Angústia e preocupação: as 13 horas entre a primeira e a última explosão
João Paulo Biage é jornalista há 13 anos e especialista em Comunicação Pública. De Brasília, acompanha, todos os dias, os passos dos parlamentares no Congresso Nacional e a movimentação no Palácio do Planalto, local de trabalho do presidente. É repórter e comentarista do programa O POVO News e colunista do O POVO Mais
Angústia e preocupação: as 13 horas entre a primeira e a última explosão
Já a caminho de casa, ouvi a primeira explosão e a segunda explosão às 19h30. No dia seguinte, já na minha frente, a última. Trabalhar com política, ultimamente, está perigoso
Meu expediente acabou às 19h daquele dia. Como de costume, mandei mensagem para meu diretor. "Precisam de mim para mais alguma coisa?". A resposta foi negativa. Juntei minhas coisas, peguei minha mochila e corri para a parada. Estava chuviscando e eu ainda tinha uma esperança: pegar o ônibus gratuito oferecido pela Câmara dos Deputados que leva até a rodoviária de Brasília.
A condução passa, normalmente, às 19h20. Cheguei na parada um pouco depois, mas tive muita sorte (muita, mesmo). O transporte chegou às 19h26. A fila de colaboradores era grande, mas todo mundo entrou em 2 minutos. O sinal vermelho na frente do Palácio da Justiça atrasou um pouco a viagem, o que nos fez ouvir, de longe, dois estrondos.
No caminho para casa, os grupos de jornalistas da Câmara e do Senado começam a pipocar com vídeos, áudios e mensagens em maiúsculas sobre o caso. Chego em casa, tomo banho e faço o caminho de volta. Já é impossível chegar à Praça dos Três Poderes. Câmara e Senado também estão fechados. O jeito, era ficar do lado de fora, nos locais ainda não isolados.
Nos arredores do Congresso, alguns momentos de tensão. Dois colegas jornalistas tentaram resgatar os carros para irem embora, mas não obtiveram sucesso e só puderam buscar os veículos no dia seguinte. Outra amiga deixou a mochila no estacionamento para fazer um link ao vivo. O objeto ficou isolado e teve que ser vistoriado pela polícia antes de ser devolvido.
O cordão de isolamento aumentou. Vou, então, para o Palácio do Buriti - sede do Governo do Distrito Federal - acompanhar a entrevista coletiva da governadora em exercício, Celina Leão.
Noite curta, dia longo
Eu e Júlia Duarte fechamos as reportagens e voltei para casa. Até o sangue esfriar, fui dormir 1h da manhã. É muito estranho ver algo dessa magnitude acontecer do seu lado por puro extremismo. Antes de dormir, só pensava em como está perigoso trabalhar com política.
Francisco Wanderley Luiz, o autor do atentado, entrava no Congresso Nacional com frequência. Estava ali nas redondezas todos os dias, há três meses, e possuía três explosivos próximos aos trailers de alimentação que ficam na Câmara. Qualquer ação na hora do almoço poderia ser fatal para dezenas de pessoas.
Às 8h20 da manhã, cheguei ao anexo 4 da Câmara. Toda a área estava isolada pela polícia militar, mas consegui acompanhar a ação do esquadrão anti-bombas no foodtruck alugado por Francisco Wanderley. Às 8h30min, a última explosão, que chegou acompanhada do choro de Lena Carvalho. "O trailer dele é do lado do meu, gente. Olha o perigo que eu estava correndo", disse a vice-presidente da associação de donos de trailers no local. Eram 27 no grupo. Agora, são 26. "Ele entrou no nosso grupo para estudar os movimentos, entender a rotina do local".
E o PL da Anistia?
A princípio, já era. Pelo menos nos próximos 6 meses, o projeto de lei que trata da anistia aos atos antidemocráticos pós-eleições de 2022, será engavetado. Uma reunião nesta terça-feira entre líderes e o presidente Arthur Lira deve decretar a pausa na tramitação. A ideia é esperar os primeiros passos da investigação do caso, feita pela Polícia Federal. Se houver comprovação que Francisco Wanderley Luiz esteve nos acampamentos e participou de alguma forma do 8 de janeiro, o projeto será completamente enterrado.
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