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Paris é uma festa
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

Paris é uma festa

Uma característica que tem sido comum às Olimpíadas realizadas neste século é a atenção dada por parte dos organizadores a problemas globais como sustentabilidade das instalações, legado urbano de longo prazo para a cidade-sede e igualdade de gênero no esporte
Tipo Análise
CANTORA franco-maliana Aya Nakamura simbolizou a diversidade na Cerimônia (Foto: Esa Alexander/POOL/AFP)
Foto: Esa Alexander/POOL/AFP CANTORA franco-maliana Aya Nakamura simbolizou a diversidade na Cerimônia

Não é novidade que países utilizem as Olimpíadas ou outros grandes eventos esportivos como uma forma de projetar poder, seja para se reafirmarem como potências ou para passarem a ser vistas como tal. Alguns exemplos clássicos do uso dos Jogos como instrumento de propaganda e soft power são os de Berlim (1936) organizados pela Alemanha nazista, de Tóquio (1964) em um Japão que se reconstruía após a guerra e os inúmeros embates políticos, ideológicos e esportivos envolvendo Estados Unidos e União Soviética durante a Guerra Fria.

Mais recentemente, os Jogos de Barcelona (1992) são considerados até hoje uma referência de um novo momento da Espanha após décadas de ditadura franquista. As Olimpíadas de Pequim (2008) foi o grande recado ao mundo de que a China estava pronta e com fome de ser a grande potência do século XXI.

Em 2009, ao ter o Rio de Janeiro escolhido como sede dos Jogos de sete anos depois, o Brasil também buscava essa projeção externa aproveitando um momento de bonança. Mas as crises de política interna e econômica do início da última década deixaram um resultado de imagem muito aquém do esperado.

Uma característica que tem sido comum às Olimpíadas realizadas neste século é a atenção dada por parte dos organizadores, pelo menos no discurso, a problemas globais como sustentabilidade das instalações, legado urbano de longo prazo para a cidade-sede e igualdade de gênero no esporte. Questões debatidas com maior frequência na sociedade ocidental de hoje que não passam batidas ao se falar dos Jogos.

Nesse aspecto, a Cerimônia de Abertura dos Jogos de Paris na última semana não fugiu à regra. A própria capital francesa foi a grande protagonista em uma festa que quebrou paradigmas por ser realizadas nas ruas da cidade e eleger a diversidade como tema principal da mensagem a ser passada.

Do ponto de vista externo, a França tem tentado se colocar na posição de protagonista da União Europeia. Um movimento que tem marcado os anos de governo Emmanuel Macron, principalmente após Angela Merkel deixar o poder na Alemanha no fim de 2021.

Uma Cerimônia de Abertura que exalta valores como democracia, igualdade de gênero e respeito às diferenças é um recado político de como a França entende que a Europa deve ter como princípios e ser vista. Principalmente em um momento que o bloco tenta se encaixar globalmente em meio a potências como EUA, China e Rússia.

Internamente, o recado à extrema-direita francesa foi muito claro num contexto que o presidente de centro-direita tenta se fortalecer após as eleições legislativas vencidas pela esquerda. Tanto que demorou pouco para os correligionários de Marine Le Pen acusarem o golpe e atacarem as referências LGBTQIA+ feitas na cerimônia.

Dois pesos, duas medidas

Dois meses antes dos Jogos de 1992 em Barcelona, a Iugoslávia foi alvo de sanções do Conselho de Segurança da ONU por conta das guerras contra a Croácia e a Bósnia. Naquele ano, o Comitê Olímpico Internacional (COI) seguiu as recomendações das Nações Unidas e os atletas iugoslavos competiram como Atletas Independentes, sob a bandeira olímpica.

Em 2003, os EUA passaram por cima do mesmo Conselho de Segurança e invadiu o Iraque. No ano seguinte, participaram normalmente dos Jogos de Atenas, inclusive liderando o quadro de medalhas.

Em 2022, a Rússia violou o direito internacional ao invadir a Ucrânia, mas não houve sanções do Conselho de Segurança. Obviamente por bloqueio russo, membro permanente do colegiado. No entanto, atletas do país competem em Paris neste ano sob a bandeira dos Atletas Neutros, semelhantes aos iugoslavos 32 anos atrás.

Neste momento, Israel está cometendo uma porção de crimes de guerra e contra a humanidade na Faixa de Gaza. Ainda assim, atletas israelenses competem normalmente em Paris, sem qualquer sanção.

São exemplos de como o COI atua para mediar suas questões políticas dentro do esporte. Uma entidade criada no chamado ocidente, feita por ocidentais e que age sempre em favor dos interesses deste lado do mundo.

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