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Um Chile dividido 50 anos após o golpe
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

Um Chile dividido 50 anos após o golpe

Tipo Opinião
CERCA de 6 mil mulheres marcharam 
com velas em Santiago contra o golpe de 1973 (Foto: PABLO VERA / AFP)
Foto: PABLO VERA / AFP CERCA de 6 mil mulheres marcharam com velas em Santiago contra o golpe de 1973

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Mais de 200 mil pessoas em exílio forçado, 38.254 torturadas, 1.747 assassinadas, 1.469 desaparecidas das quais 1.162 nunca foram encontradas. Os números oficiais são poucos e frios para dar conta da barbaridade posta em prática pelo regime de Augusto Pinochet desde o primeiro dia de ditadura após o golpe que derrubou e matou Salvador Allende naquele 11 de setembro de 1973.

Diálogos entre o então presidente americano Richard Nixon e Henry Kissinger – que se tornaria secretário de Estado 11 dias após o golpe – são apenas algumas das provas documentadas e já reveladas que confirmam a participação direta dos EUA na derrubada de Allende. O Chile pressiona a Casa Branca para que mais arquivos venham a público. Os EUA sempre temeram que a experiência socialista chilena tivesse êxito e se replicasse no continente e nunca se desculparam pela participação no golpe.

A figura de Allende

Salvador Allende foi o primeiro socialista a chegar ao poder por meio do voto popular nas Américas. Tinha o respeito de lideranças europeias, que o viam como um homem de esquerda da política tradicional que dialogava e não como um revolucionário.

Também por isso o golpe que resultou em sua morte segue como evento histórico marcante até hoje em todo o mundo. O período Pinochet mudou a percepção da comunidade internacional em relação a violações de direitos humanos. 

Mesmo com boicotes e tentativas de bloqueio lideradas pelos EUA, Allende tentou implantar suas reformas. Com um discurso direto e marcante, foi aplaudido de pé na Assembleia Geral da ONU um ano antes do golpe denunciando as tentativas de intervenção internacional à soberania chilena.

Os efeitos do golpe atualmente

Cinquenta anos depois, o golpe no Chile segue como uma neoplasia maligna, que tem fragmentado cada vez mais o país com o recrudescimento de forças antidemocráticas saudosas de um período que nada teve de bom. De caráter totalitária, que em muitos aspectos se inspirava no nazifascismo alemão, a ditadura Pinochet foi cruel, violenta, corrupta e mentirosa ao vender a ideia de um desenvolvimento econômico que nunca existiu.

Embora tenha grande repercussão internacional, a sociedade chilena tem dado mais atenção à crise econômica e o problema da segurança pública no país. Questões que fazem crescer a parcela da população que é “viúva da ditadura”. Enquanto isso, a extrema-direita tenta capitalizar politicamente o aparente desinteresse interno com a data. 

Para se ter uma ideia do buraco em que o Chile pode se meter caso essa extrema-direita volte ao poder. Algumas das principais lideranças conservadoras se abstiveram de assinar um compromisso em "defender a democracia das ameaças autoritárias", promovido pelo presidente Gabriel Boric e firmado por todos seus antecessores vivos, inclusive os de centro-direita. 

Os eventos dos últimos dias para rememorar o golpe e homenagear as vítimas ocorrem com o Chile a poucos meses de decidir se muda a Constituição ou mantém a carta do período pinochetista. O que não quer necessariamente dizer que o texto em fase final de redação tenha uma diretriz progressista, pois a maioria dos constituintes eleitos estão no espectro conservador e uma outra proposta mais à esquerda já foi rejeitada pela população.

Em um dos atos desse fim de semana, cerca de 6 mil mulheres vestidas de preto fizeram o ato mais marcante desses 50 anos de golpe. Com velas nas mãos, e ao som de tambores, elas cercaram na noite de domingo, 10, o palácio presidencial sob o lema "Democracia bombardeada nunca mais", em referência ao ataque aéreo lançado contra o La Moneda em 11 de setembro de 1973.

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