Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará
Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará
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A decretação da falência da Livraria Cultura encerra uma agonia. Outrora mais do que uma loja, mas um centro de convivência para quem gosta de livros e de gente, a Cultura sucumbiu diante de uma série de razões. Pelo menos uma delas a afligir todos os demais segmentos do varejo. Decerto, para além de qualquer outra razão, o comércio eletrônico foi determinante. A Cultura chegou a ter 29 lojas (19 da Cultura e 12 da Fnac Brasil), 5 milhões de clientes e mais de 9 milhões de produtos. O epílogo da Cultura acontece no momento em que o rombo da Americanas escasseia as linhas de crédito para todo o setor, vide o desarranjo da Marisa.
Mas, tal qual não fazia sentido incendiar os teares para conter a revolução industrial, tampouco o faz agora satanizar o varejo virtual. Ontem pela manhã, na rádio O POVO-CBN, horas antes do martelo batido pela falência da Cultura, o sócio-diretor da Gouvêa Malls, Luiz Alberto Marinho, conversava sobre o falso mito loja física versus lojas eletrônicas. Noutros termos, em vez de atear fogo, entender os sinais de fumaça.
Marinho alerta para a transformação do consumidor, hoje comprando de forma diferente. "Tem um movimento rápido de alguns operadores mais estruturados no Brasil construindo seus ecossistemas fazendo a gestão da venda ativa, trabalhando o ON e o OFF ao mesmo tempo". Como sabemos, o consumidor não precisa ir à loja física. Como bem lembra, ele pode começar a comprar pela web, ao receber uma oferta pelo whatsapp, passando na loja para ver o produto, depois pesquisando preço pelo computador.
Em suma, um processo de modernização do varejo. Quem não compreender e agir ficará para trás. Marinho adverte: o momento é de mudança e muitos não conseguirão fazer a transição. Grandes e pequenos.
SARAMAGO
Trecho da decisão de 12 páginas do juiz da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, Ralpho Barros Monteiro, na decretação da falência da Livraria Cultura: "É notório o papel da Livraria Cultura, de todos conhecida. Notória a sua (até então) importância, e não apenas para a economia, mas para as pessoas, para a sociedade, para a comunidade não apenas de leitores, mas de consumidores em geral. É de todos também sabida a impressão que a Livraria Cultura deixou para o Prêmio Nobel de Literatura José Saramago, que a descreveu como uma linda livraria, uma catedral de livros, moderna, eficaz e bela. Mas a despeito disso tudo, e de ter este juízo exata noção dessa importância, é com certa tristeza que se reconhece, no campo jurídico, não ter o Grupo logrado êxito na superação da sua crise".
JOSÉ LOUZEIRO
A Cultura vinha em processo de Recuperação Judicial (RJ) desde 2018, mas não conseguiu dar conta do que acertara com a Justiça. Para o juiz, ficou evidenciado que faltou esforço para o seu soerguimento, em conduta oposta ao que se destina a legislação. "Registro ideia crucial, de todos conhecida: a recuperação foi pensada para socorrer apenas os devedores que realmente demonstrarem condições de se recuperar, posto que o seu processamento deve amparar somente devedores viáveis", disse o juiz.
PEDRO HERZ
Uma família judia alemã a fugir do nazismo, apaixonada por livros, alugou obras em alemão e passou a vendê-las. Tempos depois, também CDs, DVDs e outros produtos Além da compra de outras operações,como a Fnac Brasil e a Estante Virtual. Em suma, esta é a família Herz, de Kurt e Eva, pais de Pedro Herz, o presidente do Conselho de Administração da Livraria Cultura, depois de deixar a gestão direta. Em Fortaleza, podia ser visto tomando café na loja da avenida Dom Luís com Virgílio Távora. Quando alguém pedia a ele uma dica de livro recém-lançado, ele dizia algo como: lançamento é qualquer livro que você ainda não leu. Ele escreveu "O Livreiro". Com 240 páginas, o livro conta a história da família, da Cultura e da vida dele. Mesmo tendo carro, mesmo antes da crise andava de ônibus por São Paulo. Seguia nas palavras dele o princípio KISS - Keep It Simple, Stupid (Conserve a coisa simples, idiota). Sobre a leitura, dizia: "Se você não lê, como é que você quer que seu filho leia? Não temos o exemplo do ato de ler".
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