Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
.
Mais de 200 mil pessoas em exílio forçado, 38.254 torturadas, 1.747 assassinadas, 1.469 desaparecidas das quais 1.162 nunca foram encontradas. Os números oficiais são poucos e frios para dar conta da barbaridade posta em prática pelo regime de Augusto Pinochet desde o primeiro dia de ditadura após o golpe que derrubou e matou Salvador Allende naquele 11 de setembro de 1973.
Diálogos entre o então presidente americano Richard Nixon e Henry Kissinger – que se tornaria secretário de Estado 11 dias após o golpe – são apenas algumas das provas documentadas e já reveladas que confirmam a participação direta dos EUA na derrubada de Allende. O Chile pressiona a Casa Branca para que mais arquivos venham a público. Os EUA sempre temeram que a experiência socialista chilena tivesse êxito e se replicasse no continente e nunca se desculparam pela participação no golpe.
Salvador Allende foi o primeiro socialista a chegar ao poder por meio do voto popular nas Américas. Tinha o respeito de lideranças europeias, que o viam como um homem de esquerda da política tradicional que dialogava e não como um revolucionário.
Também por isso o golpe que resultou em sua morte segue como evento histórico marcante até hoje em todo o mundo. O período Pinochet mudou a percepção da comunidade internacional em relação a violações de direitos humanos.
Mesmo com boicotes e tentativas de bloqueio lideradas pelos EUA, Allende tentou implantar suas reformas. Com um discurso direto e marcante, foi aplaudido de pé na Assembleia Geral da ONU um ano antes do golpe denunciando as tentativas de intervenção internacional à soberania chilena.
Cinquenta anos depois, o golpe no Chile segue como uma neoplasia maligna, que tem fragmentado cada vez mais o país com o recrudescimento de forças antidemocráticas saudosas de um período que nada teve de bom. De caráter totalitária, que em muitos aspectos se inspirava no nazifascismo alemão, a ditadura Pinochet foi cruel, violenta, corrupta e mentirosa ao vender a ideia de um desenvolvimento econômico que nunca existiu.
Embora tenha grande repercussão internacional, a sociedade chilena tem dado mais atenção à crise econômica e o problema da segurança pública no país. Questões que fazem crescer a parcela da população que é “viúva da ditadura”. Enquanto isso, a extrema-direita tenta capitalizar politicamente o aparente desinteresse interno com a data.
Para se ter uma ideia do buraco em que o Chile pode se meter caso essa extrema-direita volte ao poder. Algumas das principais lideranças conservadoras se abstiveram de assinar um compromisso em "defender a democracia das ameaças autoritárias", promovido pelo presidente Gabriel Boric e firmado por todos seus antecessores vivos, inclusive os de centro-direita.
Os eventos dos últimos dias para rememorar o golpe e homenagear as vítimas ocorrem com o Chile a poucos meses de decidir se muda a Constituição ou mantém a carta do período pinochetista. O que não quer necessariamente dizer que o texto em fase final de redação tenha uma diretriz progressista, pois a maioria dos constituintes eleitos estão no espectro conservador e uma outra proposta mais à esquerda já foi rejeitada pela população.
Em um dos atos desse fim de semana, cerca de 6 mil mulheres vestidas de preto fizeram o ato mais marcante desses 50 anos de golpe. Com velas nas mãos, e ao som de tambores, elas cercaram na noite de domingo, 10, o palácio presidencial sob o lema "Democracia bombardeada nunca mais", em referência ao ataque aéreo lançado contra o La Moneda em 11 de setembro de 1973.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.