Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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Se nada de extraordinário acontecer, Jair Bolsonaro (PL) estará daqui uma semana na Rússia para um encontro com Vladimir Putin. A visita do presidente brasileiro a Moscou ocorre naquele que provavelmente é o momento de maior tensão da Rússia com o Ocidente desde o fim da Guerra Fria.
Mais de 100 mil soldados russos estão posicionados na fronteira leste da Ucrânia, o que os Estados Unidos e a Otan interpretam como um movimento de iminente invasão. Por outro lado, o Kremlin condiciona a saída dessas tropas ao recuo das tentativas de incluir a Ucrânia na aliança militar.
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Mas por que raios Bolsonaro inventou de ir a Moscou logo agora? A viagem do presidente brasileiro pode ser explicada sob dois prismas. Do ponto de vista econômico, Bolsonaro vai encontrar um importante parceiro comercial e membro dos Brics, que andam meio em baixa como bloco, mas seguem relevantes.
A principal pauta deve ser a questão do acesso brasileiro aos fertilizantes russos, depois que o país europeu impôs cotas de exportação. Como o Brasil não é autossuficiente desses produtos, o agronegócio brasileiro demonstra preocupação com eventual desabastecimento.
No aspecto político, o objetivo de Bolsonaro é demonstrar, em ano de eleição, que não está isolado internacionalmente por questões ambientais e sanitárias, e que consegue dialogar com líderes conservadores com protagonismo mundial como Putin. Sobretudo após a derrota de Donald Trump em 2020 e o bem sucedido tour do ex-presidente Lula (PT) pela Europa em novembro do ano passado.
De quebra, quem sabe Bolsonaro não sai da Praça Vermelha de bem com o próprio ego por uma declaração como a que Putin fez a ele destacando as “qualidades masculinas” do presidente brasileiro.
O timing da visita de Bolsonaro definitivamente não é dos melhores. Um atenuante é que o encontro foi acordado em novembro após encontro do chanceler Carlos França com seu homólogo russo Sergey Lavrov. Embora a tensão na região já existisse à época, não chegava perto do atual momento.
A desconfiança que a viagem de Bolsonaro a Moscou gera é se ela pode significar uma demonstração de apoio à Rússia na questão da fronteira com a Ucrânia. Até o momento, o Itamaraty tem dado declarações protocolares sobre o conflito, defendendo uma resolução por meio do diálogo e das vias diplomáticas. Uma decisão prudente.
Por mais que não possamos duvidar da capacidade de Bolsonaro surpreender ao abrir a boca, a probabilidade desse distanciamento do Brasil mudar é baixa. A Política Externa Brasileira, por incrível que pareça, ainda consegue preservar a imagem de pragmatismo e diálogo com diferentes atores do cenário internacional.
Somente um fator novo ou uma declaração fora da linha podem levar à interpretação da viagem de Bolsonaro à Rússia neste momento como um endosso à Rússia por uma incursão militar na Ucrânia.
Putin, por sua vez, não vai achar de todo mal um encontro com o presidente de um país que ocupa assento rotativo no Conselho de Segurança da ONU. Ainda mais da América Latina, logo ali “ao lado” dos EUA.
Fortaleza sediou em julho de 2014 a 6ª Cúpula dos Brics. O encontro ocorreu três meses após a Rússia invadir a Ucrânia e anexar a Crimeia. Na época, o bloco de países emergentes estava na crista da onda, com economias que conseguiram sair relativamente bem da crise de 2008.
O governo Dilma Rousseff (PT) na ocasião se manteve afastado da questão, adotando política de não interferir ou atuar em assuntos internos de outros países. Diferente de Lula, seu antecessor, com atuação diplomática mais ativa em questões como a crise nuclear iraniana, por exemplo.
A principal pauta do encontro em Fortaleza foi o acordo de criação do Banco dos Brics, com fundo socorro aos países-sócios girando na casa dos US$ 100 bilhões. A Crimeia foi tema que passou batido.
A Política internacional não tem dado muito descanso para quem tenta acompanha-la com mais atenção. Mas este colunista também precisa de um pouco de férias. Em breve estarei de volta e, pelo andar da carruagem, não vai faltar assunto.
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