Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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Rússia e Estados Unidos deram continuidade nos últimos dois dias em Genebra a negociações a fim de que seja arrefecida a situação na fronteira com a Ucrânia, em meio à tensão de que os russos possam invadir seu vizinho pró-Ocidente. No entanto, é pouco provável os encontros entre a vice-secretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman, e seu homólogo russo, o vice-ministro das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, avancem nesta semana a ponto de que a crise tenha uma solução a curto prazo.
Chegar a um denominador comum nessa situação é difícil porque ninguém parece querer dar o braço a torcer. De um lado, a Rússia trata como inegociável não permitir o ingresso da Ucrânia à Otan. Do outro, os EUA se recusam a dar garantias de que a Aliança do Atlântico não irá trazer para si um aliado tão estratégico. A essa altura, qualquer recuo ou concessão pode ser entendido como sinal de fraqueza ou derrota.
Após o encontro de ontem, Riabkov assegurou que não é interesse da Rússia invadir a Ucrânia e que pretende dar continuidade às negociações. Sherman, por sua vez, voltou a alertar sobre aplicação de sanções econômicas em caso de eventual escalada militar e repetiu que a “política de portas abertas” da Otan seguirá em vigência.
Na coluna da semana passada falei a respeito das possibilidades de haver uma invasão propriamente dita por parte da Rússia e de como a questão da Crimeia e a tensão de fronteira entre russos e ucranianos não é algo que surgiu ontem. As falas dos atores envolvidos nas negociações em Genebra e até mesmo situações envolvendo outros países nos últimos dias reforçaram a ideia de que Vladimir Putin e o Ocidente disputam um maior controle de influência na região.
Enquanto Wendy Sherman e Serguei Riabkov queimavam pestanas e tomavam chocolate nas negociações em Genebra, Putin se reuniu por videoconferência com presidentes de ex-repúblicas soviéticas para falar sobre o Cazaquistão. O país da Ásia Central dividiu holofotes na última semana por conta dos protestos de opositores contra o governo de Kassym-Jomart Tokayev, aliado de primeira hora do Kremlin.
Manifestações contra o aumento no preço dos combustíveis entre os dias 2 e 9 janeiro deixaram como saldo a morte de 164 pessoas e a prisão de outras 7,9 mil. Cerca de 2 mil cazaques ficaram feridos nos protestos. Tudo isso com Tokayev falando sem o menor pudor ou culpa de que as forças de segurança tinham permissão para atirar para matar. Uma barbárie de Estado. A medida extrema se dava, claro, com o aval de Putin.
A Rússia liderou com cerca de 2 mil militares uma força da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), uma espécie de Otan para as ex-repúblicas soviéticas aliadas com o Kremlin. No encontro de ontem, Tokayev afirmou que os protestos foram uma “tentativa de golpe” contra ele.
Putin foi além. O presidente russo afirmou que o Cazaquistão foi alvo de “terrorismo internacional” organizado por homens armados, com “experiência em combate” que foram treinados em “centros no exterior”. Disse ainda que Moscou não iria admitir “revoluções coloridas”. A expressão é usada pela Rússia para se referir a revoltas populares em países da antiga União Soviética estimuladas pelo Ocidente desde os anos 2000.
O presidente russo não poderia ser mais transparente sobre como não pretende abrir mão do controle dessa esfera de influência regional e de como não está disposto a ceder ao Ocidente um milímetro de seu quintal.
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