Logo O POVO+
Pandemia afetou mais os empregos no Nordeste, mostra estudo
Foto de Jocélio Leal
clique para exibir bio do colunista

Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará

Pandemia afetou mais os empregos no Nordeste, mostra estudo

A consultoria Ceplan, de Pernambuco, analisou o Caged, e mostra que do 1,5 milhão de demissões, 16,9% foram registrados no Nordeste, percentual superior à participação da economia da região no País (14,5%). A maior perda de vagas ocorreu entre março e maio; Ceará teve 37.474 vagas fechadas, melhor que Bahia e Pernambuco
Tipo Notícia
Tânia Bacelar (Foto: Tatiana Fortes)
Foto: Tatiana Fortes Tânia Bacelar

Recife - De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o País teve um saldo negativo entre contratações e demissões de -1.547 milhão de empregos formais de janeiro a julho deste ano. Do total, 16,9% foram registrados no Nordeste, percentual superior à participação da região na economia brasileira (14,5%). A maior perda de vagas ocorreu entre março e maio.

Os dados foram levantados pela Ceplan Consultoria, com sede no Recife, naquele que seria o primeiro estudo de âmbito regional sobre os impactos da pandemia do novo coronavírus no Nordeste. 

Desemprego continua estável com 35,9% de pessoas desocupadas no Ceará, aponta IBGE

No Nordeste, o índice de atividade econômica (IBC-Br), medido pelo Banco Central, caiu -3,5%. Nas três principais economias da região, a maior perda foi a do Ceará, de -4,9%, seguida por -3,5 da Bahia e -2,6% de Pernambuco. Os índices refletem as conjunturas econômicas do Brasil e do mundo.

A estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia global é de uma queda de 4,9% em 2020 – a maior retração registrada desde a crise de 1929. No Brasil, o PIB caiu -5,9% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2019.

Trabalhadores perderam mais no Norte e Nordeste

Os trabalhadores do Norte e do Nordeste perderam ainda mais. A Taxa de Participação da Força de Trabalho (TPFT) que mede a proporção de pessoas ocupadas ou à procura por trabalho em relação à população com 14 anos ou mais, apresentou, em média, queda de 8 pontos percentuais - na comparação entre o quarto trimestre de 2019 e o segundo trimestre deste ano.

No Brasil, apenas 55,3% dos trabalhadores com 14 anos ou mais de idade estavam ocupados ou ainda procurando trabalho no segundo trimestre de 2019. No Nordeste, a TPFT ficou em 46,9%; em Pernambuco 45,3%; na Bahia 50,1% e no Ceará 47,7%.

A leitura da Ceplan, assinada por economistas como Tânia Bacelar e Jorge Jatobá, aponta que os números trazem à tona a alta subutilização dos trabalhadores e revela o fraco desempenho da economia. Antes mesmo da pandemia, já vinha operando sem aproveitar bem o potencial da sua população economicamente ativa.

Os dados mostram que a desocupação tem sido mais forte na Bahia onde a taxa de desemprego chegou a 19,9% no segundo trimestre. No mesmo período, a taxa foi de 16,1% no Nordeste e 15% em Pernambuco. No Ceará, 12,1%, o único abaixo da média brasileira (13,3%).

Os desocupados, os desalentados – aquele pessoal que desistiu de procurar emprego por avaliar que nem adianta; os não desalentados, que desejam trabalhar, mas não buscam por várias razões; e os subocupados, aqueles que trabalham menos horas do que gostariam, formam a taxa composta de subutilização da força de trabalho.

Esta taxa cresceu no segundo trimestre de 2020 em relação ao último trimestre de 2019. O quadro mostra: Brasil (29,1%), Nordeste (41,8%), Bahia (44,7%), Pernambuco (36,2%) e Ceará (35,9%), mais uma vez,  com situação um pouco menos ruim. O dado indica forte ociosidade no uso dos recursos humanos.

Para homens e mulheres, a taxa de subutilização aumentou entre os trimestres de referência. Foi maior entre as mulheres do que entre os homens tanto no Brasil quanto na região e nos três estados.

Nestes mesmos territórios, a subutilização cresceu em todas as faixas etárias, mas foi maior entre os jovens de 14 a 24 anos. No Nordeste chegou a 82,5% no intervalo de 14 a 17 anos e a 63,7% entre os de 18 a 24 anos, no segundo trimestre de 2020.

No que diz respeito à escolaridade, as taxas de subutilização também subiram no último trimestre e se mostraram mais altas nos grupos com menos anos de estudo no Brasil, no Nordeste, em Pernambuco, na Bahia e no Ceará. O crescimento da subutilização também alcançou pessoas de todas as cores e raças, mas predominou entre os pretos e pardos, chegando a 43,9% no Nordeste, entre abril e junho deste ano.

Em relação aos rendimentos, no Nordeste também houve perdas acima dos brasileiros. No País, na comparação entre o primeiro semestre de 2020 com o mesmo período de 2019, a queda foi de -1,5%, e de -3,9% no Nordeste. Pela ordem: Pernambuco sofreu a maior redução: -9,1%; na sequência o Ceará, com -2,9% e a Bahia, com -0,5%. Isso reduziu o consumo das famílias, contribuindo significativamente para a queda do PIB.

O estudo da Ceplan revela que no comparativo entre o primeiro semestre e o primeiro semestre do ano passado, a maior queda,no que se refere à composição do PIB brasileiro pelo lado da demanda, ocorreu no volume de impostos (-8,1%), e no consumo das famílias (-7,1%).Quanto à produção, a indústria (-6,5%) e os serviços (-5.9%).

Agro, saúde e segurança contratam; comércio demite

No mercado formal de trabalho, os resultados do Caged apresentam quedas líquidas (admissões-demissões) nos níveis de emprego formal na maior parte dos setores da atividade econômica, de janeiro a julho de 2020, em todo o País.

As exceções foram na agropecuária que criou 86.217 empregos; no segmento de saúde humana e serviços sociais onde foram gerados 57 mil empregos; na administração pública, defesa e segurança social, com 13.623 novos postos de trabalho. Os analistas destacam que estes últimos foram elevados pela necessidade de se aumentar a prestação de serviços públicos para enfrentar a pandemia. Na construção civil, 8.742 trabalhadores contratados.

O comércio liderou as demissões deixando um saldo de 453.503 empregados entre admitidos e demitidos. Logo atrás, vieram o segmento de alojamento e alimentação com saldo de 329.713 e a indústria de transformação com 194 mil pessoas.

No universo dos demitidos, os mais atingidos foram as mulheres; adultos entre 25 e 59 anos; pretos e pardos e trabalhadores com ensino médio completo e superior incompleto.

Dos nove Estados do Nordeste, apenas o Maranhão teve saldo positivo entre demissões e admissões de janeiro a julho, com saldo de 2.327 empregados formais. Entre os demais, Pernambuco liderou o saldo negativo regional com 63.101 demissões e a Bahia com 58.987. No Ceará, situação um pouco melhor, com 37.474 vagas fechadas.

Desafios e Perspectivas

A leitura feita pela Ceplan afirma: "Os impactos da pandemia foram significativos em todo o mundo, mudando hábitos, conceitos urbanos e a vida das pessoas. Mas a forma de trabalhar nunca mais será a mesma. Mudanças foram aceleradas e chegaram para ficar como o trabalho remoto, embora ainda que para uma minoria mais qualificada. Neste primeiro momento, rumo ao pós-pandemia, observam-se perdas consideráveis em empregos e renda atingindo, no Brasil, com maior intensidade os mais pobres, os de menor escolaridade, as mulheres, e os pretos e pardos".

A análise destaca a importância do auxílio emergencial distribuído pelo Governo Federal, pela ajuda aos informais e os sem renda alguma. Como foi de ampla distribuição, trouxe efeitos positivos nas vendas de alimentos, material de construção e de eletrodomésticos.

"Trouxe também à tona o debate sobre a instituição de uma renda mínima, cujo financiamento é controverso em meio a uma crise fiscal e aos limites orçamentários definidos pela emenda constitucional do teto de gastos", diz o texto.

"O novo mundo do trabalho traz muitos desafios para as empresas, instituições de ensino e de qualificação profissional. Algumas ocupações e profissões se tornarão obsoletas enquanto outras deverão surgir porque teremos novas formas de produzir, de vender e de fazer circular a riqueza", prossegue.

Quanto à retomada, a equipe da Ceplan aponta como principal desafio reestruturar o mercado de trabalho em tempos de maior flexibilização associada aos novos paradigmas técnicos, às mudanças no marco regulatório e na organização dos trabalhadores. Investimentos na capacidade humana para desenvolver as habilidades e competências do mundo do trabalho que emerge no ambiente disruptivo, apresentam-se como um dos desafios.

Tânia Bacelar e Jorge Jatobá subscrevem a avaliação de que no Brasil, a urgência em recuperar a atividade econômica e o nível de emprego – que já estavam lentos no período pré-pandemia - "passa por investimentos públicos que não são fáceis de viabilizar num governo dividido sob quais rumos tomar".

Indicam que novas formas de financiamento, como PPPs e concessões, aparecem como o caminho natural para criar infraestrutura econômica e social com impactos diretos e indiretos para a demanda por trabalho.

Sugere: "O Governo precisa definir os rumos da economia e evitar tropeços políticos que gerem insegurança a investidores internos e externos, atores importantes para retomar o nível de atividade econômica e para dinamizar o mercado de trabalho via geração de novos empregos".

O economista Jorge Jatobá
Foto: DIVULGAÇÃO
O economista Jorge Jatobá

Foto do Jocélio Leal

Informe-se sobre a economia do Ceará aqui. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?