Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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Os altos escalões das diplomacias de Estados Unidos e Rússia terão a partir do próximo domingo, 9, em Genebra reuniões com intuito de frear as tensões na fronteira russa com a Ucrânia. Desde o último mês de dezembro, o presidente ucraniano Volodimir Zelenski tem acusado Moscou de mobilizar tropas próximas ao limite leste de seu país, atribuindo a Vladimir Putin a organização de uma invasão “iminente”. Cerca de 100 mil militares russos se concentram perto da fronteira com a Ucrânia.
Os Estados Unidos e a União Europeia seguem prometendo aplicar sanções ainda mais rígidas à Rússia, caso a invasão ocorra. Por telefone no último domingo, 2, Joe Biden disse a Zelenski que responderia “decisivamente” se as tropas russas cruzassem a fronteira. Putin, por sua vez, responde às tentativas do Ocidente de aumentar influência em países que fazem fronteira com a Rússia. Rejeitando, por exemplo, a ideia de que a Otan esteja logo ao lado em eventual ingresso da Ucrânia na aliança militar.
As tensões na região não começaram ontem. Em 1954, o então líder soviético Nikita Khrushchev transferiu a Crimeia da Rússia para a Ucrânia, como forma de fortalecer os laços entre as duas principais repúblicas socialistas. Com a dissolução da União Soviética em 1991, a Crimeia seguiu fazendo parte do território ucraniano, mesmo tendo uma população de maioria russófona.
Após a dissolução da URSS – que completou 30 anos há pouco mais de uma semana – o Kremlin começou a colocar em prática a chamada Doutrina Karaganov. O preceito fundamental dela é que cabe à Rússia proteger e sair em defesa dos direitos de todos cidadãos etnicamente russos que ficaram em outras ex-repúblicas soviéticas após 1991.
Em 2014, os protestos da Praça Maidan em Kiev derrubaram o presidente Viktor Yanukovych, aliado de Putin. Com isso, criou-se o pretexto para a Rússia invadir a Crimeia. Um referendo logo depois teve como resultado a esmagadora maioria da população votando pela anexação da península à Rússia.
Ou seja, hoje a Rússia considera a península da Crimeia como sendo parte de seu território, embora esse reconhecimento não exista para a maior parte da comunidade internacional, muito menos da própria Ucrânia. Em paralelo à invasão da Crimeia, Moscou fomenta desde então grupos separatistas na região do Donbass, à leste da Ucrânia, e onde possível invasão russa indicada por Volodimir Zelenski ocorreria hoje.
Dado esse contexto, existe a chance de uma escalada de tensões que levaria a uma invasão russa? Sim, há. Mas as sinalizações dadas até o momento apontam que para isso ocorrer ainda há um longo caminho.
Primeiro porque os ganhos não compensariam para ambos os lados. Não faz muito sentido para a Rússia ter de lidar com os prejuízos que mais sanções dos EUA ou por em risco o comércio de gás natural com a União Europeia, fundamental para a economia russa.
Segundo, não existe internamente na população russa o apoio ou sentimento de necessidade de uma intervenção militar neste momento. Muito menos contra a Ucrânia, com quem a Rússia compartilhou por séculos, até 1991, o mesmo Estado e laços culturais entre os povos.
Finalmente, por mais que a Rússia tenha capacidade de intervenção militar para chegar rapidamente a Kiev, isso não é fácil, não é barato e tem o custo de algumas centenas ou milhares de vidas de soldados e civis pelo caminho. Vale lembrar: a Ucrânia é o maior país da Europa com território localizado integralmente em continente europeu.
Nessa segunda-feira, 3, não por acaso, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU divulgaram comunicado conjunto de compromisso para evitar uma guerra entre potência nucleares. EUA, Rússia, China, Reino Unido e França afirmaram que impedir um conflito entre países que possuem armas atômicas é uma "responsabilidade" prioritária.
Na prática, o comunicado ajuda a esfriar os ânimos e reforça as palavras de Joe Biden de que uma presença militar americana em defesa da Ucrânia é algo descartado. Assim, a saída mais provável para uma resolução seja mesmo pela via diplomática. Resta saber os tamanhos dos passos que as reuniões do fim de semana em Genebra darão.
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