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Memórias de uma professora quase em forma de oração
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Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará

Memórias de uma professora quase em forma de oração

Após entrevista à rádio O POVO CBN sobre o Dia do Professor, a professora Erotilde Honório escreveu um texto sobre memórias pessoais, mas que vão além
Erotilde Honório (Foto: arquivo pessoal )
Foto: arquivo pessoal Erotilde Honório

Fortaleza - Na edição desta sexta-feira (15) do programa O POVO no Rádio, a professora Erotilde Honório concedeu entrevista sobre o Dia do Professor. Ouça clicando aqui. Depois da conversa, ela escreveu o texto reproduzido pelo Blog logo a seguir:

Erotilde é graduada em História pela Universidade Estadual do Ceará (1972), Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará(1975), Medicina pela Universidade Federal do Ceará(1980) e Música pela Universidade Estadual do Ceará(1976). Também tem especialização em Formação do Ator no Curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará(1980), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará(1990) e doutorado em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará(1999).

"Hoje a CBN me ligou para falar do dia do Professor.

'Existem pessoas que passam em nossa vida e vão embora. Outras entram e permanecem para sempre. E há aquelas que passam e vão embora, mas jamais as esqueceremos´. The Wonder Years.

Enquanto esperava comecei a vasculhar no baú da memória o que ainda está nos guardados.
E me veio neste ritual quase em forma de oração aqueles que iluminaram meu caminho, marcaram minhas atitudes, caráter e personalidade. Sem perfeição de nenhuma das partes. Só o demasiadamente humano!

Bem no início tem a minha mãe que alfabetizava os filhos antes da escola. Orgulho seu. Enquanto costurava Dona Merantina me fazia entoar o bê à bá, vezes sem conta! Dias a fio!

No Grupo Escolar de Guassussê (não tinha essa pompa, quero enfeitar esse espaço nesta visita. Era um salão fedendo a óleo queimado com uma cadeira e um banco de pau vindo do mato, sem formato de assento e sem encosto. O resto era tudo SEM. Sem cadeiras, sem quadro negro, sem Giz, sem apagador), a professora Eva Gomes nos ensinava a ler. As capas dos trabalhos de final de ano, em papel almaço, ostentava um buquê de rosas caprichosamente pintado com lápis de cor. Na memória, meus olhos infantis se enchem de cores nesta lembrança e meu coração dispara na emoção do resultado do Ano Letivo.

No Ginásio Santa Maria Goretti a Profa. Madge Shaumman desvelava um portal para as coisas belas nas aulas Lítero-musicais e as possibilidades de um texto numa interpretação artística e numa fala escorreita.
O Professor Antônio Gondim impregnava ao seu redor um empenho cívico e respeitoso pelos hinos pátrios. O Hino Nacional, da Bandeira, da Independência, Hino do Ceará e o Hino de Fortaleza uma das suas composições.

A Professora Edenir fazia da Matemática um deleite de traços azuis e vermelhos separando enunciado, fórmula e resultado das equações.
A Professora de Francês ( esta a memória me traiu) esqueci seu nome, nunca o que ela me ensinou. Na segunda série do Ginásio tudo que ela me passou sobre os rudimentos da língua nunca foram olvidados.

No Preparatório do Tonny sua performance impecável e as atraentes aulas de Português do Professor Bandeira foram momentos de prazer. Fez estilo na matéria por muito tempo em Fortaleza. Miúdo no tamanho um gigante no ensino da Língua.

No Conservatório de Música Alberto Nepomuceno a Professora D’Alva Stela, entusiasta da música clássica comparava numa percuciente análise, épocas, compositores e composições com gestos graciosos, bem humorados, sofisticados e coquetes.
O Professor Orlando Vieira Leite me ensinou em especial a alegria de cantar em Coro.
A Professora Izaíra Silvino disseminou o Canto Coral e ensinava a ouvir vozes de forma harmônica.

No Curso de Medicina, o Professor Hélio Rola fazia da Bioquímica e suas reações a Arte da Vida, onde o complexo e o simples se transformavam numa aquarela ou num desenho geométrico bonitos de se ver.
O Professor Farrah Otoch interpretava com a seriedade de um Monsenhor os segredos da Fisiopatologia.
O Professor Hamilton da Histologia proporcionava um mergulho no mais profundo dos enigmas celulares. As cores e os relevos e tudo que se descortinava diante dos meus olhos pouco afeitos ao microscópio me encantavam, apesar da sala quente e pouco adequada para tarefa tão delicada.

No Curso de Comunicação se fez notar a notável pioneira polêmica e aguerrida Adisia Sá. Muita Admiração pela sua trajetória.

Na Sociologia o Professor Ismael PorDeus um gentleman, um afetuoso apaixonado pela Umbanda e seus ritos. Tocava minha energia mais ancestral.
Professora Sylvia Porto Alegre minha orientadora no mestrado e doutorado, entre lágrimas e arrufos me alçou a um degrau dentro da Universidade alcançado por poucos neste País.
Professor Diatahy Bezerra de Menezes, um manancial de saberes. Ouvi-lo nos dava gana de aprender cada vez mais e um certo desconforto pela desconfiança de que jamais atingiríamos um nível tão especial de cultura.

No Curso de História da antiga FAFICE hoje UECE, encontrei a mestra dos mestres na vida, na História do País e na luta contra as desigualdades sociais. Luiza de Teodoro Vieira. Direta, dura às vezes divertida. Esta transformou a minha vida pelo incentivo à leitura, me ensinou a pensar, a enxergar o contexto, suas nuances, aparências e dubiedades e me instigou na luta por um mundo melhor.
ELES VIVEM EM MIM!"

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