Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará
Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará
Fortaleza - No dia 21 de janeiro deste ano, a Secretária de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará divulgou informações sobre o número de homicídios cometidos na Região Metropolitana de Fortaleza – RMF. Somente em 2020, foram assassinadas 4.039 pessoas, um crescimento de 78,95% em comparação a 2019.
No entanto, o leitor já está acostumado com manchetes sobre o “crescimento da violência”, ou sobre a “onda de insegurança”. Ele lê estes números e, quando muito, momentaneamente se aborrece. O cearense, infelizmente, se habituou a violência.
É nesse contexto que o trabalho de avaliar o impacto dos crimes violentos ganha contorno e se torna de suma importância, não apenas para guiar a tomada de decisão dos gestores públicos, mas principalmente, para contribuir na sensibilização e mobilização social tão necessária no combate à violência.
Recentemente, uma equipe liderada pelo Professor da UFC Marcelo Davi, e Débora Lima (OAB-CE), composta ainda por mim e Renan Paiva, divulgamos um relatório onde são quantificados os custos econômicos em termos de perda de produtividade causados pelos crimes violentos letais e intencionais (CVLI) no Ceará. O estudo tem o objetivo de mensurar somente as perdas econômicas associadas aos crimes de morte perpetrados no Estado.
Todavia, parte dos cálculos envolvidos para se chegar ao prejuízo econômico causado pela violência é pautado pela estimação de uma estatística que confere dimensão humana a esta avaliação puramente econômica. Esta medida recebe nome no plural, “anos potenciais de vida perdidos”. Num breve olhar, percebe-se que, considerando apenas os crimes que resultaram em vítimas na faixa etária de 15 a 17 anos, somente em 2020, a RMF perdeu 6.260 anos.
É isto mesmo, mais de SEIS MIL anos de juventude foram desperdiçados em apenas um ano. Quantas ideias, inovação, e soluções práticas foram enterradas com estes jovens? Se alongarmos a soma e incluirmos as vítimas de até 29 anos, chegamos ao impressionante número de 77.416 anos perdidos. O prejuízo econômico associado às mortes neste intervalo foi computado em R$ 1,272 bilhão.
Não obstante, este estudo traz, na melhor das hipóteses, uma conservadora subestimativa. Isto é, considerando a metodologia de cálculo tem-se que estamos sempre nivelando por baixo o custo da violência. Por exemplo, numa das fases do cálculo, coleta-se o salário médio pago pelo mercado a profissionais da faixa etária da vítima e então considera-se que esta irá manter esta renda até a sua morte natural, aproximada pela expectativa de vida de acordo com seu gênero.
Ou seja, se a vítima é um menino de 15 anos, coleta-se o salário médio da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS e se extrapola-o para 75 anos que é a expectativa de vida para homens no Ceará. Ignora-se, sabidamente, crescimento profissional, empreendedorismo, impacto de potencial educação superior e formação continuada. Todas as possibilidades de desenvolvimento humano e seus impactos nos rendimentos pessoais estão ausentes no cálculo.
Outro fator que não consta na avaliação são os custos econômicos e sociais para os que continuam vivos. Quantos milhões não se gastam com seguros de automóveis e residenciais. Quanto não se gasta com guarda armada, muros e guaritas elevadas? Quantas pessoas têm sua capacidade de trabalhar, estudar, de enfim serem membros produtivos da sociedade, abalada e reduzida, em virtude de traumas e da constante sensação de medo causada pela violência sofrida na própria pele ou por alguém amado?
Outro fator não considerado nos cálculos de custo econômico dos CVLI, é o impacto sobre o desenvolvimento infantil. Nesta vertente, estudos demonstram que a violência pode causar "Eventos Adversos na Infância"* que por sua vez aumentam de forma perigosa a probabilidade de desenvolvimento de problemas de saúde física e mental, como ansiedade, depressão, doenças hepáticas e cardiovasculares.
Para se ter uma ideia do custo associado aos impactos da violência no desenvolvimento infantil, o escritório Europeu da Organização Mundial da Saúde financiou um estudo que foi publicado em 2019 pela prestigiada The Lancet, onde entre outras coisas estima um custo econômico anual na ordem de U$ 581 bilhões na Europa e de U$ 748 bilhões para a América do Norte.
Como se pode ver, a violência cobra um preço alto, nele há vidas, ideias, infâncias, possibilidades, amores, mentes, inovação e por consequência, desenvolvimento socioeconômico. Cabe a nós enquanto sociedade demonstrar de qualquer maneira que este é um preço que não estamos dispostos a pagar.
* Violência doméstica, negligência parental, presenciar uso de drogas ilícitas, testemunhar violência em casa ou comunidade, conviver com adultos portadores de problemas mentais são exemplos de eventos adversos que causam disfunções no desenvolvimento da criança.
Pedro Fernandes é economista Associado a BFA assessoria em finanças e negócios, mestre em Teoria Econômica e professor de Avaliação de Políticas Públicas na Fundação Itaú Social. pedrorlfernandes@outlook.com
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