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A vacinação contra leishmaniose está suspensa; e agora, como previno o calazar?
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Jéssica Castelo Branco é médica veterinária formada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). Fez residência multiprofissional com ênfase em reprodução animal pela mesma Instituição. Atualmente, dedica-se a clínica médica de pequenos animais e é professora de curso técnico profissionalizante para auxiliares de veterinários

A vacinação contra leishmaniose está suspensa; e agora, como previno o calazar?

Doença que afeta cachorros e também humanos tem o mosquito-palha como vetor
Mutirão de encoleiramento de cães contra calazar realizado em 2021 em Fortaleza; prevenção de picada de mosquito é o melhor caminho de prevenção (Foto: Thais Mesquita em 12/08/2021)
Foto: Thais Mesquita em 12/08/2021 Mutirão de encoleiramento de cães contra calazar realizado em 2021 em Fortaleza; prevenção de picada de mosquito é o melhor caminho de prevenção

Para a estreia da nossa coluna, nada melhor do que trazer pra você, querido leitor, informações valiosas para proteger o seu lar da leishmaniose — o temido calazar — que, além de ser terrível para cães infectados, pode ainda ser transmitida para o ser humano.

Desde 2008 tínhamos uma aliada na luta contra essa doença: a vacina Leish-Tec. Mas, em maio de 2023, o laboratório responsável pela fabricação e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) suspenderam sua fabricação e comercialização da vacina alegando “desvio de conformidade do produto, que poderia ocasionar falta de eficácia da vacina, gerando risco à saúde animal e a saúde humana”. A partir de então os tutores precisaram redobrar os cuidados com a prevenção da leishmaniose.

Essa doença é transmitida para o cão e para o ser humano pelo que chamamos de vetor. Vetores são animais que participam do ciclo de transmissão de algumas doenças. Para o calazar, o vetor em questão é o mosquito flebótomo conhecido como mosquito-palha ou birigui. Sendo assim, como para outras doenças transmitidas por mosquitos, o nosso foco na hora da prevenção deve ser o combate a este vetor.

Todo brasileiro já sabe que para se proteger de dengue, chikungunya e zika deve-se acabar com todos os focos de água parada, pois é ali que o mosquito Aedes aegypti gosta de se reproduzir. Mas, quando estamos falando do flebótomo transmissor da leishmaniose, o cenário ideal para a reprodução muda. As fêmeas de flebótomo costumam fazer a deposição de seus ovos em matéria orgânica em decomposição.

Você pode estar se perguntando: “O que é e onde está essa matéria orgânica em decomposição na minha casa?”. E a resposta pra essa pergunta pode ser, por vezes, assustadora. Isso porque quase todos os resíduos domésticos, frutas e folhas que caem no quintal, esgoto a céu aberto, e até mesmo o cocô seu pet é matéria orgânica em decomposição. Essa informação nos permite ter a dimensão do quão pode ser desafiador acabar com os reservatórios desses mosquitos.

É por isso que, além dos esforços para acabar com esses hotéis 5 estrelas para o flebótomo, devemos também impedir que ele chegue até os cães, usando repelentes. Esses repelentes podem ser do tipo tópico — geralmente na apresentação spray ou pipetas — e podem também estar impregnados em coleiras de uso contínuo. Então, assim que completar a leitura do seu jornal, vá à petshop mais próximo e providencie esses itens para seu pet. Pesquise por marcas e laboratórios de renome para aumentar ainda mais a segurança de utilização desses produtos, evitando assim intoxicações.

E quanto às pessoas, como nos protegermos da picada desse mosquito?

É importante salientar que somente mosquitos que picam cães infectados podem transmitir a doença. Logo, quanto menos cães positivos tivermos na nossa cidade, menor será a taxa de transmissão para humanos.

Na sua casa, é importante telar as janelas, realizar o descarte correto do lixo não deixando-o acumular, realizar periodicamente a poda das árvores e a coleta dos frutos que possam cair no chão. Repelentes também nos ajudam a afastar o mosquito.

E, por fim, porém não menos importante, é preciso também que sejamos um pouco “agentes de saúde”. Precisamos levar informação acerca da transmissão e prevenção dessa doença para nossos familiares e amigos, assim como também cobrar do poder público a realização de limpeza frequente em locais de acúmulo de lixo, a implementação de saneamento básico e ampliação de programas com foco na prevenção dessa e outras zoonoses. Para nos protegermos dessa doença é preciso um trabalho coletivo, como um verdadeiro time: “Unidos contra o flebótomo.

Foto do Jéssica Castelo Branco

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