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Putin não negocia o quintal dele
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

Putin não negocia o quintal dele

Tipo Opinião
 O PRESIDENTE russo, Vladimir Putin (Foto: ALEXEY NIKOLSKY / SPUTNIK / AFP)
Foto: ALEXEY NIKOLSKY / SPUTNIK / AFP  O PRESIDENTE russo, Vladimir Putin

Rússia e Estados Unidos deram continuidade nos últimos dois dias em Genebra a negociações a fim de que seja arrefecida a situação na fronteira com a Ucrânia, em meio à tensão de que os russos possam invadir seu vizinho pró-Ocidente. No entanto, é pouco provável os encontros entre a vice-secretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman, e seu homólogo russo, o vice-ministro das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, avancem nesta semana a ponto de que a crise tenha uma solução a curto prazo.

Chegar a um denominador comum nessa situação é difícil porque ninguém parece querer dar o braço a torcer. De um lado, a Rússia trata como inegociável não permitir o ingresso da Ucrânia à Otan. Do outro, os EUA se recusam a dar garantias de que a Aliança do Atlântico não irá trazer para si um aliado tão estratégico. A essa altura, qualquer recuo ou concessão pode ser entendido como sinal de fraqueza ou derrota.

Após o encontro de ontem, Riabkov assegurou que não é interesse da Rússia invadir a Ucrânia e que pretende dar continuidade às negociações. Sherman, por sua vez, voltou a alertar sobre aplicação de sanções econômicas em caso de eventual escalada militar e repetiu que a “política de portas abertas” da Otan seguirá em vigência.

A vice-secretária de Estado dos EUA Wendy Sherman (E) e o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov (D) posam para fotos enquanto participam de negociações de segurança sobre as crescentes tensões na Ucrânia, na Missão Permanente dos EUA, em Genebra, em 10 de janeiro de 2022.(Foto: DENIS BALIBOUSE / POOL / AFP)
Foto: DENIS BALIBOUSE / POOL / AFP A vice-secretária de Estado dos EUA Wendy Sherman (E) e o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov (D) posam para fotos enquanto participam de negociações de segurança sobre as crescentes tensões na Ucrânia, na Missão Permanente dos EUA, em Genebra, em 10 de janeiro de 2022.

Cazaquistão e o exemplo de como Putin pensa

Na coluna da semana passada falei a respeito das possibilidades de haver uma invasão propriamente dita por parte da Rússia e de como a questão da Crimeia e a tensão de fronteira entre russos e ucranianos não é algo que surgiu ontem. As falas dos atores envolvidos nas negociações em Genebra e até mesmo situações envolvendo outros países nos últimos dias reforçaram a ideia de que Vladimir Putin e o Ocidente disputam um maior controle de influência na região.

Enquanto Wendy Sherman e Serguei Riabkov queimavam pestanas e tomavam chocolate nas negociações em Genebra, Putin se reuniu por videoconferência com presidentes de ex-repúblicas soviéticas para falar sobre o Cazaquistão. O país da Ásia Central dividiu holofotes na última semana por conta dos protestos de opositores contra o governo de Kassym-Jomart Tokayev, aliado de primeira hora do Kremlin.

Esta imagem de divulgação do serviço de imprensa presidencial do Cazaquistão em 7 de janeiro de 2022 mostra o presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, fazendo um discurso público em Almaty.(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Esta imagem de divulgação do serviço de imprensa presidencial do Cazaquistão em 7 de janeiro de 2022 mostra o presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, fazendo um discurso público em Almaty.

Manifestações contra o aumento no preço dos combustíveis entre os dias 2 e 9 janeiro deixaram como saldo a morte de 164 pessoas e a prisão de outras 7,9 mil. Cerca de 2 mil cazaques ficaram feridos nos protestos. Tudo isso com Tokayev falando sem o menor pudor ou culpa de que as forças de segurança tinham permissão para atirar para matar. Uma barbárie de Estado. A medida extrema se dava, claro, com o aval de Putin. 

A Rússia liderou com cerca de 2 mil militares uma força da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), uma espécie de Otan para as ex-repúblicas soviéticas aliadas com o Kremlin. No encontro de ontem, Tokayev afirmou que os protestos foram uma “tentativa de golpe” contra ele.

O presidente russo, Vladimir Putin, participa de uma reunião de emergência por vídeo do Conselho da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) focada na situação no Cazaquistão após protestos violentos, na residência do estado de Novo-Ogaryovo, nos arredores de Moscou, em 10 de janeiro de 2022 .(Foto: ALEXEY NIKOLSKY / SPUTNIK / AFP)
Foto: ALEXEY NIKOLSKY / SPUTNIK / AFP O presidente russo, Vladimir Putin, participa de uma reunião de emergência por vídeo do Conselho da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) focada na situação no Cazaquistão após protestos violentos, na residência do estado de Novo-Ogaryovo, nos arredores de Moscou, em 10 de janeiro de 2022 .

Putin foi além. O presidente russo afirmou que o Cazaquistão foi alvo de “terrorismo internacional” organizado por homens armados, com “experiência em combate” que foram treinados em “centros no exterior”. Disse ainda que Moscou não iria admitir “revoluções coloridas”. A expressão é usada pela Rússia para se referir a revoltas populares em países da antiga União Soviética estimuladas pelo Ocidente desde os anos 2000.

O presidente russo não poderia ser mais transparente sobre como não pretende abrir mão do controle dessa esfera de influência regional e de como não está disposto a ceder ao Ocidente um milímetro de seu quintal.

 

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