
Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
Na França, entrando em reta final da disputa no 2º turno, Emmanuel Macron e Marine Le Pen ficam frente a frente amanhã para o debate televisionado entre os postulantes à cadeira presidencial do Palácio Eliseu, quatro dias antes dos franceses irem às urnas. Diferentemente do Brasil, onde os candidatos costumam rodar emissoras fazendo duelos de propostas, ideias, réplicas e tréplicas, na França eles se encontram apenas uma vez, o que aumenta a importância do debate. Principalmente na tentativa de conquistar os eleitores indecisos.
Na eleição de 2017, o debate entre os mesmos Macron e Le Pen não chegou a ser decisivo para o resultado final. Afinal, o candidato de centro venceu com folgada margem de votos (66,1% x 33,9%). No entanto, o encontro de cinco anos atrás mostrou a líder da extrema-direita com um discurso agressivo tentando reverter sua desvantagem e que deixou transparecer o vazio de ideias de sua plataforma de campanha à época diante de Macron.
Para esta eleição, Le Pen tentou amenizar o discurso. Como slogan de campanha, tascou um “Mulher de Estado” ("Femme d'Etat") estampado nos cartazes com a foto dela espalhados pelas principais cidades francesas, na tentativa de se mostrar como uma política “moderada” e aberta ao diálogo. Pode até ter colado em parcela do eleitorado, mas ainda parece pouco para convencer a maioria dos franceses de que ela é a melhor escolha para o cargo.
Por outro lado, Macron não tem mais o frescor de cinco anos atrás. Desgastado após um mandato marcado por protestos dos “coletes amarelos”, pandemia da Covid-19 e suas consequências e, mais recentemente, as frustradas tentativas de evitar a Guerra na Ucrânia, o presidente francês vai para o debate sabendo que não terá vida tão fácil.
As pesquisas apontam um favoritismo ainda confortável para Macron, com estimativas de vitória por 56% a 44%, aproximadamente. Para amanhã, a tendência é que a estratégia do presidente deva ser a de expor as fragilidades da plataforma econômica de Le Pen e relembrar o quanto a candidata da extrema-direita sempre se mostrou eurocética e elogiosa ao presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Assim como tentar distanciar a própria imagem de alguém muito à direita, para atrair os eleitores do candidato de esquerda Jean-Luc Mélenchon, 3º colocado no primeiro turno com cobiçados 22% dos votos.
Leia mais
Os nove dias que já se passaram desde a confirmação do resultado no 1º turno serviram também para deixar mais claras as estratégias de Emmanuel Macron e Marine Le Pen para vencer nas urnas. Após décadas construindo uma trajetória política ligada à pauta anti-imigração – tema historicamente muito sensível no debate político e social francês – a candidata do Reagrupamento Nacional mostrou que, por mais que queira emplacar um discurso moderado, é muito difícil ir contra a própria natureza. Ou pelo menos contra a base eleitoral que a sustenta.
Le Pen voltou a afirmar que, caso chegue ao poder, o governo irá multar as mulheres que usarem em público o “hijab”, véu tradicionalmente usado por muçulmanas. Macron, por sua vez, aproveitou para criticar a proposta e se mostrar, como ele próprio diz, um “defensor da liberdade religiosa”.
Verdade seja dita também que Macron, justamente para tentar trazer para si o eleitor mais à direita na França, já causou controvérsia entre muçulmanos ao falar em “separatismo islâmico” após série de ataques na França no fim de 2020. De qualquer forma, grupos como a Grande Mesquita de Paris e a Congregação dos Muçulmanos da França se manifestaram em favor de Macron na eleição de domingo.
Cerca de 5 milhões de muçulmanos estão aptos a votar na França, o que representa por volta de 9% do eleitorado. Quase 70% dessa parcela da população votou no 1º turno em Jean-Luc Mélenchon.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.