
Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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A posse de Javier Milei como presidente da Argentina no último domingo, 10, reservou alguns simbolismos que vão além dos formalismos protocolares que cerimônias do tipo guardam.
Mesmo que convidado e posicionado em um local de destaque durante o evento, Jair Bolsonaro proporcionou um pequeno circo ao participar do evento em Buenos Aires. Com todo o respeito aos picadeiros.
Tentando ocupar o espaço deixado pela ausência de Lula, o ex-presidente brasileiro deu uma de bicão e tentou se colocar junto aos demais chefes de Estado para a foto oficial. Foi barrado justamente por esses mesmos líderes que, com o mínimo de bom senso, não iriam se sujeitar a tamanho embaraço de posar ao lado de alguém que não lhes é homólogo e não caberia estar ali. Seria o fim da picada.
Há duas semanas, escrevi aqui que não havia resposta certa a respeito de se Lula deveria ir ou não para a posse de Milei. Certamente, Bolsonaro ocuparia um espaço bem mais discreto no evento, caso o presidente brasileiro fosse. Contudo, nada garante que seu ruidoso antecessor e sua claque não causariam constrangimentos a Lula.
No fim das contas, apesar da descortesia que uma ausência como esta significa, foi até bom para Lula ficar de fora e se poupar. O próprio convite de Milei a Bolsonaro, por si só, foi um gesto inadequado da parte do presidente argentino.
A não ida de Lula, na prática, foi uma ação de reciprocidade. E isso não necessariamente significa que as relações entre Brasil e Argentina serão ruins. A amizade ou inimizade entre os presidentes nem sempre é uma determinante para que haja um bom diálogo. Para isso, existe a atuação dos respectivos serviços de diplomacia.
Na foto propriamente dita, logo ao lado de Javier Milei, estão posicionados o rei espanhol Filipe VI (que não costuma ficar de fora das posses na América hispanohablante) e o presidente chileno Gabriel Boric, curiosamente líder mais à esquerda entre os que compareceram à posse, e onde provavelmente Lula estaria.
Indo do centro da foto para as pontas, os presidentes Santiago Peña (Paraguai) e Luís Lacalle Pou (Uruguai). Um indicativo de que Milei deve, pelo menos em um primeiro momento, adotar um pragmatismo nas relações com os países vizinhos.
Chamou a atenção também a presença de Volodimir Zelensky na posse de Javier Milei. Esta foi a primeira visita do presidente ucraniano à América Latina desde quando a guerra contra Rússia começou em fevereiro do ano passado.
Houve um toque de descuido com pitadas de ironia por parte do cerimonial, que posicionou Zelensky no canto da foto. E ao lado de Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro que, entre os chefes de governo da União Europeia e da Otan, talvez seja aquele mais próximo ao presidente russo Vladmir Putin.
Cada vez mais pedindo apoio, atenção e recursos para a guerra contra a Rússia, Zelensky tenta com Milei obter alguma interlocução na América Latina, algo que se mostrou travado de conseguir com Lula.
A informação de bastidores é de que Zelensky teria pousado no Brasil antes de seguir para a Argentina e solicitado um encontro com Lula. O presidente brasileiro teria recusado alegando que o pedido fora feito muito em cima da hora.
Se de fato isso seja confirmado, se trataria de nova ação de reciprocidade de Lula, que deu com a porta na cara ao tentar encontrar com Zelensky este ano na reunião do G7, no Japão.
Está agendado para a próxima quinta-feira, 14, um encontro entre os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Irfaan Ali, para tratar da disputa territorial da região de Essequibo. A reunião ocorrerá em São Vicente e Granadinas, país que ocupa temporariamente a presidência da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), e terá o Brasil como um dos observadores.
Por compartilhar fronteira com os dois países e exercer papel natural de liderança regional, o governo brasileiro é um dos principais interessados na distensão entre Venezuela e Guiana. O Brasil historicamente atuou como um garantidor da estabilidade na América do Sul e seria muito custoso para o país sob o ponto de vista diplomático um eventual conflito.
Sobretudo porque invariavelmente atrairia esforços militares dos Estados Unidos para a América do Sul, o que não é desejável para o Brasil. O objetivo do Itamaraty para a reunião da próxima quinta-feira é passar um recado claro e direto à Venezuela de que um escalonamento das tensões com a Guiana resultará em sérias consequências econômicas e não será aceito pelos demais países da região.
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