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Pós-motim: Davi sai fortalecido e Hugo, desmoralizado
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João Paulo Biage é jornalista há 13 anos e especialista em Comunicação Pública. De Brasília, acompanha, todos os dias, os passos dos parlamentares no Congresso Nacional e a movimentação no Palácio do Planalto, local de trabalho do presidente. É repórter e comentarista do programa O POVO News e colunista do O POVO Mais

Pós-motim: Davi sai fortalecido e Hugo, desmoralizado

Presidentes das duas Casas agiram de forma diferente à ocupação feita pela Oposição. Davi Alcolumbre não negociou e exigiu a saída. Motta viu líderes procurarem Lira
Hugo Motta e Davi Alcolumbre são, respectivamente, presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados e Jefferson Rudy/Agência Senado)
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados e Jefferson Rudy/Agência Senado Hugo Motta e Davi Alcolumbre são, respectivamente, presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal

Plenários de Câmara e Senado ocupados. Lives nas redes sociais, vídeos com recados e exigências. “Só saímos daqui quando os presidentes pautarem a anistia e o impeachment de Alexandre de Moraes”, bradavam os líderes do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, e no Senado, Carlos Portinho. Os presidentes das casas, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, cancelaram compromissos e voltaram para Brasília para negociar. As semelhanças acabam por aí. Durante as últimas 48 horas, Davi e Hugo tomaram caminhos diferentes: um saiu como vencedor enquanto o outro se viu fraco e sem moral.

Terça-feira, 11 horas. A Oposição convoca um pronunciamento para anunciar uma obstrução violenta e divulgar o que quer. Deputados e senadores ocuparam os plenários, paralisaram os trabalhos legislativos e exigiram o perdão a Bolsonaro e o afastamento de Moraes.

Desde a primeira hora, Davi Alcolumbre endureceu o tom. O presidente do Senado trancou o plenário da Casa e proibiu a entrada de assessores e da imprensa no local. O objetivo era, segundo interlocutores, evitar que ‘o showzinho’ tivesse resultado. Ou seja, que os senadores conseguissem chamar a atenção.

Hugo Motta deixou o plenário aberto e as imagens dos deputados bolsonaristas com olhos e boca tapados viralizaram. Fotos e vídeos foram parar em todos os jornais. Os discursos também cresceram e inflamaram os fãs. Com a pressão externa, Hugo Motta reconsiderou e trancou o plenário, mas tarde demais.

No dia seguinte, reuniões. Davi Alcolumbre chamou todo mundo para conversar — mas só os líderes que quisessem. Lá, ele já começou a reunião falando que não vai pautar o impeachment de Alexandre de Moraes e que não havia negociação. Obrigou os senadores a saírem e estipulou uma data: quinta-feira. Se não saíssem, seriam punidos. Ele entrou no plenário nesta quinta-feira sem ser encostado por ninguém.

Motta, que é mais inseguro, fez reuniões individuais. Colheu sugestões e empoderou outros líderes. Não deu demonstração de força e deixou as conversas em aberto. “Sempre vamos resolver no colégio de líderes”, disse ele aos manifestantes que ocuparam o plenário.

O PL, então, escanteou Motta e começou a negociar com outros nomes e desmoralizou Motta em três atos — tudo feito de forma proposital. Foi primeiro a Arthur Lira, ex-presidente da Casa, para apresentar as exigências. Depois, Conversou com Antônio Britto e Luizinho — líderes de PSD e PP - empoderados por Motta nas conversas individuais.

Por fim, o golpe de misericórdia: chamou Hugo para ocupar a presidência da Câmara, mas sem retirar a Oposição da mesa. Motta entrou, viu que Van Hatten (Novo-RS) se recusava a sair e tentou voltar. Tarde demais! Desmoralizante demais! Teve que se sentar cercado dos manifestantes. Se você está com a faca na garganta, como vai gritar?

O discurso que abriu e fechou a sessão foi mole e fraco, tal qual o presidente, que já teve que dizer, publicamente, que não é frouxo.

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