E novamente a xenofobia contra o Nordeste entra na pauta. O tema emergiu apos a polêmica acerca da fala do presidente-candidato Bolsonaro na última quarta-feira. Bolsonaro afirmou: "Uma notícia importante, pessoal: 'Lula venceu em nove dos dez estados com maior taxa de analfabetismo'. Vocês sabem quais são esses estados? São do nosso Nordeste. Não é só taxa de analfabetismo alta o mais grave nesses estados. Outros dados econômicos agora também são inferiores nessas regiões." Foi xenofobia? Nem tanto. Apenas ignorância.

Em 2019, em mais uma declaração a não ser dita, o presidente Bolsonaro chamou o Nordeste de "Paraíba" e desferiu uma tacada contra o então governador do Maranhão, o então PC do B Flávio Dino. O incômodo causado pelo capitão estava embutido no tratamento pejorativo associado ao termo "Paraíba" enquanto persona do migrante de baixa qualificação profissional que vai daqui para o Rio de Janeiro.

Tal qual a Coluna suscitava naquele momento, vale lembrar: tivesse criticado a própria existência de Nordeste, aí sim, teríamos um bom debate. Discutir o que raios vem a ser Nordeste, na perspectiva de que cada estado merece atenção própria por serem dotados de identidade também única, seria um bom começo. Para tanto, teria de ler o ensaio do professor emérito da Universidade Federal do Ceará (UFC), Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, publicado na edição de 2010 do Anuário do Ceará.

No texto, Diatahy fala de um Nordeste histórico, sob viés negativo. Um matulão de estereótipos. Para ele, falta identidade neste Nordeste naturalizado. Cá pra nós, útil na poesia, na música, na Sudene e no BNB. Diatahy fala de como o conceito de identidade é algo das ciências formais, das lógicas e das matemáticas. "Formal porque eu não tenho um objeto real. A teoria é formal porque lida com a forma como opera o pensamento. Você pode dizer que "dois é igual a dois", que "A é igual a A". Na soma aritmética, você não pode dizer que dois mais três é igual a quatro", dissera em Páginas Azuis do O POVO a Henrique Araújo e Plínio Bortolotti, cinco anos depois do ensaio.

Diatahy afirma que identidade funciona como princípio puramente formal. O que caracteriza, então, uma região? Para Diatahy, o fator determinante é a memória coletiva. "A memória é o grande acervo, tanto individual quanto societário. É o estoque simbólico de cada época. Você tem dezenas de adjetivos para caracterizar uma cultura e um povo. Configuração, perfil, singularidade caráter, etc. Mas identidade vem de idem, em latim - o mesmo. Você permanece o mesmo? Não. É como dizia Heráclito: ninguém toma banho duas vezes no mesmo rio. A singularidade de um povo, de uma cultura, é contrastiva...".

Coisa de São Paulo

Relembrando coluna de 2019: "Então haveria uma distinção marcante do Nordeste em relação ao restante do País? Até os anos 1920, não existia essa noção (de Nordeste). Isso começa na seca de 1919, quando São Paulo estava montando, desde o início do século, a sua hegemonia sobre o resto do País. A maior cidade e o maior acervo cultural do Brasil era a Corte, o Rio de Janeiro. A partir de 1900, os paulistas criam um neobandeirantismo. Daí em diante, isso começa a se estruturar como ideologia".

Acrescenta: "A eles se juntou Gilberto (Freyre), que, por sua vaidade, inventa, em 1925, uns simpósios muito reacionários. Gilberto era um mentiroso emérito (risos), mas de um talento extraordinário e de uma cultura monumental porque passou sua vida lendo (risos). Em 1925, Gilberto publica uma edição do centenário do Diário de Pernambuco, sobre o Nordeste, porque ele queria impor o predomínio de Pernambuco. Quer dizer, há uma construção ideológica e política dessas noções. Depois, os dispositivos dominantes estabeleceram o novo perfil e nos tornarmos nordestinados."

O rótulo regional

Como bem diz ele, "qualquer porcaria que se produza no eixo Rio-São Paulo é nacional. Quando é aqui, é provinciano, é regional e local. É nesse sentido que eu digo que a gente mora na fronteira da Tchecoslováquia, que nem existe mais".

Tivesse o presidente da República mexido neste vespeiro histórico, estaríamos nós a debater alguns andares mais altos. Quanto à festa pelo Dia do Nordestino, ontem, nada de fruticultura de irrigação, empresas nas bolsas (B3 e Nasdaq), cibersegurança ou cinema. E haja fotinhos de terra rachada, agricultores a capinar com enxada, saquinhos de farinha e de feijão, cajuzinhos e até cangaceiros - tudo com muitos cactos - mas que preguiça...

LIÇÕES PERDIDAS

O fracasso do "Ele não" não ensinou

E eis que o bloqueio dos recursos federais para as instituições de ensino superior - mais tarde desbloqueado - levou ao bloqueio da Avenida da Universidade. A medida do MEC - mais tarde revertida por conta da repercussão nacional e do dano a campanha do presidente no segundo turno - mexeu com os brios das comunidades universitárias. Natural, legítimo, porém, pouco estratégico. Os jovens que fecharam o trânsito na tarde de sexta-feira barraram automóveis, motocicletas, ambulâncias, carros de polícia e ônibus, aquele meio de transporte no qual circulam trabalhadores ao final do expediente - um pessoal em alguma medida indeciso quanto ao voto no segundo turno. O protesto tinha uma causa, mas para tantos presos no engarrafamento, nada além de um imenso aborrecimento. A militância foi para casa ou bar da esquina comemorar o ato. A turma dos ônibus e dos carros de passeio atrasou o regresso, se aporrinhou. Os votos de quem estava na rua estão garantidos. São jogo jogado. Já os sufrágios de quem estava de fora talvez não entrem. O fracasso do "Ele Não", em 2018, não parece ter ensinado muito aos estudantes bem intencionados como falar para além deles.

NOVOS GOVERNOS

Tinder de profissionais para o setor público

Ao tempo em que governadores eleitos ou em disputa no 2o turno pensam na formação de novas equipes ou na continuidade e aperfeiçoamento das equipes atuais, bem como nas conveniências de coligações, a ONG Vetor Brasil oferece a plataforma Central Vetor, a conectar pessoas candidatas interessadas em trabalhar em governos, recrutadores(as) e vagas no setor público. É uma espécie de Tinder dos profissionais do setor público. Onde nao houver um apadrinhado e um servidor, ha vaga. Os recursos para a manutenção vêm sobretudo de fundações parceiras, como Itaú Social, Fundação Lemann e Fundação Arymax, mas também recebe doações individuais. A meta inicial da Central Vetor é selecionar dois mil profissionais que ficarão disponíveis na plataforma e poderão trabalhar em cargos de média gerência em governos de todo o Brasil a partir de 2023.

BALANÇO

Mulheres aumentam participação em 18% no Congresso

O Instituto Alziras fez um balanço parcial da representatividade feminina no Congresso Nacional. Conforme o levantamento, a participação feminina é 18% maior em relação às eleições de 2018. Das 91 deputadas federais eleitas, 32% são negras . As mulheres foram as mais votadas em sete estados (SC, RN, SE, GO, PA, AC, MA) e no Distrito Federal. Em 2018, 77 deputadas federais foram eleitas. E mais: 32% das deputadas federais eleitas são pretas ou pardas, 4% indígenas e 64% brancas. Pela primeira vez a Câmara Federal terá duas deputadas transsexuais . A deputada federal eleita Erika Hilton (PSOL - SP) foi uma das dez mais votadas no estado de São Paulo e Duda Salabert (PDT - MG) foi a terceira mais votada em Minas Gerais.

CRÉDITO

CAF empresta US$ 130 milhões a Juazeiro e Itapipoca

O Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) assinou na terça-feira contrato com o município de Itapipoca no valor de US$ 50 milhões (R$ 259 milhões pela cotação do dia). O dinheiro se destina a obras de mobilidade, saneamento, parque linear, pontes e infraestrutura de escolas e centros de saúde. Os desembolsos serão feitos até 2027. Já na quarta-feira, o Plenário do Senado deu ok para operação de crédito externo de até US$ 80 milhões (cerca de 400 milhões pelo câmbio de sexta-feira) entre Juazeiro do Norte (CE) também com a CAF. O senador Júlio Ventura Neto (PDT) - suplente de Cid Gomes (PDT) - foi o relator. Dinheiro para financiamento parcial do Programa de Saneamento e Infraestrutura Urbana de Juazeiro do Norte.

CANETA NA MÃO

Eleições amolecem coração dos bancos federais

A campanha para o segundo turno acende o coração bondoso dos bancos federais e o BNB anuncia descontos de até 95% para liquidação à vista de dívidas. As condições miram os 700 mil clientes em toda área de atuação do Banco, que compreende nove estados do Nordeste e parte de Minas Gerais e Espírito Santo. Somente no Ceará, podem ser beneficiados com descontos cerca de 113 mil clientes. Ja a Caixa Econômica Federal lançou a campanha "Você no Azul", que oferece até 90% de desconto para regularização de dívidas. A Caixa estima renegociar até R$ 1 bilhão em dívidas. A maioria dos clientes possui, em média, até R$ 5 mil em dívidas. Mais de 80% podem liquidar débitos por até R$ 1 mil.

HORIZONTAIS

À Chinesa - Dia 13 abre a concessionária local da chinesa BYD. É uma bandeira do Grupo Carmais, da família Ventura. Fica na Barão de Studart, dividindo CEP com a Sanauto, a primeira do grupo.

Tem que correr - Acontece hoje a Corrida da Unimed Fortaleza. Leva a Beira Mar cerca de três mil inscritos, entre atletas e amadores. Começa a partir das 5h30min, com categorias 21km, 5km e 10km. A corrida tradicional acontece desde 2006.

Na veia - O Simpósio Medicicor, ontem no Hotel Mareiro, reuniu médicos de Cirurgia Vascular e Endovascular. Trata de doenças carotídeas, aneurismas periféricos, da aorta torácica e abdominal, doença obstrutiva periférica, entre outros. Já em relação às doenças venosas e linfáticas, discussões sobre trombose venosa profunda, tratamento endovascular das obstruções venosas, flebologia estética, linfedema e acessos venosos. Afora tudo isso, injeta na veia da cidade turistas com poder de compra.

Seguro - As indenizações pagas pelas seguradoras, assim como suas receitas, permaneceram em alta de dois dígitos no acumulado do ano até agosto. As indenizações, benefícios, resgates e sorteios cresceram 21,4% (para R$ 149,3 bilhões no ano), ante o mesmo período de 2021. Os dados constam da nova edição da Conjuntura CNseg, publicação da Confederação Nacional das Seguradoras.

Dois barris, duas medidas - "Bolsonaro vai continuar usando a Petrobras, a maior empresa do País, como cabo eleitoral, manipulando preços de combustíveis, de olho nas eleições?", indaga o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, referindo-se à decisão anunciada pelos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep ) de redução de 2 milhões de barris por dia na produção, o que diminui a oferta e pressiona os preços. Não é assim la muito diferente do que o Governo Dilma Rousseff (PT) fez. A retenção de aumentos provocou aumento da defasagem do preço dos combustíveis no mercado nacional em relação ao mundo, em detrimento da Petrobras.

Pitty - A cantora e compositora Pitty, com 45 anos completados na sexta-feira, dia do compositor brasileiro teve a música "Na sua estante" como a mais tocada dela no Brasil, nos últimos 10 anos, isso nos principais segmentos de execução pública de música. Depois vieram "Me adora" e "Equalize", parceria com Peu Souza. Dados de estudo do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). Pitty e Priscilla Novaes Leone, nascida em Salvador.

Olhos rasos - A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) diz que a rentabilidade do setor bancário não é excepcional, nem está desalinhada com a realidade de outros setores da economia brasileira ou do desempenho do setor bancário em outros países. Nas palavras da Febraban, nos últimos anos, a rentabilidade do setor vem caindo e a concentração diminuindo. Cita: entre as mil maiores empresas do Brasil, conforme levantamento feito anualmente pelo jornal Valor Econômico, os bancos ficaram em 18º lugar na rentabilidade setorial no ano de 2021, ou seja, outros 17 setores foram bem mais lucrativos que os bancos. Comovente. Os juros do cheque especial chegam a 128%.

Ataque - Na manhã deste sábado (8) a Record News sofreu um ataque hacker e saiu do ar. Houve muita oração.