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Agressão e silêncio: os bastidores da votação do PL da Dosimetria
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João Paulo Biage é jornalista há 13 anos e especialista em Comunicação Pública. De Brasília, acompanha, todos os dias, os passos dos parlamentares no Congresso Nacional e a movimentação no Palácio do Planalto, local de trabalho do presidente. É repórter e comentarista do programa O POVO News e colunista do O POVO Mais

Agressão e silêncio: os bastidores da votação do PL da Dosimetria

Durante a retirada do deputado Glauber Braga do plenário, policiais legislativos atacaram jornalistas e cinegrafistas. Truculência machucou quatro mulheres
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Confusão se instaurou na Câmara dos Deputados e jornalistas foram agredidos (Foto: João Paulo Biage / O POVO)
Foto: João Paulo Biage / O POVO Confusão se instaurou na Câmara dos Deputados e jornalistas foram agredidos

A partir do momento em que Hugo Motta anunciou aos líderes partidários que iria pautar o PL da Dosimetria, o clima na Câmara dos Deputados mudou. A sensação de disputa eleitoral em meio às discussões políticas acirraram os ânimos de base e oposição e os discursos se tornaram ainda mais conflituosos. A situação ainda iria piorar.

Quando isso acontece, eu já falei aqui, o clima fica tenso e a pauta se torna imprevisível. Parlamentares andam mais rápido, falam menos, buscam mais os bastidores e o cenário fica incerto. A aprovação da matéria era certa, mas o caminho foi tão tortuoso que o desfecho foi completamente negativo para o presidente da Casa.

Após o anúncio da pauta e da análise dos processos de cassação que tramitam pela Câmara - de Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli, Alexandre Ramagem e Gláuber Braga - o deputado do PSOL se revoltou e ocupou a cadeira da presidência no plenário. Após 5 minutos de discurso, a presidência agiu: retirou a transmissão do ar e ordenou que os policiais legislativos retirassem os jornalistas do plenário.

Hugo Motta negou ter feito isso, mas os agentes de segurança confirmaram que estavam cumprindo ordens da presidência. O cerceamento da atividade jornalística era claro, mas a situação ainda iria piorar.

Enquanto Gláuber e a esposa dele, a também deputada Sâmia Bomfim, eram retirados à força do local, arrastados pelos policiais, a imprensa se aglomerava para filmar o caso e pegar declarações. Foi quando a situação piorou. Policiais legislativos começaram a agredir profissionais da imprensa. O alvo principal eram as mulheres: dos 6 machucados, quatro eram do sexo feminino. Uma repórter tomou um soco na costela, uma produtora sofreu uma cotovelada, outra jornalista teve os cabelos puxados de forma proposital. A produtora do O POVO, Maria Luiza Santos, tomou um pisão no meio do empurra-empurra (relato abaixo).

A violência, iniciada no plenário para a retirada do deputado, também foi orientada por Hugo Motta. Foi o presidente que autorizou o uso de força física para garantir a votação do PL da Dosimetria. O agressor, que também é o delator de Motta, tem nome e sobrenome: Marcelo Guedes de Resende - chefe do Departamento de Polícia e responsável pelos atos violentos contra os deputados e profissionais que trabalhavam no momento.

Procurada insistentemente por todos os profissionais presentes, a assessoria de Hugo Motta silenciou. O PL foi aprovado, mas acompanhado de uma das cenas mais pitorescas que acompanhei no Congresso Nacional em 6 anos.

Empurrões e pisões: a violência pré-PL da Dosimetria

Por Maria Luíza Santos

Desci para o salão verde um pouco antes das 18 horas, quando um colega de imprensa disse ter sido expulso do plenário da Câmara, “só os parlamentares e a polícia que estão lá dentro”. Cheguei na entrada principal do plenário parlamentar e já havia uma grande concentração de jornalistas no local tentando entender o motivo da medida tomada pelo presidente Hugo Motta.

A polícia não explicou, mas os pontos foram sendo revelados quando deputados começaram a sair do plenário para descrever o que ocorria lá dentro. Naquele momento, a sensação era de que as coisas já tinham saído do controle. Jornalistas cobrando satisfações, alguns até gritando. Tudo em meio a um empurra-empurra com os cinegrafistas e as câmeras enormes querendo arrancar o mínimo de informação.

O momento de descontrole total iniciou quando surgiu a informação de que o deputado Glauber Braga iria sair pela entrada privativa do plenário (só os parlamentares entram por ali). A multidão se desfez para correr até o local e então a sensação de fim dos tempos iniciou.

Eu não estava no coração do desentendimento, mas sei que, mesmo se tentasse sair daquela confusão, seria impedida pelo número enorme de pessoas atrás de mim. A falta de ar, medo e desespero acenderam enquanto gravava aquilo tudo. Eu era empurrada de todos os lados e meus pés doíam pela quantidade de pisões de pessoas que não sabia identificar.

Os deputados saíram do plenário tentando se aproximar do púlpito para a coletiva. Olhei para minha esquerda e outra colega saía gritando quase caída no chão, “Socorro, eu preciso sair daqui”. Não deu tempo de qualquer coisa, só dei a volta correndo pela lanchonete do salão e voltei para a muvuca. Antes dos parlamentares entrarem, fui espremida em uma pilastra por um policial e um cinegrafista.

Depois, o que sobrou foi a tentativa de digerir todo o episódio.

Foto do João Paulo Biage

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