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Facções e mãos invisíveis
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Redator do blog e coluna homônimos, diretor de Jornalismo da Rádio O POVO/CBN e CBN Cariri, âncora do programa O POVO no Rádio e editor-geral do Anuário do Ceará

Facções e mãos invisíveis

O terror gerado pelas ditas facções não é de ontem. Já habita bairros da periferia e aparece em pichações de muro e placas. As autoridades têm o mapeamento. Na Capital e Interior. Mas estrelas e mapas mudam de lugar, o que mostra que a ação não pode começar nos estados. O papel do Governo Federal é determinante, mas nem Bolsonaro e tampouco Lula, até agora, avançaram na questão
Tipo Opinião
Fortaleza, CE, BR -10.08.23  Briga entre facções no Grande Pirambu terminou com três carros incediado na Av. Leste Oeste   (Fco Fontenele/OPOVO) (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Fortaleza, CE, BR -10.08.23 Briga entre facções no Grande Pirambu terminou com três carros incediado na Av. Leste Oeste (Fco Fontenele/OPOVO)

Pela complexidade adquirida pelas chamadas facções criminosas no Brasil, é injusto mirar apenas nos governos estaduais ante o cenário pavoroso vivido, ou melhor, sobrevivido, por tantos cearenses hoje. Até porque a tragédia não é local, tampouco nacional. É, no mínimo, continental.

Diante disso, os governadores, secretários de segurança, comandantes de quartel e delegados falam o que podem. Anunciam intolerância a ataques, reforços nos efetivos, operações de saturação e tudo o mais o que houver à mão. Mão. Os governos erram nela quando tratam o problema como pontuais. Mão. Eles precisam da ajuda federal que vem em momentos de crise, mas depois apenas abanam.

O terror gerado pelas ditas facções não é de ontem. Já habita bairros da periferia e aparece em pichações de muro e placas. As autoridades têm o mapeamento. Na Capital e Interior. Mas estrelas e mapas mudam de lugar, o que mostra que a ação não pode começar nos estados.

Na caverna do maniqueísmo onde ainda estamos, o bolsonarismo mira no PT. No Ceará, põe o quadro na conta de Lula, Elmano e Camilo, a tríade vitoriosa das eleições passadas. É do jogo. Quem tem a caneta obriga-se a ter bom manejo e boa escuta. Contudo, os críticos não recordam que o crime organizado encontrou uma nova forma de agir no governo do capitão.

Armas foram compradas legalmente por laranjas ou por criminosos com extensa ficha criminal que se registraram como colecionadores, atiradores ou caçadores, os chamados CACs. Bolsonaro abriu uma porteira para o lobby da bala em 2019 e em 2020. Decretos alteraram o Estatuto do Desarmamento. O acesso a armas de fogo mais potentes foi facilitado, bem como a munições e ao porte. Mirou na pretensa liberdade do cidadão de atirar e facilitou a vida das facções criminosas.

As engrenagens exigem ação federal e internacional. Não serão a Coin, o BPChoque, o Cotam, a Ciopaer, a Draco ou qualquer outra sigla dessas que aparecem nos programas policiais capazes de resolver. Estas fazem o que dá. Agem no varejo para oferecer "sensação de segurança". Assim como na sensação térmica, não mexe no termômetro, só na sensação.

A mão. Quando o Ceará ousou montar uma polícia com fundamento comunitário, o extinto (à francesa) Ronda do Quarteirão, meteu a mão no bolso e pôs muito dinheiro nos carros, mas o sucesso não viria dos 4x4, mas do modelo. O Rio pensou ter resolvido com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Deu em Amarildo.

A quinta-feira em chamas do Pirambu assustou a Cidade sobretudo por uma imagem. Uma mulher indefesa sendo expulsa de seu automóvel por bandidos que logo em seguida despejaram combustível e incendiaram o veículo. Naquela hora, a Cidade que fala com desdém dos "outros bairros" sentiu empatia. Viu-se ali, como não se vê nas famílias expulsas de casa pelas mesmas facções. E foi dormir torcendo para que a Polícia resolva por lá mesmo.

Filme "Carandiru" é exibido no Canal Brasil(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Filme "Carandiru" é exibido no Canal Brasil

A ORIGEM

Carandiru deveria ter ensinado

Drogas são muito rentáveis. A cocaína em especial. Há mercado consumidor e logística. Isso explica o vigor financeiro das facções criminosas. Elas são muitas. Nasceram alimentadas por um discurso de quem hoje é vítima, o autodeclarado cidadão de bem. O alimento veio do modo pelo qual a sociedade decidiu que iria tratar seus detentos. Optou por uma sobrepena, ao desistir de quem foi para os presídios. As masmorras deram o cimento para o discurso da defesa dos presidiários ao pleitear condições melhores. Era estopim para o business. Gerar receita por meio de assaltos a bancos e tráfico de drogas e de armas. Os altos índices de crimes de morte (CVLIs, na linguagem tecnicista e desumanizada das estatísticas) se devem a elas. Carandiru deveria ter ensinado.

FROM SOBRAL

Grendene tem lucro líquido de R$ 84,7 milhões no trimestre

Entre abril e junho de 2023, a Grendene registrou lucro líquido recorrente de R$ 84,7 milhões, aumento de 15,4% ante igual período em 2022; a receita bruta caiu 8,6%, para R$ 586,2 milhões. Foram vendidos 26,8 milhões pares de calçados, escorrego de 15,4%; enquanto a receita bruta por par cresceu 8,1% em função, principalmente, do reajuste de preços realizado no mercado interno. O segundo trimestre não foi muito diferente do que os primeiros três meses deste ano, declarou o diretor Financeiro e de Relações com Investidores, Alceu Albuquerque. O cenário doméstico desafiador e o desaquecimento da economia mundial foram o sabão na calçada. O Ceará participa dessa festa com a parte com menor valor agregado, a manufatura. 

Horizontais

Manual ficou velho - O "manual dos pronunciamentos oficiais em casos de tragédias" já pede uma nova edição. Os grupos focais de pesquisas qualitativas já dizem isso há tempos. As pessoas reagem já nas campanhas eleitorais de TV dizendo "nenhum presta, tudo igual, tudo repetido"'. Leia os posts oficiais e compare.

Peço licença - Nos anos 1990, ainda no começo das campanhas eleitorais mais midiáticas, com marqueteiros geniais, era comum ouvir aquele povo candidato pedir licença "aos irmãos cearenses" para entrar em suas casas e dar sua mensagem. Nada que um cearense médio não pudesse responder: "Dou não". Alguns com um complemento: "Pedro Bó"

Vento a favor - A Aeris Energy, líder na fabricação de pás eólicas na América Latina e com produção no Compelxo do Pecém em Caucaia, com seis mil empregados, registrou R$ 91,3 milhões de EBITDA ajustado no 2T23, um crescimento de 36% em relação ao mesmo período do ano passado. A receita operacional líquida (ROL) foi de R$ 854,6 milhões, um aumento de 2,8% quando comparado ao 1T23.

 

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