  • Valor: R$ 99,90

Em Fortaleza

Reboot Comic Store

Onde: R. Carapinima, 2200 - Loja 127 - Terreo Benfica, Fortaleza - CE
Valor: R$ 99,90

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