Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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A segunda maior economia do Ocidente encerrará amanhã um período de 16 anos com Angela Merkel no cargo de chanceler da Alemanha. A popular líder da centro-direita entra em justa e merecida aposentadoria para dar lugar ao social-democrata Olaf Scholz, que recebe o bastão já com alguns difíceis pepinos a serem descascados. A começar pelo enfrentamento à quarta onda de Covid-19 instalada na Europa e às resistências de parte significativa da população que não quer se imunizar.
O objetivo de Scholz é aprovar no Parlamento a obrigatoriedade da vacina em fevereiro ou março de 2022. Para isso, contou com a própria Merkel, que apelou no último sábado, em vídeo de despedida, à parcela da população que ainda não tomou a vacina para rever as ideias negacionistas, alertando para os riscos da variante Ômicron.
A prioridade do novo governo alemão com a pandemia é possível de ser constatada na escolha para ministro da Saúde. Embora lidere uma heterodoxa coalizão com os Liberais, de centro-direita, e os Verdes de centro-esquerda, Scholz nomeou para a pasta alguém de sua proximidade. Um dos cientistas mais respeitados do país, o social-democrata Karl Lauterbach se notabilizou desde março do ano passado como uma das vozes mais ativas dentro do Parlamento e nas redes sociais em defesa de medidas de maior restrição contra a pandemia.
Dono de um estilo mais sóbrio, como o de sua antecessora, Scholz precisará colocar em prática o que aprendeu com Merkel no que diz respeito a diálogo. A coalizão liderada pelo futuro chanceler inclui distintas prioridades de agendas, cabendo a ele acomodar esses interesses e construir uma identidade própria com respaldo junto à população alemã.
Além da pandemia, Scholz também terá de lidar com desafios que vão exigir mais da capacidade de moderação. A pauta ambiental é uma questão que norteia a agenda dos Verdes, mas que pode ter maior resistência entre os Liberais, reticentes com o aumento de gastos públicos para uma modernização industrial mais sustentável. Sobretudo em um contexto de previsão de volta da inflação e com crescimento econômico aquém do esperado.
Pouco afeito a declarações polêmicas ou de impacto e apelidado de “Encarnação do tédio” pela imprensa alemã, Olaf Scholz parece, em teoria, ser o nome certo para essa concertação de interesses. Um social-democrata de centro-esquerda que prioriza em discurso a pauta ambiental, mas que protagonizou uma política econômica austera enquanto foi ministro das Finanças de Angela Merkel, uma líder com grande capacidade para administrar crises e que conseguiu um raro feito: ficar 16 anos no poder e sair com popularidade em alta.
Mesmo sendo de um partido que é rival histórico da CDU de Merkel, a tendência na Alemanha sob a batuta de Olaf Scholz é muito mais de continuidade com discretas mudanças do que uma ruptura total. Talvez não haja nada típico da Alemanha pós-reunificação que alternar poder entre democratas-cristãos e sociais-democratas sem que isso signifique um cavalo de pau no governo.
Embora estejamos no ocaso do 21º ano do 21º século da Era Comum, ainda é fundamental destacar medidas que estimulam a igualdade de gênero. O gabinete de 16 ministros de Olaf Scholz é composto por oito mulheres e oito homens, com elas ocupando postos-chave como os das Relações Exteriores, do Interior, da Defesa e do Meio Ambiente.
É com muito entusiasmo que inauguro hoje este espaço no O POVO, com os agradecimentos à Casa pela oportunidade. Todas as terças-feiras, esta coluna trará um olhar aos assuntos em maior evidência na Política Internacional. Se o que acontece em Brasília costuma ganhar maior destaque nas páginas, nos portais e nas rodas de discussão sobre Política, a história recente tem mostrado que os fatos ocorridos lá fora quase que invariavelmente têm impacto ao que acontece pelas bandas de cá e têm muito mais a ver conosco do que podemos imaginar. Portanto, fica aqui o convite para ler, comentar e debater os temas aqui tratados. Até a próxima.
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